Aparecido Benedito Paulino já foi militar, auxiliar de inspeção federal, balanceiro, almoxarife. Ele, que fez tantas coisas na vida, hoje, é vigilante patrimonial e se descobriu artista. O encontro entre o vigilante e arte aconteceu no prédio histórico da Pró-reitoria de Extensão (Proex) da Universidade Estadual de Ponta Grossa, onde ele tem três coisas de que gosta, o trabalho, a convivência com outros servidores e, claro, aulas de pintura.
Visitantes, estudantes e servidores que chegam na Proex recebem sempre um caloroso “bom dia”, “boa tarde” ou “boa noite” de Seu Aparecido. “Ele é uma das pessoas mais gentis que conheço, sempre nos cumprimenta com um sorriso amável”, diz Rossana Stori Moletta, professora do curso de Pintura e Desenho da Proex e colega de trabalho de Aparecido.
Apesar de completar 70 anos no próximo dezembro, está há pouco tempo na UEPG. 
Natural de Carlópolis (PR), Seu Aparecido veio para Ponta Grossa em 1957, com apenas 7 anos. Ele é casado, tem uma filha e dois netos. Em 1997, após doze anos como vigilante patrimonial em uma fábrica local, Seu Aparecido se aposentou. Esse foi apenas o começo de uma nova vida profissional: ele ficou mais seis anos na fábrica. Entre 2003 e 2006, Seu Aparecido ficou em casa, mas pela necessidade de cuidados médicos para sua esposa, voltou a trabalhar.
Em 2006, Seu Aparecido entrou na UEPG pela primeira vez. Em regime de contrato especial temporário, passou a trabalhar como vigilante na Fazenda Escola. O contrato acabou em 2008, mas tinha certeza de que voltaria, dessa vez para ficar. “Adorei trabalhar na Fazenda Escola e na UEPG, era isso que eu queria para a minha vida”, lembra.
No concurso realizado em 2009, veio a aprovação. “Estudei bastante e me dediquei muito”, conta. Enquanto aguardava a sua nomeação, ele trabalho como vigilante em uma rede local de supermercados. Com quase 61 anos, Seu Aparecido assumiu a vaga em 2011 e entrou definitivamente para a família UEPG como vigilante patrimonial. Nos seus primeiros quatro meses como servidor, trabalhava no turno noturno da vigilância no campus Uvaranas. Em seguida, foi transferido para o antigo prédio do Patronato UEPG, próximo à Mansão Vila Hilda.
“Eu sempre quis trabalhar na UEPG e especialmente na Proex”, conta. “Em 2015, o falecido Valdevino, que era o vigilante que trabalhava na Proex, estava prestes a se aposentar e me recomendou para a pró-reitora e para o chefe da vigilância”, lembra. Após três anos no prédio do Patronato, Seu Aparecido foi para a sede da Proex. “Todos me querem muito bem, os professores e os alunos. Eu tô muito feliz”, expressa.
Mas ele não chegou na Proex só trabalhar: desde 2016, Seu Aparecido é um dos alunos dos cursos de Pintura e Desenho, oferecidos pela Proex. As aulas acontecem a poucos metros da sua mesa de trabalho. “Eu já o conhecia por trabalharmos juntos, de repente, uma grande surpresa, o Seu Aparecido se matriculou na minha aula”, comenta Rossana Stori Moletta, colega de trabalho, e, agora, professora de Aparecido no curso de Pintura e Desenho da Proex.
“Sempre ocupando o mesmo lugar da sala, ele se mantém empenhado, ávido em aprender e produzindo muito, nunca mais parou de participar das minhas aulas”, conta Moletta. “Desde então temos uma relação próxima de colegas de trabalho, de professora e aluno e de amigos. Um amigo que está sempre pronto a ajudar, ouvir ou simplesmente sorrir. Amo muito esse querido amigo”, confessa.
Do outro lado do corredor de onde ele faz suas aulas de desenho e pintura, está a Galeria de Arte da Proex, onde ocasionalmente você pode encontrar as obras de Seu Aparecido. “Eu participei de umas três ou quatro exposições já e vou continuar fazendo as aulas”, promete. Em razão da pandemia, Seu Aparecido está afastado. Assim que tudo passar, você poderá encontrá-lo na sua mesa, ou quem sabe as suas pinturas, nas paredes da Proex.
Texto: William Clarindo Fotos: Arquivo pessoal