No Dia Mundial da Saúde, conheça a pesquisa da UEPG que analisa qualidade de vida em pessoas com HIV

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Como pessoas que convivem com HIV e Aids nos Campos Gerais se relacionam com os tratamentos de saúde disponíveis? É o que pesquisadores da Universidade Estadual de Ponta Grossa estão investigando há mais de uma década. Desde 2011, professores e alunos da instituição avaliam contextos epidemiológicos, biológicos e de qualidade de vida de 1750 pacientes atendidos pelo Serviço de Atenção Especializada e Centro de Testagem e Aconselhamento (SAE-CTA) do município. No Dia Mundial da Saúde, comemorado neste domingo (07), a equipe apresenta os resultados do estudo, que auxiliam na prevenção e atendimento na região.

O projeto é ligado ao Departamento de Saúde Pública da UEPG e tem o objetivo de monitorar os parâmetros de carga viral no organismo, taxa de transmissão e proliferação da doença e interação medicamentosa no tratamento. “A partir do momento em que o paciente começa a tomar o medicamento, vemos se ele vai diminuir as cargas virais, se vai responder ao tratamento e quais as consequências terá com colesterol, triglicerídeos e pressão arterial”, explica o professor coordenador da pesquisa Erildo Vicente Müller. Ele ressalta que, embora o trabalho tenha iniciado há 13 anos, são monitorados dados registrados de pacientes desde 2002.

Os resultados mostram que 30% das pessoas monitoradas tiveram síndrome metabólica, condição que aumenta o risco de doenças cardíacas, acidente vascular cerebral e diabetes. Os dados ainda apontam para o aumento de hipertensão arterial, em comparação com pessoas que não vivem com HIV. “Registramos também situações de neurotoxicidade e diminuição de força muscular. Agora, estamos estudando a procura da Prep, medicamento tomado antes da relação sexual e que prepara a pessoa para um possível contato com o HIV”, explica Erildo. A procura pela Prep aumentou no público jovem, segundo o professor. “Com isso, outras infecções sexualmente transmissíveis estão aumentando, pois o preservativo não é uma barreira física apenas para o HIV, mas também previne gonorreia e sífilis, por exemplo”, adverte.

Interação da universidade com a comunidade

A pesquisa conta com alunos dos cursos da saúde, que trabalham de forma direta com pacientes, além de realizar análise de dados. Rafaela Jacob é aluna do curso de Medicina e relata a importância do projeto para sua trajetória acadêmica. “Por ser aluna do primeiro ano, nós ainda não temos muito contato com os pacientes. Então eu acho que essa pesquisa está ajudando muito no lado humanitário, de enxergar os pacientes para além de casos, ver como isso impacta o dia a dia deles e como podemos ajudá-las”.

“Esta oportunidade abre caminhos para a pesquisa para os alunos”, destaca o acadêmico Gabriel Hito dos Santos. “Eu acho que é o jeito que temos de devolver para a sociedade o que foi investido na gente esse tempo todo”. Para ele, “é importante pra melhorar, mesmo, o cuidado com as pessoas com HIV, tanto em Ponta Grossa, que é onde a nossa Universidade está inserida, mas principalmente no Brasil como um todo”.

O professo Erildo salienta que a aproximação da universidade com os serviços de saúde é fundamental. “Nós fazemos as pesquisas para devolver para a sociedade e nossa pesquisa visa dar devolutiva para o serviço de saúde, para que eles possam intervir. Nosso objetivo é que os conhecimentos produzidos aqui na Universidade e melhorem a vida das pessoas vivendo com HIV e Aids”.

Como acontece o trabalho

A partir do momento em que os pacientes entram para atendimento no SAE-CTA e recebem o diagnóstico de HIV, são acompanhados pela pesquisa da UEPG. A equipe envolvida analisa como o paciente irá se comportar clinicamente com o tratamento medicamentoso e como o HIV fará a resposta inflamatória no organismo, o que faz com que ocorram outros problemas de saúde, como a própria síndrome metabólica.

“Isso a gente consegue entender por meio de intervenção direta com os pacientes, porque vai mudando os comportamentos, vai mudando as formas de entender as relações sexuais e assim por diante”. Segundo Erildo, esse contato direto auxilia no trabalho de prevenção e a melhor forma de abordagem a cada população infectada. “Na pesquisa, a gente pensa numas intervenções, mas elas muitas vezes não dão certo porque a gente não entendeu o que é o pensamento daquela geração para que possamos intervir, por isso acompanhamentos de longo prazo auxiliam, com evidência científica, na condução correta do serviço público de saúde”.

O coordenador do SAE-CTA de Ponta Grossa, Jean Zuber, também colabora na análise de dados da pesquisa. Segundo ele, a parceria é fundamental para dar um retorno para a população que frequenta o serviço. “Conseguimos entender algumas variáveis que são regionais, só nossas. Conseguimos olhar de marcadores laboratoriais para os de adesão do paciente, o que influencia na rotina do serviço”.  A pesquisa ajudou a dar um outro para o serviço, de acordo com Jean. “O HIV traz um peso grande do estigma, e essas pesquisa traz evidências de como a gente pode mudar o atendimento e melhorar a qualidade de vida dessas pessoas”, finaliza.

Texto e fotos: Jéssica Natal


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