Entre retalhos e histórias: Humai-UEPG recebe projeto lúdico do Nuregs

Compartilhe

O Núcleo de Relações Étnico-Raciais, de Gênero e Sexualidade (Nuregs) trouxe as aventuras da princesa Abayomi para o Hospital Materno-Infantil da Universidade Estadual de Ponta Grossa (Humai-UEPG). Para proporcionar conforto, conhecimento e recreação, o projeto apresenta histórias de países africanos de maneira lúdica, com confecção da boneca com tecidos e contação de histórias em formado de roda de conversa.

Tecidos pretos e coloridos e uma tesoura sem ponta. Foi assim que Indianara Priscila dos Santos iniciou a atividade com crianças internadas. As mãos faziam nós no tecido preto, formando os braços, pernas e cabeça da boneca. Depois, tecidos coloridos davam vida ao vestido, faixas e cabelo. Enquanto Indianara confeccionava a boneca, Eloísa dos Santos, de oito anos, prestava atenção. “Sabia que a história desta boneca tem origem lá do Congo?”, perguntou Indianara. “O Congo é na África?”, perguntou Eloísa. Uma ilustração do continente africano, ao lado da atividade, ajudou a menina a entender onde ficava o país.

O ato de brincar das duas se entrelaçou com a representatividade de bonecas negras e a história de resistência da diáspora africana. Indianara é estudante do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem (PPGEL) e explica que a proposta do projeto é levar novas narrativas positivas, construção de outras imagens sobre princesas e o conhecimento sobre a diversidade africana e a conexão com o Brasil. “É uma possibilidade para a educação antirracista, que deve atravessar todos os ambientes, e não somente nas escolas”, ressalta.

A história de Abayomi tem várias origens – como a de que mulheres vindas de países africanos para o Brasil em navios negreiros, para acalentar seus filhos, cortavam a barra das saias e confeccionavam bonecas. “Também falam que é um modo de se reconectar depois de muitos anos, porque, chegando ao Brasil, cada um ia para um lado e o que eles tinham um do outro era só essa boneca”, conta Indianara. O projeto do Nuregs se baseia na história que se passa no Congo. Depois de um reino ser invadido, pessoas foram amarradas na árvore de Baobá, entre elas a princesa Abayomi. Ela consegue se soltar e salvar seu povo, com a ideia de amarrar na árvore bonecos com tecidos de roupas. Quando os invasores voltaram e observaram a cena, fugiram com medo.

Importância

O Nuregs, desde a sua criação em 2010, sempre realizou ações em bairros e escolas. “A proposta que levamos ao Humai nasceu do projeto ‘Nas Teias de Ananse’, que é sobre narrativas africanas, afro-brasileiras e indígenas, desde 2019”, explica a coordenadora do Nuregs, professora Ione Jovino. A ação busca ampliar espaços de atuação. “É importante que desde cedo tenhamos contato com diferentes matrizes culturais, isso nos educa, educa nosso olhar para a diversidade, para o respeito, para a quebra de estereótipos e padrões hegemônicos de representação”.

O fato do Nuregs levar projetos para o ambiente hospitalar é o resultado da política de abertura dos Hospitais Universitários para aproximação dos cursos de graduação da UEPG, conforme ressalta a diretora geral, Fabiana Postiglione Mansani. “Nós da direção fizemos visita em vários setores do conhecimento, levando informações sobre o Hospital e convidando professores a desenvolver projetos de extensão e pesquisa junto conosco. E esse projeto já é resultado das nossas visitas”, destaca.

Para Indianara, é um desafio diferente levar conhecimento para o ambiente hospitalar – primeiro, tem que perceber se a criança quer participar. “Quando chegamos na escola, as crianças já são mais incentivadas a fazer, mas aqui a atividade é mais qualitativa do que quantitativa”, conta. A atividade no Humai sempre vem acompanhada de conversas e brincadeiras, para envolver o paciente e deixá-lo à vontade. “Sempre somos muito bem recebidos aqui, porque trazemos uma atividade diferente, que entretém e educa”, completa.

Texto e fotos: Jéssica Natal


Compartilhe

 

Skip to content