Quilômetros de história: a trajetória de 25 anos de Sidnei na UEPG

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Nascido em Imbituva em 1960, Sidnei Pereira veio para Ponta Grossa com 14 anos e aqui fincou raízes: casou-se, teve filhos e por 25 anos foi servidor da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Mas sua história não se resume a isso, ela tem muita bagagem, viagens e quilômetros rodados com segurança, confiança, amor e amizade.

Sentado na garagem da UEPG em Uvaranas, num banquinho ao lado da sala de descanso dos motoristas, Sidnei conta que a oportunidade de trabalhar na instituição veio através de um tio. O concurso, que custava aproximadamente 10 reais para inscrição, quase não foi feito. “Meu tio me mostrou o anúncio da prova para motorista na UEPG e eu não dei bola, não queria saber, mas depois de muita insistência, me inscrevi”, conta Sidnei rindo da história.

Sidnei fez a prova sem muita expectativa, pois também estava concorrendo em outros processos seletivos, até que, conversando com colegas, descobriu que logo seria chamado para a UEPG. O primeiro dia de trabalho na instituição foi 04 de agosto de 1997 – começava aí uma trajetória de 25 anos no serviço público. “Quando entrei a Coordenadoria de Logística, era na sede central da UEPG, e quando abriu a vaga vim para o Campus Uvaranas, para dirigir micro-ônibus”, relata com um sorriso no rosto. São muitas histórias que ficaram marcadas, principalmente com os companheiros de trabalho, virando até mesmo parceiros de família: “minha filha mais nova vai casar, e é com o filho de outro motorista daqui”, sorri ao comentar. Para ele, trabalhar na instituição foi uma virada de chave na vida, podendo ficar mais tempo com a família, e exercendo seus hobbys: o “pedal”, como ele chama a prática de ciclismo, e viajar de moto com a esposa.

Lembranças

Ao rememorar as viagens que fez, Sidnei conta sobre o momento em que pediram que mudasse de veículo, de micro-ônibus para ônibus tradicional. “Em certo momento, quiseram me passar para o ônibus grande e eu olhava o corredor cheio de cabecinhas encostadas, eu tinha aquelas vidas na minha mão”, fala emocionado. Ele ainda completa: “sentia o peso da responsabilidade mas também o orgulho, pois saiam daqui felizes e animados e voltavam sempre do mesmo jeito” 

A viagem mais longa já feita por Sidnei foi para Goiânia, levando cerca de 40 pessoas, num trajeto em que precisou fazer paradas para descanso, pois teve a partida em Curitiba. Ele conta orgulhoso que, durante a viagem, os passageiros levaram panelas de cachorro quente, sacos de pão e refrigerantes, o que deixou ele preocupado, afinal, muito zeloso, pensava na integridade do patrimônio. Porém, ao final da viagem, ficou surpreso: “não precisei juntar um papel, não tinha um derramado, fui uma aventura que virou exemplo para todos e uma história que eu sempre conto, afinal, de Curitiba à Goiânia, sem uma sujeirinha é muito interessante!”

O motorista se emociona ao falar dos colegas e da relação desenvolvida com eles, principalmente quando a viagem exigia revezamento entre motoristas. “Era muito divertido, fazíamos valer a pena a viagem. Foi bom pra mim e eu acredito que foi bom pra eles também”, fala com a voz embargada. Além do trabalho como motorista, Sidnei e os companheiros foram colegas de turma num curso de Logística. “Me joguei de cabeça, concluí o curso e me surpreendi comigo mesmo, eles dizem que se não fosse eu incentivando não teríamos terminado”.

Com colegas

Em fevereiro de 2023, Sidnei conquistou a sonhada aposentadoria, momento celebrado por ele com emoção, junto a familiares e companheiros de trabalho. Ele conta que um dos colegas, César Luz, em sua despedida, dizia que nem conseguia olhar para ele. “Perguntei o que estava acontecendo e ele só agradecia. Eu não sabia o porquê”. O motivo das lágrimas de César logo veio à tona: ele estava se referindo à uma ação feita por Sidnei para arrecadar fundos para ele iniciar o enxoval para os dois filhos recém adotados. Sobre a ação, o motorista conta que fez uma lista e começou a “correr” ela para os conhecidos, juntando um montante de dinheiro para ajudar na “arrancada da manutenção das crianças”.

Sua estadia pela instituição foi marcante para os colegas, que fizeram uma despedida surpresa para Sidnei em um de seus últimos dias aqui. Os companheiros de viagem relembraram histórias dos trajetos feitos juntos, em que enfatizaram o bom humor e alegria que Sidnei transmite. Ele relembra, em meio a risos, o tio que lhe mostrou a oportunidade do concurso e costuma dizer a ele “e você não queria, hein, agora já são 25 anos!”.

Enquanto recebia abraços e congratulações, Sidnei emocionado falou que a UEPG lhe deu grandes alegrias. Também reforçou que não quer se afastar de nenhum colega de trabalho, que considera irmãos da vida. “Estou saindo bem daqui e já estou sentindo saudade. Pedi aos companheiros que a gente nunca perca o contato”, fala emocionado. O ciclismo, hobby pessoal, que contagiou os colegas a ponto de vários se aderirem ao esporte, rendeu até mesmo um grupo em aplicativo de conversas. “Não quero terminar com nada disso, quero estar em contato o tempo todo, sabendo as coisas, eu quero ter a continuidade com o pessoal que fica aqui, não quero perder a amizade, não rompi laços”, reforça em meio às lágrimas.

A trajetória de Sidnei com a UEPG foi longa, “uma vida toda” segundo ele. Suas duas filhas passaram pela instituição e uma delas já é Bacharel em Farmácia. Ele também já teve a oportunidade de levar a esposa viajar junto em um passeio aberto para a comunidade: “descemos de trem junto com o pessoal da UEPG, foi muito bacana!”, conta. Outras memórias especiais é de ter conhecido o Rio de Janeiro e entrado a 900 metros dentro de uma montanha numa viagem junto com alunos e professores de Geografia. Outra memória é de quando esperava passageiros em um congresso que duraria mais de um dia e ter rodado 100km de bicicleta em Florianópolis. “Comecei a arquivar as viagens que fiz e quando fui sair daqui vi: acumulei uma pilha enorme de registros, foram muitas fotos, comecei a rever, foram tantas viagens com os servidores, é sensacional”, relata.

Antes da UEPG

Sidnei já tinha uma vida dedicada ao trabalho muito antes de ingressar na UEPG. Ele começou a vida profissional em uma metalúrgica, com 15 anos, para ajudar a família. Sua mãe sempre o incentivou a buscar uma profissão, na procura pela primeira oportunidade. Ele tomou gosto por trabalhar e, um tempo depois, conseguiu uma vaga em um jornal como montador, organizando as páginas da publicação antes de ir para a impressão na gráfica. Por oito anos, atuou como diagramador. “Era muito bom, eu gostava bastante. Sempre me dei bem com todo mundo lá”. O trabalho não era sua única rotina: Sidnei, ainda na juventude, aproveitava o tempo livre com os amigos. “Nos anos 80, os jovens da cidade costumavam ir até a Avenida Vicente Machado, bem à tardinha, para ver o movimento do trânsito e dos ônibus até o último deles passar. Assim eu conheci Solange”, conta ele.

A namorada, Solange, logo viraria esposa: em 1986 o namoro evoluiu para casamento. Com a união do casal, vieram novos vizinhos, inclusive um que teve um papel fundamental na história: Joarez, que morava com a esposa logo ao lado e estava em busca de oportunidades de trabalho. “Ele precisava trabalhar e queria algo que tivesse a ver com dirigir. Como eu trabalhava na montagem do jornal, prometi que ficaria de olho nas vagas de emprego que nos enviavam para publicar”, rememora Sidnei.

Certo dia, durante o expediente, chegou um anúncio da vaga de motorista de caminhão em Curitiba. Lembrando do amigo, Sidnei logo avisou, “assim ele teria aquela informação antes de todo mundo, saindo em vantagem”, conta. O vizinho, ciente da oportunidade, foi o primeiro a chegar na entrevista de emprego, no mesmo dia em que a vaga abriu, e foi contratado. Certo dia, o jornal em que Sidnei trabalhava passou por reestruturações na equipe, momento em que ele decidiu que iria procurar outro caminho para o seu sustento: ele queria mais flexibilidade, novos ares. Como forma de gratidão, Joarez retribuiu o favor indicando a ele uma vaga em aberto para trabalhar como motorista na empresa. “Ele me chamou para fazer um teste, para aprender a profissão. Eu dirigia, mas não tinha experiência e fui pra conhecer”, enfatiza, ao contar que o teste deu certo e foi contratado na época.

Sidnei conta que “a empresa tinha a matriz em Curitiba, mas eu, como motorista, nunca estava no mesmo lugar. Às vezes ficava mais de 20 dias fora, sem voltar pra casa”. A rotina puxada para o novo casal: “era o tempo todo fora, Curitiba, Uberlândia, Santos; eu gostava, mas sentia muita falta da família”, explica. Por isso quando era possível Solange o acompanhava nos trajetos, assim a saudade era amenizada.

O trabalho ia bem e as idas e vindas de Sidnei duraram 2 anos, pois logo sua vida teria mais uma reviravolta: sua esposa estava grávida da primogênita do casal, Joyce. Durante a gestação, ele continuou a viajar, mas “quando o parto se aproximou, pedi aos meus chefes que pudesse viajar só para perto, pois queria estar em casa quando minha filha nascesse”, relata.

Quando Joyce nasceu, Sidnei conta que pediu cinco dias para ficar em casa junto à família, mas segurar a filha nos braços mudou tudo: “eu fiquei nervoso, não queria mais viajar pra longe. Conversei com minha mulher, pois queria largar o emprego e ela dizia que eu estava maluco, mas não teve outro jeito, pedi ‘as contas’, eu não podia mais deixar minha filha”, diz ele com lágrimas nos olhos. Sidnei se emocionou também ao relatar que mesmo desempregado não se deixou abalar. “Eu sabia que pra frente surgiria algo. Até mesmo na empresa da qual eu saí, me falaram que quando eu quisesse podia voltar”, fala. “A empresa queria que eu ficasse mas eu disse que não e foi a melhor decisão que tomei, não me arrependo em nada”, complementa.

O momento curtindo a bebê recém-nascida, ajudando a esposa e vivenciando os primeiros momentos da paternidade durou 8 meses, então Sidnei precisou voltar à ativa profissionalmente, mas dessa vez em outra empresa que lhe permitiu estar pelo menos duas vezes na semana junto à família. Nesse meio tempo, entre trabalho e vida pessoal, foi quando Sidnei prestou o concurso público para se tornar um colaborador da UEPG, possibilitando ficar mais perto da família, principalmente com a filha.

Aposentadoria

Agora aposentado, Sidnei diz que não pretende parar. Ele se autodenomina de “Professor Pardal”. Conta que gosta de ver vídeos na internet e tentar aprender coisas novas para fazer em casa. Seus planos também estão animados. “Vou andar de bicicleta, viajar de moto com a esposa e agora vai chegar mais um neto, mais um parceiro, então, tem coisas pra acompanhar”. Não é uma aposentadoria para não fazer nada. “Vou buscar novos projetos e experimentar o que quero fazer. Sempre encontro algo”.

Sobre o que fica da UEPG para Sidnei: é o afeto. “Eu moro aqui perto, passo aqui sempre e vejo tudo isso. É o meu segundo lar”, finaliza com um sorriso no rosto e os olhos marejados.

Texto: Amanda Santos | Foto de capa: Amanda Santos | Fotos internas: arquivo pessoal do entrevistado






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