Dia do Servidor: De aluno a diretor, Baretta é símbolo do Colégio Agrícola e da UEPG

Compartilhe

Não há quem, nas últimas décadas, tenha lecionado ou estudado no ‘Agrícola’ e não associe o nome do professor Baretta ao Colégio Agrícola Estadual Augusto Ribas (CAAR). É uma trajetória de respeito, afinal, Alcebíades Antonio Baretta está lá desde fins da década de 70, como aluno do internato. Hoje, depois de ser professor e vice-diretor, está na direção pela segunda vez.

Nascido em Capinzal (SC), Alcebíades sabia desde muito cedo que o seu caminho seria longe da cidade natal. O gosto pela agronomia foi adquirido no seio familiar, graças ao pai, um pequeno produtor rural. O desejo pelo conhecimento na área fez com que o jovem catarinense decidisse, aos 19 anos, largar o trabalho de bancário para realizar um teste seletivo para entrar no curso técnico do Colégio Agrícola em 1978. Após o resultado positivo na prova, veio para Ponta Grossa junto com o primo e começou a residir no internato do Colégio. De família humilde, não podia pagar todas as despesas na nova cidade, então teve que buscar uma bolsa. “Fui aluno interno e bolsista para me manter, meus pais não tinham condição de pagar todas as despesas, na época recebia meio salário mínimo e meus pais tinham que viver lá”, conta.

Já no curso técnico, passou a ser reconhecido pelo sobrenome, que, segundo ele, é mais chamativo que o primeiro nome. “No tempo de estudante me deram o apelido de Baretta porque achavam diferente e também porque não acreditavam que o primeiro nome é Alcebíades. Se perguntar hoje na UEPG quem é o Alcebíades, pouca gente vai saber. Mas, se falar ‘Baretta’, provavelmente vão reconhecer”, expressa.

Trajetória profissional

Depois que terminou o curso técnico do Colégio Agrícola, Baretta queria realizar o desejo de fazer Agronomia, mas por outras circunstâncias não pôde ingressar no curso. “Eu trabalhava o dia todo, minha vontade era fazer o curso, mas não tinha como fazer. Eu já estava casado e tinha filhos. Não era possível. Então, fiz uma licenciatura porque gostaria de trabalhar com educação. Fiz, então, História e pós-graduação em História do Paraná”, explica. O servidor terminou os estudos em 1981 e, nos dois anos seguintes, precisou trabalhar em um banco para prover o sustento familiar. Mas, o banco não era o seu lugar.

Em 1984, o Governo do Estado do Paraná abriu edital de contratação de técnicos para o Colégio Agrícola. Naquele momento, o processo era por indicação. Baretta foi um dos altamente recomendados. No dia 10 de outubro daquele ano, foi contratado como técnico em agropecuária pra dar aulas práticas no Colégio. “Na época eram seis técnicos. Passei em vários setores da matriz curricular: mecanização, conservação de solos, horticultura, avicultura e outras coisas como ajudar na limpeza. Minha função principal era coordenar as práticas dos alunos fora da sala de aula”, lembra.

Quando chegou o ano de 1997, Baretta foi convidado para a vice-direção do Colégio. Em 1º de março de 2005, tornou-se diretor e esteve à frente do Colégio até 2014. Depois de 4 anos na vice-direção, em 2018, na gestão de Miguel Sanches Neto, retornou à direção, cargo que ocupa até hoje.

Carisma e admiração

Sempre preocupado em melhorar o ensino do Colégio, Baretta se tornou uma referência no que diz respeito à simpatia e ao carinho entre os colegas e alunos.

A professora de Produção Animal, Cláudia Nekatschalow, lembra a primeira vez em que esteve no Colégio, em 2004. Ela buscava informações sobre como deveria proceder para trabalhar lá e foi atendida, pelo então, vice-diretor Baretta. “Desde o primeiro momento, sem me conhecer, ele se mostrou muito disposto a ajudar e a me passar informações sobre o sistema do Colégio”. Em seguida, no mesmo ano, houve o concurso para docentes e Cláudia iniciou oficialmente como professora no Colégio.

“Quando entrei, Baretta já era o diretor. Ele sempre apoiou os professores e funcionários na realização de cursos e atividades extracurriculares com os alunos”. A professora ressalta que, além do incentivo, Baretta chama atenção pela personalidade. “Para mim, ele é um diretor justo, correto, direto, e humano, com um coração grandioso. Ele e sua esposa sempre fizeram um grande trabalho com os alunos, com dedicação e doação”.

Formado no Agrícola em 2019, Jackson de Lara descreve como foi para ele conviver com o diretor e professor ao longo do curso. “O professor Baretta é um motivador e espelho para os alunos. Sua trajetória dentro do CAAR já o define de modo completo: uma vida dedicada em ensinar e buscar melhorias para o ensino técnico. Sua simpatia e postura cativa os estudantes, faz com que aprendam o valor da humildade e seriedade na profissão. Falar em Colégio Agrícola é falar em história, e toda história tem seus pilares, no Colégio Augusto Ribas o diretor Baretta certamente é um deles”.

Evelyn Zarpelão, egressa do CAAR, destaca a conduta de Baretta na direção e o seu amor inquestionável pelo Agrícola. “Sempre o admirei como profissional. Ele é justo, honesto e sabia muito bem a forma de exercer sua função como diretor. Escutava os alunos e nos aconselhava, e acima de tudo, sempre teve muito orgulho do nosso Colégio Agrícola”, observa.

Segundo o diretor, atualmente, o Colégio acolhe e prepara para o mercado de trabalho 98 alunos do internato. Dentre os vários alunos que já passaram pelo Agrícola, Baretta diz ficar orgulhoso quando alguns deles retornam para serem técnicos. “É gratificante! Vários ex-alunos já passaram por aqui como técnicos, muitos deles a gente convida pra dar palestra, pra mostrar que o curso tem muitas responsabilidades e que isso os tornam grandes profissionais”, considera.

Testemunha da evolução do Colégio e também da Universidade nos últimos 36 anos, Baretta viu surgir as principais diferenças no modelo de ensino do Colégio. “As leis mudaram bastante. No meu tempo eram outras normas”. Ele comenta que, por volta de 2005, a educação passou por transformações importantes. “Os alunos passaram a ter mais direitos com o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) e o estágio entrou na grade curricular, entre outras coisas”, diz. Baretta acrescenta que hoje há mais orientação. “Mostramos mais exemplos e indicamos os caminhos que eles podem tomar, afinal, é um curso profissionalizante. Somos a família deles aqui”, ressalta.

Lembranças curiosas

Décadas vivendo no ambiente universitário e escolar não poderiam passar sem muitas histórias para contar. Baretta recorda de algumas situações descontraídas e curiosas que viveu ao longo do tempo. “A primeira votação para greve na Universidade foi muita engraçada pra mim. A universidade nunca tinha entrado em greve, seria a primeira vez”. Ele recorda que estava com mais dois colegas nesse dia. “Chegamos atrasados e fomos os últimos a levantar a mão. Por causa, do nosso voto, teve greve. A gente tentou se esconder, mas já tinha acontecido”.

Outra situação que Baretta lembra com carinho eram das festas juninas na Universidade. “Antigamente, na UEPG tinha festa junina. Dentro das festas, havia concursos de dança. Eu e a minha esposa, que trabalha comigo, participamos de um concurso no auditório do Colégio. Vencemos. Ficamos famosos na universidade naquele momento por conta disso”, relembra contente.

Amizades

“Fiz muitos amigos servidores na universidade. Alguns deles até convivo fora do ambiente acadêmico. Isso é muito legal porque a gente se encontra e lembra de muita coisa. Outro dia mesmo, um dos servidores do Colégio me contou que eu fui o primeiro cara que falou com ele na UEPG depois de um tempo, eu nem lembrava disso. Ele disse que eu puxei papo e ele se sentiu acolhido. Fiquei muito feliz por ter deixado uma sensação de bem-vindo”.

Para Baretta, as amizades são essenciais no coletivo e na rotina de trabalho. Acredita que sem amigos não se faz nada. “As amizades abrem portas e isso ajuda a gente a crescer. Às vezes, você não vê o tempo passar, você fica tanto tempo dentro daquilo que naturaliza as mudanças e as pessoas. Mas, a gente tem que parar e perceber a importância das pessoas e dos lugares”, afirma.

Dedicação ao serviço público

“Ser servidor público pra mim é uma honra. Se você fizer as coisas certas, você adquire respeito pelo que faz e consegue reconhecimento. Um trabalho honesto e preocupado com a educação é o que importa. Nós recebemos um aluno como uma folha em branco, que vai ser preenchida por conhecimento e orientação familiar. A evolução dos alunos é o que eu procuro levar como referência para o meu trabalho de servidor, é uma contribuição nossa para dar retorno ao investimento dos pais”, completa Baretta, o servidor que doa sua vida para a educação e o serviço público.

Em entrevista sobre os 50 anos da UEPG, em 2019, emocionado, Baretta disse “o Agrícola não é sua segunda casa, mas a primeira. É minha vida. É meu tudo”.

Texto: Julio César Prado    
Foto da capa: Luciane Navarro  
Fotos da reportagem: Aline Jasper e Julio César Prado

Compartilhe

 

Skip to content