Fescon realiza rolagem de vegetação e se prepara para o início da safra de verão

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A Fazenda Escola Capão da Onça (Fescon), da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), realizou nesta semana a rolagem de vegetação. A técnica, aplicada sobre um mix de plantas específico, visa proteger e preparar o solo para o plantio nos próximos meses, sem o uso de defensivos agrícolas, apresentando-se como uma alternativa sustentável para o cultivo, tratamento e preservação do solo.

Durante o inverno, foram cultivados centeio, aveia preta, ervilhaca e nabo, em áreas que receberão o plantio de culturas típicas do verão. O mix de plantas colabora para o enriquecimento da qualidade do solo, o que diminui a necessidade de adubos. Por serem plantas de palhada e estrutura fechadas, elas protegem o solo e evitam o desenvolvimento de plantas daninhas, o que reduz a necessidade do uso de herbicidas na lavoura. 

A técnica da rolagem, realizada nesta semana, consiste em um rolo articulado, engatado a um trator, que dobra o mix de plantas, recobrindo o solo. A ação cria uma cobertura vegetal fechada o bastante para proteger o solo com nutrientes que irão enriquecê-lo antes do próximo plantio. O coordenador agrícola da Fazenda Escola, professor Orcial Ceolin Bortolotto, explica que a técnica, além de sustentável, é relativamente simples e de conhecimento popular, mas ainda pouco difundida nas propriedades rurais. “Isso aqui é algo que se tem conhecimento há muito tempo, mas que é muito recente a entrada no mercado. Ainda não se tem muito resultado de pesquisa, não tem muito trabalho científico. Esse é o motivo que, por vezes, ainda falta para atrair o trabalho do produtor”.

Outro fator que o professor aponta para o pouco uso da técnica aplicada pela Fazenda Escola é a cultura e a busca por um retorno rápido. “O produtor é imediatista. É difícil de dizer pra ele ‘olha, vamos plantar isso aqui, daqui a cinco anos a tua propriedade vai estar produzindo xis a mais’, exemplifica. Os defensivos agrícolas, por outro lado, apresentam uma resposta rápida, mesmo que a longo prazo possam não ser tão favoráveis. Segundo Orcial, muitos produtores ainda relacionam o uso de defensivos agrícolas ao progresso e modernização do campo. “Se tem essa ideia há muito tempo, com início lá na Revolução Verde. Claro que os defensivos têm a sua importância, mas a gente vêm no sentido de quebrar alguns paradigmas que acabam reduzindo o problema, tanto de doença do solo, quanto de melhora da nutrição, o que reduz adubo e reduz uso de herbicidas”, esclarece.

O mix utilizado

Cada planta do mix cultivado pela Fazenda Escola da UEPG tem uma função importante para a preparação da terra. A espécie de aveia cultivada, segundo o professor Orcial, tem a função de bloquear o solo com sua palhada, reduzindo plantas daninhas. Além disso, ela pode ser aproveitada, tanto na rolagem, quanto de outras formas: “Parte é para grão animal e parte é para proteção do solo”, explica o diretor da Fescon. A aveia e o centeio são gramíneas que protegem o solo por muito tempo, já que mesmo depois da rolagem demoram para se degradar, conferindo proteção física não só contra ervas daninhas, mas também contra a erosão.

Já o nabo foi escolhido por ser uma planta de raiz mais agressiva, agindo como um descompactador biológico. “Ele melhora a ciclagem de alguns nutrientes, melhora a disponibilidade para as plantas e ajuda na descompactação do solo com sua raiz”, comenta Orcial. 

O mix fica completo pela ervilhaca, cuja grande importância é a fixação de nitrogênio no solo. “Tem vários estudos que demonstram que ela oferece nitrogênio, que é fundamental para o desenvolvimento das plantas. Então o pessoal consegue reduzir o uso da ureia, por exemplo, que é a principal fonte de nitrogênio no solo”, explica o professor. A redução do uso da ureia e de outros adubos, conforme aponta Orcial, traz também retorno econômico. “Tendo em vista que o custo hoje está muito elevado, se faz um investimento no inverno nessas culturas e acaba reduzindo a necessidade da intervenção com o uso de adubos depois no verão”.

Outros benefícios

O professor Orcial explica que a cobertura vegetal das plantas, mesmo antes da rolagem, já protege o solo contra pragas. “Essas plantas sombreiam o solo, a maioria dos matos que vêm na lavoura vêm por causa da luz, a semente é ativada por meio da luz. Aqui, como elas crescem, são rigorosas e recobrem o solo, e acabam impedindo a germinação dessas ervas daninhas”.

Além disso, a diversidade e outros elementos do ecossistema são favorecidos com a prática natural. “Aqui tem muita abelha e, além delas, tem inimigos naturais. Eu já trouxe os alunos aqui. Uma pra entender esse mix de culturas e outra pra ver a importância da diversidade. A diversidade de plantas acaba ficando associada também à diversidade de insetos e de outras formas de vida”, destaca o professor Orcial.

A Fescon

A Fazenda Escola Capão da Onça tem extensão de 312,110  hectares e atende alunos do Colégio Agrícola e graduandos dos cursos de Agronomia e Zootecnia da UEPG. Além de ser cooperada da Frísia, a Fescon conta com criação de porcos para venda externa e produz alimento para os Restaurantes Universitários da UEPG, sobretudo o feijão servido nos RUs. “A fazenda escola aqui das estaduais é a maior, e no Brasil está entre as maiores também. Não só pela dimensão mas pela importância econômica também”, salienta o coordenador agrícola da Fazenda Escola. 

Texto e fotos: Cristina Gresele

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