O motorista que entrega sorrisos: conheça Laudelino Ferreira

Compartilhe

Os corredores do Hospital da Universidade Estadual de Ponta Grossa (HU-UEPG) ganham uma nova vida quando Laudelino Ferreira passa por eles. Não há uma pessoa que não o cumprimente ou que, pelo menos, vire o pescoço para dar um breve sorriso em sua direção. Motorista há 11 anos no Hospital, ele é atualmente o responsável por carregar as amostras biológicas entre o HU e o Hospital Materno-Infantil (Humai). O ver com uma pequena maleta nas mãos significa que mais um transporte de material vai começar. Mas uma coisa ele transporta com mais frequência, para todos os lugares: o sorriso.

O tempo pandêmico não permite que se veja os dentes em evidência no ato de Laudelino sorrir. Mas os olhos entregam. As rugas causadas pela idade dão ênfase aos olhos, quando ele gargalha. “Não é que estou feliz, eu sou um cidadão feliz”, responde ao ser perguntado se o sorriso que acabou de dar era de felicidade.

O Hospital ganhou Laudelino logo quando as atividades começaram e o concurso público para motorista foi lançado. “Quando surgiu a oportunidade de fazer o concurso, eu me interessei. Fiz a prova e dei sorte de passar. Até foi uma surpresa, porque não achei que iria passar. Agora já faz 11 anos que estou trabalhando aqui”, conta. Era 7 de maio de 2010 quando Laudelino iniciou o trabalho no HU. O motorista iniciou as atividades quando já estava na casa dos 60 anos.

O novo trabalho trouxe um salto de qualidade de vida para ele. Anteriormente, ele trabalhava como pintor automotivo. Até ganhava mais dinheiro no antigo emprego, mas a estabilidade e o ambiente saudável de trabalho são inegavelmente superiores agora, segundo o motorista. “Passo aqui, todo mundo me cumprimenta, tenho bons parceiros de trabalho, o tratamento que recebo dos colegas é ótimo. O ambiente todo aqui é muito bom”, ressalta.

A vida sempre foi de muito trabalho para Laudelino, que fazia todo o possível desde criança, como bicos de engraxate. Mas a caminhada nunca o deixou para baixo. “Meu único trauma foi não vender sorvete quando criança”, brinca. O trabalho atual lhe deu mais conforto e estabilidade. Quando chegou a Covid-19, o servidor foi afastado do trabalho presencial, já que ele pertence ao grupo de risco. “Isso foi muito bom para mim, demonstraram respeito com a minha integridade e minha saúde”. Mas o afastamento não lançou fora o medo de se contaminar. “Tive medo de ficar doente, me cuidei bastante, quase não saía de casa”, relembra.

Com a vacinação, Laudelino pôde voltar ao trabalho em segurança. O retorno à rotina trouxe novidades. Laudelino agora cumpre expediente no Humai e se desloca até o HU para levar as amostras biológicas. Quando surge outra atribuição durante o dia, Laudelino está pronto para ajudar. “Agora eu vivo assim, levo materiais entre um hospital de outro, cerca de cinco vezes ao dia, das 19h às 7h”.

Enquanto levava mais uma amostra para o HU, Laudelino encontrou colegas de trabalho. A equipe estava a caminho de outras funções, mas parou para cumprimentar o motorista sorridente. “É um senhor que sempre está sorrindo, é alegre, contador de piadas e contador de “causos”. É parecido com o falecido cantor de samba Dicró”, conta Roni Rodrigues, chefe da Seção de Material Médico e Tecnovigilância. “Ele é respeitador e está sempre nos alegrando com suas conversas e risadas. É uma pessoa que todos querem bem pela sua alegria e espontaneidade”, completa. Dentre uma piada e outra, Laudelino conta que está sendo fotografado para esta reportagem. “Cuida bem do meu amigo”, brinca um dos incontáveis amigos que Laudelino fez no Hospital.  “Amo o que faço e acho que de uma forma ou outra eu ajudo as pessoas a se sentirem bem. Esse é o meu trabalho, mesmo que simples, ajuda muitas pessoas”, conta após se despedir dos amigos para entrar no carro.

O motorista, que chegou há 11 anos no HU, viu o Hospital se tornar universitário e se desenvolver como uma instituição de referência em saúde na região. “Vi muita gente entrar aqui, vi o Hospital se desenvolver”, destaca. A maturidade trouxe consigo a experiência e energia para continuar trabalhando, mesmo na casa dos 70 anos. “Olha, com o perdão da palavra, vão ter que me engolir aqui, não pretendo me aposentar tão cedo”, gargalha. Ao se despedir, Laudelino entra no carro, olha para a câmera e faz o que também sabe executar com excelência: sorrir.

Texto e Fotos: Jéssica Natal

 

 


Compartilhe

 

Skip to content