Professora da UEPG reflete sobre legado de projeto sobre educação sexual nas escolas

Compartilhe

Informação sobre o corpo humano sem tabus. É assim que a professora da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Julianne Milléo, descreve seu projeto ‘Conversando Sobre Sexualidade’, que leva informações sobre sexualidade humana para estudantes do ensino fundamental da região. Em 2022, ano de sua aposentadoria depois de 20 anos na instituição, a docente celebra o legado do projeto para o desenvolvimento científico de acadêmicos e conscientização de adolescentes.

Lá no fundo, o projeto de extensão sempre existiu na cabeça e no coração de Julianne. Quando assumiu como professora de Anatomia Humana, pelo Departamento de Biologia Geral, a professora já tinha a bagagem de lecionar para estudantes do Ensino Fundamental e Médio. “Então, eu já conhecia a carência de informações sobre saúde sexual que adolescentes e jovens têm”, relembra. 

O projeto começou oficialmente em 2018, com aval da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Culturais (Proex), mas os primeiros passos iniciaram em 2007, sob o nome ‘Biologia e Cidadania – Oficinas Temáticas’. “Um grupo de professoras desenvolveu, com participação de acadêmicos de Licenciatura em Ciências Biológicas, oficinas didáticas sobre saúde, sexualidade, drogas, educação ambiental e ensino de ciências e biologia, que foram apresentadas em diversas escolas públicas da região”, conta. O projeto avançou e, em 2009, ganhou o nome de ‘Biotemas: um espaço itinerante para discussão de questões sociais, atuais e urgentes’. Nas duas oportunidades, Julianne era a responsável por desenvolver com os acadêmicos oficinas sobre sexualidade.

Quando assumiu a disciplina de Laboratório de Ensino em Ciências e Biologia I, uma das atividades que Julianne propôs aos alunos foi a montagem de oficinas que deveriam ser adaptadas para públicos de diferentes idades. “Os convidados, ao visitarem a Universidade, participavam de diversas apresentações no formato de feira de ciências e um dos temas abordados era  saúde sexual”. 

A sexualidade é um dos pontos de maior interesse no cotidiano dos adolescentes, conforme a professora. “O tema desperta, além de muita curiosidade, dúvidas e nem sempre as melhores escolhas são adotadas. Nesta fase da vida, estar bem informado contribui para formação da identidade sexual do jovem”, explica. Segundo Julianne, alunos que recebem informações corretas nas escolas iniciam mais tarde a vida sexual. “Ao contrário do que pensam os mais conservadores, informações sobre sexualidade fazem os jovens serem mais cuidadosos, escolherem melhor seus parceiros e com frequência bem menor passam por gravidez precoce e infecções sexualmente transmissíveis”, salienta.

O Conversando Sobre Sexualidade, de início, tinha a proposta de ser um trabalho semestral para acadêmicos do 1º ano do curso de Bacharelado em Enfermagem, vinculado à disciplina de Anatomia Humana. Em 2018, uma segunda modalidade de apresentações foi incluída. “Acadêmicos veteranos organizaram uma versão mais sintetizada da oficina, a qual era apresentada em diversas escolas de Ensino Básico de Ponta Grossa”, destaca. 

Segundo Julianne, a participação no projeto auxiliou os acadêmicos na conscientização sobre o papel de educador inerente ao profissional de Enfermagem. “A oportunidade de pesquisar, estudar, ampliar e transmitir o conhecimento estimulou a necessidade de se dedicar para que pudessem realizar uma boa apresentação, gerando ao final um sentimento de satisfação pessoal”, frisa. Mesmo em meio à pandemia e aulas remotas, o projeto continuou, com produção de vídeos curtos e apresentações interativas, além de um blog que disponibiliza o material produzido pela equipe.

Com o projeto, adolescentes foram beneficiados com acesso a informações atualizadas e repassadas de forma agradável, “sem tabus e com oportunidade de tirar dúvidas sem constrangimentos, além da conscientização do próprio corpo e cuidados pessoais, incentivados a serem responsáveis por seus atos e conscientes das consequências”, salienta a professora. O envolvimento de alunos e professores no projeto sempre foi o motivador para continuidade dos trabalhos, segundo ela. “Principalmente frente às lamentáveis manifestações ultraconservadoras, torna-se imprescindível a existência de um espaço seguro para discutir e refletir a importância da educação sexual durante a adolescência”, finaliza. 

O projeto Conversando Sobre Sexualidade continua em andamento e está disponível para convites das escolas de ensino básico público para visita da equipe.

Texto e fotos: Jéssica Natal


Compartilhe

 

Skip to content