Artigo: Serão dois Prontos Atendimentos Infantis

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por Miguel Sanches Neto

A administração de hospitais públicos deve ter como objetivo fortalecer o Sistema Único de Saúde – SUS, para que o acesso seja o melhor possível. Nesta crise pandêmica, o SUS foi revalorizado, pois teve um papel decisivo no combate à Covid-19, seja pelos atendimentos humanizados, pelas vidas salvas ou pela vacinação.

No momento mais grave da pandemia, o HU-UEPG se transformou em um hospital Covid. Isso só foi possível porque fizemos um convênio com a Prefeitura Municipal de Ponta Grossa para assumir o Hospital da Criança, que se tornou materno-infantil – destinado a grávidas e crianças que ficaram mais protegidas contra o vírus em uma estrutura à parte. Desde então, este convênio esteve em vigor. Sob a administração da UEPG, houve uma revitalização daquele espaço histórico – que passou a ter uma rotina intensa e diferenciada –, ao ponto de o prédio e seus equipamentos serem transferidos à Universidade por meio da lei Municipal 13.893, de 16 de junho de 2021, aprovada por unanimidade por vereadores e sancionada pela prefeita Elizabeth Schmidt.

Neste período, o Pronto Atendimento Infantil (PAI) funcionava unicamente no Hospital da Criança João Vargas de Oliveira, oferecendo dois tipos de serviço: os abertos (responsabilidade da prefeitura) e os referenciados (responsabilidade da UEPG). O atendimento aberto equivale à função das Unidades de Pronto Atendimento – UPAs, que são a entrada para o SUS de todas as demandas, principalmente dos casos mais simples, que não precisam de atenção hospitalar urgente.

Os mais graves nos são encaminhados pelas UPAs (via Central de Leitos) ou pelo Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência). Esta estrutura está assim organizada no Brasil todo. Atenção básica é responsabilidade das prefeituras. Atenção especializada, do Estado com apoio da União. A atenção especializada é dividida por regionais nos estados. O Hospital Universitário Materno Infantil (Humai), desde que o Hospital da Criança veio para a UEPG, recebe no seu Pronto Atendimento crianças de 3 regionais (3ª, 4ª e 21ª – Ponta Grossa, Telêmaco Borba e Irati – em um total de 28 municípios, com população total de 1.100.000 habitantes).

Vejamos, através dos números, como esta nova abrangência regional do Hospital criou um aumento de procura em nossa porta de entrada. Em julho, atendemos 3.834 crianças no PAI (destas, 92 necessitaram de internação). Já em agosto, atendemos 4.472 crianças – ou seja, 638 a mais.

Estes atendimentos às crianças variam desde situações de emergência, de urgência, pouca urgência e não-urgente, segundo a classificação de risco (método utilizado e obrigatório em todo Pronto Atendimento hospitalar, pois garante a prioridade aos casos mais graves). Neste último mês, batemos o recorde de atendimentos desde que assumimos o PAI em agosto de 2020.

Ressalte-se que isso ocorre porque AGORA estamos atendendo no antigo Hospital da Criança vários municípios, e não apenas Ponta Grossa. É preciso entender que o Hospitalzinho (como é carinhosamente chamado) deixou, por lei, de ser do Município para ser do Estado. E que o Pronto Atendimento do Humai tem que ser referenciado – vir por meio da Central de Leitos do Estado e/ou pelo Samu. E que a Prefeitura de Ponta Grossa deve acomodar, por força de lei, o PAI em estrutura própria (no caso, UPA Santa Paula), para que haja condições de um bom atendimento no hospital da UEPG. Para que o sistema funcione, a UEPG não pode assumir as responsabilidades da Prefeitura nem a Prefeitura as responsabilidades do Estado.

Para quem consegue enxergar, para além das fake News, a real realidade das coisas, o que está em curso é o desmembramento do PAI. A parte que não precisa de atendimento hospitalar imediato ficará na UPA Santa Paula, assim como este atendimento fica nas UPAs dos demais municípios, e os casos mais complexos permanecem no HUMAI. Não se fecha nenhum serviço, mas o PAI se duplica para que o sistema possa funcionar adequadamente e se salvem mais vidas infantis.

Criar o pânico na população, além de gerar oportunismo político, é uma prática sem empatia com mães e pais que já sofrem com problemas de saúde de seus filhos. A nova administração do HU e do HUMAI tudo faz para atender de forma humanizada, sem furar filas, as pessoas que mais precisam de assistência. E está sempre buscando melhorar e universalizar os seus atendimentos.

Miguel Sanches Neto é reitor da UEPG

Fotos: Luciane Navarro

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