UEPG inicia ano letivo de 2023 com diversidade e acolhimento a alunos

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A Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) iniciou o ano letivo de 2023 mais inclusiva e plural. Nesta quinta e sexta-feira (09 e 10), a instituição organizou atividades de acolhida nos dois Campi para os 1642 calouros. Sorrisos de orelha a orelha, abraços de boas-vindas e olhares alegres justificam: as aulas começaram de maneira diversa. Dos mais de mil novos alunos, 987 são mulheres, o que representa 60,1% dos calouros. As atividades foram organizadas pela Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Prae) e aconteceram nos dois Campi, com programação de manhã até a noite. A programação de acolhida segue a partir desta segunda-feira (13), com atividades organizadas pelos Setores e Centros Acadêmicos.

O dia começou com recepção nos auditórios. Dentre as pessoas sentadas, estava Juliana Mielke. Era o segundo dia como aluna de Medicina, oficialmente. Para que o momento chegasse, a caloura estudou por três anos seguidos. O momento da sonhada aprovação chegou como surpresa. “Foi muito doido. Eu estava com minhas gatas e achava que não iria passar, porque pelo cálculo que fiz da nota de corte achei que não teria como”. Mesmo desacreditada, assistiu à transmissão ao vivo do resultado, promovida tradicionalmente pela UEPG. “Mas aí anunciaram meu nome e eu pulei no chão, minha gata pulou comigo, liguei pra minha mãe e não conseguia falar, porque estava chorando, e meus pais acharam que a casa estava pegando fogo”, recorda.

Para Juliana, parece que a ficha ainda não caiu. “Fiquei muito tempo estudando, estuei muito pra fazer Medicina e viver esse momento ainda é muito doido pra mim”. Curitibana recém-chegada a Ponta Grossa, as mudanças são difíceis para Juliana. A caloura está dentro do espectro autista e, para começar oficialmente as aulas, teve uma preparação que começou dias antes. “Vim na segunda-feira conversar com a Prae e depois passei para conhecer o Campus com a minha mãe, porque eu tenho muita dificuldade com mudanças repentinas e fiz isso pra eu me acalmar”, explica.

A caloura estava com um cordão de girassol, utilizado por pessoas com autismo e outras pessoas deficiências ocultas. O acessório é um lembrete a todos: que o tratamento seja respeitoso, compreensivo, inclusivo e humanizado. A premissa do cordão se fez realidade na UEPG, para Juliana. “Recebi um apoio muito grande [da UEPG] e isso realmente me deixou muito feliz, porque eu nunca tive um apoio pedagógico nem nada, e antes de começarem as aulas já começaram a falar comigo”. Teve até conversa com a Prae por aplicativo de mensagem com figurinhas de gatinhos. “Eu amei, porque tenho hiperfoco em gatos”, relata.

O acolhimento também foi físico. “Eu gostei do Campus, porque ele é grande, mas é silencioso, tem muita árvore e cachorros, e eu amo bichos”, sorri. Juliana faz parte dos 11 acadêmicos com deficiência que se matricularam após aprovação da nova política de cotas da UEPG. “Tudo isso me impactou, porque eu não esperava que teria um acolhimento tão grande para pessoas com deficiência. Isso me tranquilizou muito, porque mudança de cidade e de rotina é muito difícil pra mim e parece que na UEPG não vou ter tanto problema”. E o futuro após a formatura? Juliana já tem planos. “Quero ou seguir na área de neurologia ou psiquiatria, para ajudar pessoas com autismo, como eu”, completa.

Acolhimento também é palavra de vida de Ana Ambrósio. Acadêmica do terceiro ano de Enfermagem, ela se considera uma filha querida da UEPG. “Desde o início [da graduação], me senti acolhida pela Prae, eles me abraçaram, é uma família mesmo”. Ana mora na Casa do Estudante e possui Bolsa Permanência, oferecidas pela Universidade. “A Casa é um ambiente super tranquilo e seguro e a Bolsa é um auxílio muito grande pra realizar o curso, na alimentação, vestuário e produtos que eu precise para o meu curso”. Segundo Ana, é importante que alunos ocupem espaços na instituição e desfrutem das oportunidades. Como incentivo, ela deixa um recado aos calouros: “A Pró-Reitoria, apesar de ser um nome meio burocrático, é super acolhedora. Vocês podem e devem ocupar esses espaços que são destinados para nós. Por isso, é sempre importante estarmos atentos às oportunidades que a Universidade tem a nos oferecer”, finaliza

Coletivo acadêmico

Debate também foi a palavra da vez nas atividades de acolhida. Um grupo de alunos organizou conversou sobre a possibilidade de organizar um coletivo acadêmico para alunos com deficiência. Aluno do segundo ano de Medicina, Guilherme Augusto da Rocha está no espectro autista e tomou a inciativa para unir colegas a favor da causa PCD na instituição. “Tive essa ideia pela preocupação minha de proteger os alunos, para que eles permaneçam na Universidade, além de manter como um exemplo para as outras instituições”, explica.

Segundo Guilherme, o coletivo irá conscientizar toda a comunidade universitária sobre pautas de acadêmicos PCD. “A deficiência não é uma questão de parar, mas sim de adaptar. Não escolhi nascer assim e isso não é algo ruim, é algo normal e deve ser encarado dessa maneira por todos”, enfatiza.

A UEPG aprovou, em agosto de 2022, a nova política de cotas, em que divide vagas em 5% para candidatos com deficiência; 5% para candidatos que se autodeclarem negros; 10% para candidatos que se autodeclarem negros oriundos de Instituições Públicas de Ensino; 40% aos candidatos oriundos de Instituições Públicas de Ensino; e 40% destinadas à concorrência universal.

A nova política dá a oportunidade à instituição de se adaptar aos novos tempos, segundo a pedagoga da Prae, Iomara Favoretto. “Isso passa também por um processo de adaptação da Universidade pela diversidade, para mudanças metodológicas e flexibilizações necessárias dentro do processo pedagógico, além da necessidade de acompanharmos quais são as necessidades de cada indivíduo”, explica. O número considerável de acadêmicos PCD fortaleceu a demanda por um coletivo que atendesse demandas específicas. “Assim, eles poderão dialogar sobre apoio e permanência, para que eles possam oferecer discussões, estudos, conversa e terem visibilidade. É um direito conquistado que os trouxeram até a Universidade, então que o espaço também lhes favoreça”, informa.

Boas-vindas

Para a pró-reitora de Assuntos Estudantis, professora Ione Jovino, a Prae buscou fazer um evento mais acolhedor em 2023. “Aconteceu com informações pontuais, mas com potencial para tornar o primeiro contato dos estudantes com a Universidade um momento marcante”. A acolhida institucional recebeu parcerias de órgãos e cursos. “Serviu para promover momentos e experiências de exploração do que pode ser feito na Universidade, como cursos de línguas, atividades de extensão e pesquisa, além da participação no movimento estudantil”, informa.

“É uma alegria muito grande para a Universidade, porque este é um momento em que ela se renova e é também a nossa crença na renovação do país”, destaca o reitor da UEPG, professor Miguel Sanches Neto. A chegada de novos alunos abrem a possibilidade de um novo futuro, segundo o professor. “Teremos novos profissionais, comprometidos com esse novo país que todos nós devemos construir a cada dia que a gente se levanta. Então é um momento de festa para a UEPG”.

O pró-reitor de Graduação, Miguel Archanjo de Freitas Junior, também destaca a diversidade dos novos alunos. “Quando a gente olha um auditório com uma significativa quantidade de mulheres, pessoas negras e de diversas opções de gênero, nos deixa muito alegres, porque vemos que a Universidade está se consolidando enquanto espaço democrático”. Para ele, o ano letivo de 2023 é a retomada de um ano sem pandemia. “É uma geração que venceu e que vem pra Universidade em uma situação de normalidade, então estamos todos felizes por esse momento”, finaliza.

“O que eu percebi foi que os estudantes estavam ansiosos por esse momento da Acolhida presencial. Era visível a animação deles”, descreve a diretora de ações afirmativas e diversidade da UEPG, Marcela Teixeira Godoy. “Tivemos um evento organizado de estudante para estudante, tivemos depoimentos de estudantes, mães de estudantes participando junto, atividades culturais e mostramos um pouco do que a Universidade oferece”. A acolhida foi de pertencimento aos estudantes, segundo Marcela. “Percebi nas saídas que fizemos do Campus Central para mostrar o Campus Uvaranas que todos já eram grandes amigos”. O formato mais informal permitiu com que professores, diretores de setor e coordenadores de curso conversassem com os estudantes de maneira descontraída e acolhedora. “Com certeza, muitos vínculos saudáveis começaram a ser construídos na acolhida. É assim que a Prae se alinha à gestão de uma Universidade pública, gratuita, segura e de qualidade”, finaliza.

Texto: Jéssica Natal | Fotos: Aline Jasper, Jéssica Natal, Gabriel Miguel e Maurício Bolette


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