

Tudo começou em 2005, quando a professora Édina Schimanski voltou do Doutorado na Universidade de Londres, onde pesquisou a educação ambiental em escolas brasileiras e reconheceu a relação entre condições climáticas com os debates de gênero e as taxas de pobreza da população. Com isso na cabeça e a vontade de criar soluções, por meio do Departamento de Serviço Social, surge o Núcleo de Pesquisa Questão Ambiental, Gênero e Condição de Pobreza, que completou 20 anos no mês de novembro. Atualmente, o Núcleo faz parte do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).
Coordenado pelas professoras Édina Schimanski, Lenir Aparecida Mainardes da Silva, Augusta Pelinski Rahier e Mirna de Lima Medeiros, o Núcleo é responsável pelos estudos sobre meio ambiente, sustentabilidade, migrações em Ponta Grossa e desenvolvimento econômico, com a participação de alunos de graduação e pós-graduação. “A questão da insegurança alimentar é a nossa última grande leva de pesquisa, com estudos realizados durante a pandemia, na Associação de Recicladores do município e o mais recente, que é sobre a insegurança alimentar entre os estudantes da UEPG”, comenta Édina.
Os resultados produzidos pelo Núcleo auxiliam na criação de políticas públicas para que a população possa ter melhores condições alimentares. Durante a pandemia da Covid-19, de 302 famílias atendidas pelo Centro de Referência de Assistência Social (Cras), 76% estão na condição de extrema pobreza e 97% ficaram em situação de insegurança alimentar. Entre os recicladores associados de Ponta Grossa, de 70 participantes, a maioria é composta por mulheres (74%) e 84% dos integrantes estão em situação de insegurança alimentar. Dentro da UEPG, foi constatada a insegurança alimentar de 35% dos estudantes, sendo 14% de forma grave e 56% são mulheres com filhos.
Esses são alguns exemplos de como a pesquisa pode ser representação fiel da responsabilidade social da Universidade ao estabelecer parâmetros para que políticas públicas possam ser formuladas, de acordo com o Pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, Renê Francisco Hellman.
“Nos últimos anos, a UEPG tem consolidado políticas importantes de acesso e permanência dos estudantes, como bolsa permanência e isenção no Restaurante Universitário. O diagnóstico feito pelo Núcleo de Pesquisa Questão Ambiental, Gênero e Condição de Pobreza fornece informações relevantes para nortear essas políticas que vêm se consolidando desde a criação da Pró-reitoria de Assuntos Estudantis e com a ampliação de cotas sociais e raciais”, afirma.
Édina lembra que os resultados da pesquisa realizada durante a pandemia foram apresentados para a Prefeitura por meio da Secretaria de Assistência Social e Secretaria de Agricultura. Os dados foram também base fundamental para políticas dentro da Universidade, através da Pró-reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE).
Internacionalização
Além de ser um grupo importante para Ponta Grossa, sua grandeza atingiu outros países da América Latina para a produção científica em conjunto. O Núcleo de Pesquisa Questão Ambiental, Gênero e Condição de Pobreza faz estudos com a primeira universidade da América Latina, Universidad Nacional Mayor de San Marco (Peru), Universidad del Valle (Colômbia) e Universidad de Lanús (Argentina).
A nutricionista e doutora em ciências da saúde, Violeta Magdalena Rojas Huayta, da Universidad Nacional Mayor de San Marco, do Peru, comenta que a relação com a UEPG iniciou entre 2009 e 2010, através da professora Mirna de Lima Medeiros.
“A professora Mirna é pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em Alimentação e Nutrição Pública (Nianp) da Universidade Nacional Mayor de San Marco desde 2019. Quando Mirna visitou o Peru para um congresso de Sociologia, pudemos compartilhar eventos acadêmicos na Faculdade de Medicina da UNMSM, onde trabalho, e na época pós-pandemia da Covid-19, surgiu a ideia de fazer uma apresentação conjunta na UEPG sobre estudos realizados durante a pandemia que giravam em torno da insegurança alimentar”, explica a pesquisadora.
Segundo Violeta, o Brasil e o Peru possuem muitas semelhanças quando o tema é insegurança alimentar, já que os fatores determinantes são comuns, como os índices de pobreza, desigualdades sociais e econômicas, aumento do preço dos alimentos, fenômenos climáticos, mudanças nas políticas nacionais, entre outros. Ainda de acordo com Violeta, a experiência do programa Feira Verde, da Prefeitura de Ponta Grossa, apresentado na Conferência ‘Experiencias del Programa Feira Verde Municipio de Ponta Grossa, é para o Peru “uma referência e uma alternativa de solução para a insegurança alimentar por meio da geração de sistemas alimentares sustentáveis”, finaliza Violeta.
Liderada pela UEPG, as universidades da Colômbia, Argentina e Peru também realizaram um estudo para mapear a situação de insegurança alimentar entre seus graduandos, com resultado aproximado de 60% dos estudantes das três instituições em insegurança alimentar.
O Pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, Renê Hellman, reforça que quando um programa de pós-graduação estabelece redes de cooperação científica como essa, ele passa a um patamar elevado de qualidade. “A qualidade de produção científica aumenta, porque consegue conectar pesquisadores de diferentes regiões para encontrar soluções para problemas sociais que afligem não somente o nosso país, mas também os países vizinhos, cuja realidade, em muitos aspectos, se assemelha à nossa”, finaliza Renê.
Texto: Erica Fernanda | Fotos: Evento de comemoração de 20 anos: Jairo Cesar (1 ao 7); Arquivo UEPG apresentação na Prefeitura (8 ao 10); Simpósio Interamericano Perspectivas sobre Alimentação: Gabriel Miguel (11 e 12); Reunião com a reitoria: Domitila Gonzalez (13).















