Famílias de doadores de órgãos são homenageadas no HU-UEPG

Compartilhe

Você pode doar vários órgãos, mas tudo depende do coração. No Dia Nacional da Doação de Órgãos, 27 de setembro, os Hospitais da Universidade Estadual de Ponta Grossa (HU-UEPG) receberam as famílias de doadores para agradecer pelo ato de amor, lembrar a importância de dizer “sim”, mesmo em meio à dor da perda de um ente querido, e homenagear àqueles que continuam a vida em outras pessoas.

No último ano, 16 famílias aceitaram doar os órgãos de pacientes internados no HU-UEPG. Foram 41 órgãos captados, que tiveram como destino salvar vidas de pessoas que aguardavam na fila de espera por transplantes. Cada um é representado por uma folha da Árvore da Vida, em formato de estrela, com corações que representam cada órgão doado. Eles se uniram a mais de 100 estrelas na árvore do HU, que fica no saguão do Hospital em exposição permanente. A cerimônia é realizada desde 2017, sob a organização da Comissão Intrahospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos (Cihdott).

“É um evento para agradecer a essas famílias que transformaram um momento de dor em compaixão”, destacou a diretora geral dos HUs, professora Fabiana Postiglione Mansani. “Um coração sensibilizado é capaz de mover o mundo”.

Na cerimônia, que conta com música e homenagens, um familiar de cada doador é chamado para pendurar as estrelas e corações na Árvore da Vida. A base da árvore tem três raízes, representando o doador, o paciente que recebeu a doação e a equipe hospitalar multiprofissional que realiza o processo de intermediação dessa relação. Tudo fica ainda mais emocionante com a contribuição do cantor Lucas Alem, que participou voluntariamente do evento em todas suas edições.

Um pequeno conforto para quem perde um familiar: saber que outras pessoas continuam vivendo graças aos órgãos doados. “Existe muita vida; vida em abundância. É a vida que segue, dando sentido à existência de outras pessoas, outros pais, outras mães, outros filhos e filhas, maridos e esposas”, resumiu a professora Gisele de Sá Quimelli, que coordena a Capelania dos HUs. Para uma plateia de olhos marejados de saudade e de emoção, ela falou sobre como o transplante de órgãos é, muitas vezes, a única esperança de vida ou oportunidade de recomeço para quem espera. “É um gesto de solidariedade”.

Lidiane Bueno Ferraz da Rocha espera por um transplante de fígado. Sempre que visitava a família do marido, que mora na zona rural, eles lhe perguntavam sobre como estava a perspectiva por receber o órgão. Inesperadamente, o tio do marido ficou internado no HU-UEPG, faleceu e a família aceitou a doação de órgãos. Só por este fato e por ter acompanhado de perto a internação, já foi emocionante, para ela, representar a família na homenagem desta quarta-feira. Mas quando conferiu o coração pendurado abaixo da estrela com as iniciais do tio, a surpresa: o órgão que pôde ser doado foi justamente o fígado. Não tinha como conter a emoção. “Eu preciso de um sim, como esse, de uma família que vai tomar essa decisão quando chegar a hora”, desejou.

Gratidão, palavra que designa o sentimento de reconhecimento por um auxílio ou benefício prestado por alguém, define também o que Lidiane sentiu ao ver todos aqueles corações e estrelas pendurados na Árvore da Vida. “É um ato de muito amor e de vida”, definiu, emocionada.

Quantas vidas?

Se você soubesse que poderia ajudar outras pessoas mesmo após a morte, você ajudaria? No Brasil, no primeiro semestre de 2023, mais de 1,9 mil famílias disseram “sim” para esta pergunta e aceitaram doar os órgãos de seus entes queridos. O número é recorde, quando comparado ao mesmo período dos últimos dez anos, e representa um aumento de 16% em comparação com os meses de janeiro a junho de 2023. Segundo a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), o Paraná é o estado com maior número de doações efetivas de órgãos para transplantes em 2023. Somente no HU-UEPG, o aumento de 2021 para 2022 foi de 77% na captação de órgãos.

Como funciona o protocolo de doação de órgãos e tecidos dentro do Hospital?

O processo é composto por muitas etapas: desde o momento em que se detecta a possibilidade de morte encefálica em um paciente até a efetivação de um transplante de órgãos, são muitos profissionais envolvidos e uma série de decisões tomadas com responsabilidade e respeito. Morte encefálica é nome legal dado ao óbito de um paciente: é a interrupção irreversível das atividades cerebrais.

De acordo com as orientações da Secretaria de Saúde do Paraná, é preciso que a avaliação da morte encefálica seja feita por dois médicos de diferentes áreas, por meio de um complexo protocolo de exames clínicos e exames complementares. O intuito destes procedimentos é eliminar as dúvidas no processo e comprovar que, realmente, não há mais nenhuma atividade cerebral.

Quando se confirma a morte encefálica, o primeiro passo tomado pela equipe é garantir que haja um entendimento por parte dos familiares do que significa a morte cerebral e uma compreensão da situação. É só depois de garantir o controle emocional que se oferece a possibilidade de ajudar outras pessoas por meio da doação de órgãos.

Há um cuidado especial na forma de tratar o assunto, de acordo com o enfermeiro Guilherme Arcaro, diretor de enfermagem do HU. “São utilizadas técnicas para a abordagem da família, oferecendo sempre o apoio emocional e explicando de forma clara como funciona o processo de doação”, explica. “Buscamos tirar as dúvidas e superar preconceitos que são comuns quando se trata deste assunto”. Guilherme destaca, ainda, a importância de comunicar à família o desejo de ser doador e conversar com os familiares sobre essa possibilidade.

Quem pode doar?

Todo paciente de hospital que esteja em morte encefálica é um potencial doador. Segundo a Central Estadual de Transplantes, são contraindicações para a doação de órgãos e tecidos as doenças infectocontagiosas, câncer e infecções graves. No caso de infecções que estejam respondendo a tratamento, é possível doar.

Cada doador pode salvar várias vidas: pode-se doar o coração, rins, pâncreas, pulmões, fígado, além de tecidos como córneas, pele, ossos, válvulas cardíacas e tendões. A determinação de quais órgãos podem ser doados é através de uma avaliação clínica de viabilidade. “Além disso, há um respeito ao prazo máximo pedido pela família para liberação do corpo: órgãos como pele e ossos precisam de mais tempo para retirada”, complementa Guilherme.

Texto e fotos: Aline Jasper


Compartilhe

 

Skip to content