Numape realiza eventos sobre enfrentamento da violência contra a mulher

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Durante a Semana de Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar, conjunto de eventos organizados pelo Núcleo Maria da Penha da Universidade Estadual de Ponta Grossa (Numape-UEPG), a violência contra a mulher esteve em pauta. Com mesa-redonda, panfletos, divulgação nos meios de comunicação e intervenções, as profissionais do Numape levaram a conscientização sobre o tema a centenas de pessoas. O objetivo foi demarcar o Dia Internacional de Luta Contra a Violência à Mulher, que estabelece ações em 25 de novembro.

Nos dias 21 e 22, materiais de divulgação do Numape foram colocados nos banheiros femininos dos campi da UEPG. Além disso, aconteceram entrevistas com a equipe do Numape em emissoras de rádio e de TV local. Na quinta (24), o Grande Auditório da UEPG recebeu o evento “Ser mulher e interseccionalidades”, com falas das pesquisadoras Ione Jovino e Bruna Alves Lopes. Para fechar a semana, na sexta (25), foi realizada uma palestra para os alunos do Colégio Agrícola Augusto Ribas (CAAR-UEPG) e um evento no setor de Engenharia, Ciências Agrárias e Tecnologia, com o tema “Relacionamento em tela”.

“Levar a discussão da violência de gênero para o maior número de pessoas possível impacta diretamente nos índices de violência, já que é justamente o acesso ao conhecimento a principal forma de combater o âmago da questão, que é o necessário desmantelamento de uma estrutura patriarcal, que segue violentando, subjugando e matando mulheres”, aponta a professora Nara Luiza Valente, coordenadora do Numape. Por isso, a ideia da programação da Semana foi levar informação sobre violência de gênero e a necessidade de combater a violência contra a mulher para a maior quantidade de pessoas possível, extrapolando o contexto acadêmico e chegando a diferentes setores sociais. “Ações como essa que podem trazer uma transformação social, seja chegando a uma mulher que eventualmente não tivesse a informação, contribuindo com a emancipação dessa mulher; seja chegando em homens que talvez não tivessem conhecimento desse debate e que possam parar um pouco para pensar nas suas próprias atitudes, nas suas ações futuras, em como se dão seus relacionamentos”, completa.

“Gostaria de agradecer e saudar todas as mulheres pretas que abriram caminho para que eu estivesse aqui”. Foi assim que Ione Jovino, pró-reitora de Assuntos Estudantis da UEPG, iniciou sua fala na quinta-feira. Reconhecendo a luta de tantas antecessoras, Ione trouxe os tristes dados da violência de gênero contra mulheres negras no Brasil, além de uma reflexão sobre o tema sob este viés. “O combate às violências contra as mulheres é tarefa de todos nós”, assinala. “Fazer recortes a partir da chave da interseccionalidade é importante para lermos os dados apresentados em relação a mulheres negras. Há fatores e dimensões que só podem ser alcançados e ações que só serão tomadas a partir dessa chave”.

Violências

A cada dois minutos, pelo menos cinco mulheres são espancadas no Brasil. Em 11 minutos, um estupro acontece. Cada 90 minutos culminam em um feminicídio. Por dia, as Centrais de Atendimento à Mulher recebem 179 relatos de agressão (dados do Dossiê Violência contra as Mulheres do Instituto Patrícia Galvão). Essa é a realidade da violência contra a mulher no Brasil, o 5º país em que se mata mais mulheres no mundo.

Os dados que chocam e que fazem pensar refletem a importância de se falar sobre violência contra a mulher. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 70% das mulheres em todo o mundo sofrem algum tipo de violência de gênero ao longo da vida. “Deixar de falar é ser conivente. O papel da Universidade é propor espaços de debate como este”, enfatiza a professora Georgiane Garabelli, que parabenizou o Numape por não se afastar do debate sobre a violência contra a mulher em todas suas facetas. “Ser mulher não é igual para todas”, complementa.

“Quando fui violentada, não existia a Lei Maria da Penha”, conta Andrea Marques, presidente do Conselho Municipal de Direitos da Mulher. Por isso, ela escolheu esta causa para lutar. “Se a sociedade civil não se organizar, a gente acaba perdendo o sentido. É preciso organização, discutir mais, estarmos inseridas nos conselhos”. A lei que estipula punições a atos de violência doméstica contra a mulher é a Lei Maria da Penha (Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006), cujo nome homenageia uma mulher que foi vítima de violência doméstica pelo marido e que se dedica ao combate à violência contra as mulheres.

Machista, eu?

Fazer pensar sobre as violências que replicamos no nosso dia-a-dia, mesmo sem pensar. Esse era o objetivo do projeto de intervenção da estagiária do Numape, Luiza Gaspar Ienke, realizado na sexta-feira (25) no Colégio Agrícola Augusto Ribas.  “Essa atividade foi preparada especialmente para esse momento, em que foi pensado em abordar o tema utilizando elementos da nossa cultura, como as músicas, para sensibilizar os adolescentes”, explica.

“Vai namorar comigo, sim. […] Se reclamar, ‘cê vai casar também”. Sorrisos e olhares nervosos percorreram a sala de aula quando a música começou a tocar. A maioria dos alunos conhecia bem a música. “Não é uma crítica ao cantor, ao estilo da música”, justificou Luiza. A partir da explicação sobre os tipos de violência, quase todos sabiam identificar em todas as músicas apresentadas reflexos de uma normalização da violência contra a mulher. “No geral, a experiência foi positiva, os alunos participaram bastante e demonstraram interesse durante a atividade”, avalia.

Texto e fotos: Aline Jasper


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