Dia do Servidor: A rotina de Ana e os desafios do trabalho nas UTIs do Hospital Universitário

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“Eu escolhi estar aqui, o meu paciente não”. É com isso em mente que a técnica de enfermagem Ana Flávia Fillus vem trabalhar todos os dias, em uma jornada de 12 horas por dia na Unidade de Terapia Intensiva Adulto do Hospital Universitário da UEPG, e ainda assim consegue manter o bom humor e o sorriso no rosto. 

Ana conta que chega no trabalho sempre muito alegre. “A gente está aqui fazendo o bem para os outros. Então eu sempre venho muito animada e tento dar o meu melhor pros pacientes, que não têm culpa de estar aqui”, garante. E essa garantia transparece no bom humor com que ela transita pela UTI, conversando com os colegas, e no carinho com que trata os pacientes. 

A enfermeira coordenadora das UTIs Adulto, Fernanda Ribas, ressalta essa personalidade marcante de Ana, que faz a diferença no atendimento e no relacionamento com os colegas. “A Ana é uma profissional com uma personalidade forte, extremamente comprometida, proativa, competente e honesta. Seus pacientes sempre são impecáveis, atende com muito cuidado e paciência a todos”, elogia. 

Carinho e atenção

O segredo, segundo a técnica de enfermagem, é tentar manter a saúde mental, mesmo em um ambiente que mantém os nervos à flor da pele. “A gente dá risada, ajuda, trabalha, tenta animar o paciente junto. Às vezes, a gente até canta no meio da UTI, para alegrar os pacientes. É preciso ter esse lado, para conseguir trabalhar nesse ambiente que é tão estressante. Há alguns dias, estávamos com uma paciente com necessidades especiais, bastante agitada, eu liguei no desenho e fiquei assistindo junto com ela”, exemplifica.

Mas nem tudo são flores no atendimento aos pacientes críticos. A rotina demanda uma atenção redobrada, já que a situação de cada paciente pode mudar de uma hora para outra. “Por ser paciente de UTI, paciente crítico, nós temos que estar muito atentos a cada mudança de sinais vitais. Tem plantão que é sossegado, mas tem plantão que parece que passou um furacão, em que tudo acontece ao mesmo tempo”, explica Ana. A rotina dos técnicos de enfermagem inclui a conferência dos sinais vitais, banho, cuidados, medicações. Carinho e atenção constantes, para garantir o melhor atendimento, sempre. 

“Tem casos que ficam na lembrança da gente por muito tempo. Não tem como ir pra casa, pendurar os problemas e esquecer”. Por isso, Ana se apóia na fé, como forma de consolo, tentando não absorver as situações difíceis. “Eu faço muita oração: pelos pacientes, pelo hospital, pelos colegas, para que todos os dias sejam dias bons”, diz. 

Orgulho de ser Hospital Universitário

“Eu amo trabalhar aqui. Parece que é minha casa, também. É gratificante você trabalhar num lugar onde o ambulatório funciona, onde a UTI funciona, onde teve a Covid, que foi uma coisa nova pra todo mundo e o pessoal se uniu para fazer dar certo”, explica, orgulhosa. Para ela, todas as conquistas do Hospital têm um sabor especial, de pertencimento. 

A primeira vez em que Ana chegou para o trabalho no então Hospital Regional foi em 04 de março de 2013. No início, ela trabalhava na Clínica Médica, depois passou pela Seção de Materiais Médicos, UTI Covid e, agora, UTI Adulto. 

“No começo, quando cheguei, era até engraçado”, rememora. Havia um número pequeno de atendimentos, e o tempo livre era destinado a fazer treinamentos e capacitações da equipe. Ana relata que alguns meses depois de sua contratação, no final de 2013, o hospital se tornou universitário, o que mudou drasticamente a rotina, com mais atendimentos e especialidades, além da oferta de residências médicas e multiprofissionais. “Eu sempre falo que pra população, o HU é um presente, porque tem tudo aqui no hospital”, se orgulha a servidora.

Um novo desafio e um inimigo invisível

A experiência na ala destinada aos casos de infecção pelo novo coronavírus teve início com um convite no início da pandemia: a coordenadora da UTI, Fernanda Ribas, viu a experiência de Ana e a chamou para compor a equipe do setor. Ela conta que não pensou duas vezes, aceitou na hora e só pensou nos pacientes que precisariam do atendimento. 

Relembrando os quatro meses em que atuou na ala Covid, Ana conta que a expectativa do início da pandemia trazia tensão para a rotina e, com o aumento dos casos, a tensão foi abrindo espaço também para a tristeza. “É a tensão de você querer salvar, fazer algo pelo paciente. Então você acaba esquecendo do vírus. Não que a gente se descuide, mas você esquece que está ali no perigo”, explica. 

“Na hora você é forte, mas isso tudo vai ficando no teu inconsciente e chega uma hora que você não aguenta. E foi isso que aconteceu comigo”. Além do impacto emocional da rotina dentro da UTI, o cansaço físico e a distância da família fizeram com que Ana chegasse ao limite de estresse e retornasse aos atendimentos na UTI comum. 

Momentos difíceis

“No mês passado, em setembro, eu perdi meu pai”. Após um acidente vascular cerebral (AVC), o pai de Ana foi transferido para a UTI do HU, onde passou 11 dias, até falecer. “Eu não cuidei diretamente, mas eu estava o tempo inteiro perto dele, e isso foi muito importante para mim”. 

De profissional para familiar de paciente, Ana viu seu ponto de vista mudar drasticamente. Mas, segundo ela, isso só reforçou o carinho que tem pelo Hospital e a certeza da qualidade do atendimento. “Nós temos um atendimento maravilhoso aqui. Não é porque eu trabalho aqui, não é porque meu pai precisou de atendimento”, garante.

“O paciente interna aqui e tem tudo: psicólogo, médico, fisioterapeuta, dentista… Ele é atendido por uma equipe. E o que pode ser feito, eles fazem”. Ana reforça a gratidão dela e da família ao carinho e respeito com que foi tratado o Seu Helvio. “Eu vi o carinho que eles tratavam meu pai, como a gente trata a todos que estão aqui, independente de qualquer situação”, lembra.

Texto: Aline Jasper | Fotos: Aline Jasper, Luciane Navarro e Arquivo Pessoal


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