UEPG sedia primeiro 1º Simpósio Interamericano Perspectivas Sobre Alimentação

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A alimentação como direito fundamental é tema do 1° Simpósio Interamericano Perspectivas sobre Alimentação. O evento aconteceu nesta terça e quarta-feira (30 e 31), organizado por pesquisadores da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), pertencentes ao Núcleo de Pesquisa Questão Ambiental, Gênero e Condição de Pobreza. O evento aconteceu de modo híbrido, com apresentação de trabalhos e mesas redondas, promovido pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais Aplicadas da UEPG.

Cerca de 120 acadêmicos e pesquisadores do Brasil e da América Latina se inscreveram para o Simpósio. O evento surgiu a partir de pesquisas sobre insegurança alimentar, como relembra a coordenadora do evento, professora Mirna de Lima Medeiros. “O Núcleo já tem 17 anos de existência e desde sempre houve a preocupação em trazer discussões sociais e pesquisas relevantes para a sociedade, as quais podem servir de instrumento a políticas públicas para mitigar problemas na sociedade”, conta.

A discussão específica do grupo sobre insegurança alimentar iniciou em 2017, quando a equipe estudou sobre hábitos alimentares de catadores de material reciclável em Ponta Grossa. Mas a pandemia agravou a fome na região. “Nos questionamos como estava essa situação em Ponta Grossa, então resolvemos desenvolver uma pesquisa de forma voluntária no Núcleo e escolhemos a população que foi atendida com benefício eventual de alimentos, pela Prefeitura Municipal de Ponta Grossa”, adiciona. A pesquisa, publicada em março deste ano, apontou que 97% de famílias atendidas pelo Centro de Referência de Assistência Social (Cras) ficaram em situação de insegurança alimentar durante a pandemia. O estudo ainda identificou que 76% das famílias estão em condição de extrema pobreza – especialmente em lares chefiados por mulheres.

“Com essa preocupação de sempre retornar à sociedade as questões que conseguimos levantar, fomos até a Prefeitura fazer uma entrega oficia do relatório e discutimos a importância de levar estudos para além do nosso Núcleo”, ressalta Mirna. A partir da entrega da pesquisa, o grupo teve a ideia do evento. “O que, a princípio, seria uma reunião, foi se ampliando para além das nossas fronteiras e hoje temos participantes de outros países, como México, Peru, além de outras regiões do Brasil”, comemora.

A ideia do Simpósio, segundo a professora, é disseminar o conhecimento e estimular o debate entre Universidade e sociedade. “Nossa expectativa é que o evento tenha sido rico em discussões, impulsione novos projetos e traga novas ideias e, quem sabe, estimule novos programas e políticas, para que a gente possa ter um projeto de desenvolvimento sustentável, em parceria com a Universidade”, completa.

A importância de levar o conhecimento para além dos muros da Universidade também é essencial para o reitor da UEPG, professor Miguel Sanches Neto. “Este evento demonstra a relevância da Universidade Pública em um cenário brasileiro e internacional. A instituição tem que fazer a diferença também para aqueles que não tiveram e não terão a oportunidade de chegar aos bancos do ensino superior”, aponta. O projeto do Núcleo de Pesquisa Questão Ambiental, Gênero e Condição de Pobreza concilia a função de pesquisa com a ação transformadora da extensão, segundo o reitor. “A UEPG é a demonstração de que a Universidade pode e deve fazer a diferença das pessoas, principalmente aquelas que estão em maior vulnerabilidade”, salienta.

“Este evento é muito importante, porque mostra a relevância da Universidade para a graduação, pós-graduação, comunidade e extensão”, afirma o pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, Giovani Marino Fávero. Para ele, o estudo publicado neste ano pelo grupo mostra que Ponta Grossa é uma cidade rica, mas que tem ainda pessoas que precisam de ajuda. “Todo esse trabalho da Universidade mostra publicamente que é possível mudar políticas públicas a partir de um ato de pesquisa e extensão”.

Participantes

Além de palestras e mesas redondas, o evento lançou o livro ‘Catadores(as) de Materiais Recicláveis, (In)Segurança Alimentar e Cidadania: Uma discussão para além da teoria’, publicado pela Editora UEPG e a primeira pesquisa sobre insegurança alimentar em Ponta Grossa. Os alunos que participaram das pesquisas sobre a fome no município também receberam um certificado de participação no projeto. A professora Édina Schimanski, pró-reitora de Extensão e Assuntos Culturais, destaca que discutir sobre  insegurança alimentar na Universidade auxilia em projetos futuros. “Não tem como pensar no futuro da humanidade se você não conseguir resolver problemas básicos como a fome. A pandemia só agravou algo que já vinha acontecendo, então há sempre a necessidade da Universidade contribuir com políticas sociais”.

Participar de uma pesquisa sobre a fome não foi fácil para Édina e o grupo. “Sempre realizei pesquisa UEPG, mas de qualquer forma, foi a pesquisa mais desafiadora que realizei, pois é muito difícil entrevistar uma pessoa que está passando fome”, diz em lágrimas. Para ela, foi duro discutir objetivamente sobre a pesquisa com alguém em vulnerabilidade. “Quando falávamos com uma pessoa que estava sentindo na pele, no corpo, a fome, era muito complicado. Era muito difícil ver que a pessoa não tinha comida”.

O clamor das famílias entrevistadas na pesquisa chegou ao poder público municipal. Tatyana Denise Belo, secretária da Família e Desenvolvimento Social de Ponta Grossa, ressalta que a insegurança alimentar é uma dos pontos principais da pasta. “É importantíssimo esse contato com a Universidade, justamente para trazer ações efetivas na política pública, para execução de fato e atendimento à população”. Segundo ela, o município já tinha o planejamento de implementar políticas públicas para sanar a fome, “mas essa pesquisa foi importante para termos dados e pensarmos em ações efetivas para executar de fato programas e serviços em relação à insegurança alimentar”, finaliza.

Informações completas sobre o evento podem ser conferidas aqui.

Texto e fotos: Jéssica Natal


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