UEPG e Hospital Universitário criam ambulatório multiusuário de reabilitação

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A Universidade Estadual de Ponta Grossa, em parceria com o Hospital Universitário, iniciou nesta segunda-feira (12) as atividades do Ambulatório Multiprofissional de Reabilitação. Como forma de auxiliar no trabalho dos profissionais que atuam no combate à pandemia, o ambulatório tem foco inicial na reabilitação de pacientes recuperados da Covid-19. O atendimento acontece no Bloco G, do Departamento de Educação Física, pertencente ao Setor de Ciências Biológicas e Saúde (Sebisa). O projeto, pioneiro no Brasil, une práticas de reabilitação a um laboratório multiprofissional, com possibilidades de práticas de pesquisa, extensão e ensino.

O ambulatório integra o plano de otimização dos laboratórios multiusuários da Universidade e intensifica a interface entre UEPG e HU em diversos campos. O trabalho conta com a atuação da equipe da Residência Multiprofissional de Saúde do Hospital, profissionais da educação física, psicólogos, fisioterapeutas, nutricionistas, assistentes sociais, fonoaudiólogos, pesquisadores, professores e alunos da graduação e pós-graduação. De acordo com o diretor técnico do HU, Ricardo Zanetti, o projeto é pioneiro na instituição, pois une os serviços de ambulatório e laboratório multiusuários. “O ambulatório irá reabilitar pessoas com diversas patologias, como ortopedia, derrames, AVCs, doenças cardíacas e pulmonares, dentre outros. Já que que hoje o tratamento pós-Covid é mais prevalente, também faremos esse trabalho”, explica. Como informa Zanetti, o trabalho de reabilitação envolve setores do ensino, pesquisa e saúde, o que amplia o leque de atuação das instituições. “Outra área importante que o projeto irá abordar será a reabilitação de atletas de alta performance. É um laboratório multiusuário de tal forma que vários níveis do conhecimento poderão utilizar de maneira simultânea e coordenada”, completa.

O reitor da UEPG, Miguel Sanches Neto, destaca a parceria entre o curso de Educação Física com o HU. “Aqui os profissionais terão um bom ambiente de trabalho, onde aproximará o ensino do HU. Esse sempre foi o nosso objetivo, melhorar assistência e fortalecer o ensino dos nossos alunos”. Miguel aproveita para ressaltar o trabalho das equipes para constituir o novo espaço. “Agradecemos a equipe do HU, que foi parceira, e principalmente o Departamento de Educação Física, que nos recebe. Temos um bom espaço, agradável e arejado, que irá além do Covid. Aqui poderemos atender pacientes com um nível de segurança maior”.

Para o diretor do Hospital Universitário, Sinvaldo Baglie, é fundamental que exista a possibilidade de colocar serviços e ações para a sociedade em um local como o ambulatório. Sinvaldo ainda destaca o acolhimento mútuo entre o Hospital e o Departamento de Educação Física. “No momento em que nós temos a oportunidade de ter um espaço como esse, que terá ações cada vez melhores, poderemos ver o trabalho de formas diferentes. Assim poderemos trabalhar com uma boa formação e novas atitudes em assistência”.

Diretor da Agência de Inovação e Propriedade Intelectual (Agipi) e chefe adjunto do Departamento de Educação Física, Miguel Archanjo também frisa a nova parceria. “São soluções novas para velhos problemas. Essa é uma grande ação em prol da sociedade, no espaço dos nossos sonhos, que talvez poderia ficar fechado”. Segundo ele, o profissional de educação física é essencial para  manutenção e melhoria da saúde. “Aqui temos a possibilidade de trabalhar conjuntamente e mostrar a competência dos nossos profissionais. Ficamos felizes com essa parceria, é um momento que estamos realizando um sonho”.

A diretora do Sebisa, Fabiana Postiglione Mansani, celebra a vinda do ambulatório ao complexo dos cursos de Educação Física. “Representa uma relação extremamente importante entre ensino e serviço, o que oportuniza atendimento à comunidade e também a aproximação do curso de  bacharelado em Educação Física”. Segundo a diretora, os cursos pertencentes ao Sebisa tiveram uma valorização durante a pandemia. “A aproximação do Sebisa com as atividades exercidas pelo HU constituem um ganho na formação acadêmica, atividade extensionista e principalmente em no serviço de atenção à comunidade, principalmente nesse momento de internação de pacientes com Covid-19”.

Reabilitação pós-Covid

O trabalho desempenhado no ambulatório também possibilitará a recuperação de pacientes com sequelas da Covid-19 em um ambiente fora do Hospital, já que até o momento o serviço acontece apenas no âmbito hospitalar, enquanto os pacientes ainda estão internados. De acordo com Juliana Schleder, coordenadora do Programa de Residência Multiprofissional em Reabilitação, o município não possui um centro de reabilitação para um acompanhamento adequado, o que aumenta o tempo de recuperação dos pacientes. “A doença em si e os efeitos do longo período de internamento acarretam sequelas, que podem acometer todos os órgãos e sistemas, como no cardiorrespiratório, neuromuscular, digestivo e fonatório, além do comprometimento psicossocial”, explica.

Com o objetivo de garantir a manutenção da assistência à saúde de forma gratuita e de qualidade, o HU entrou em contato com a Setor de Ciências Biológicas e da Saúde, do Departamento de Educação Física da UEPG, que disponibilizou, temporariamente, um espaço para que os pacientes da alta hospitalar sejam reabilitados e retornem às atividades de vida diária o mais breve possível. Segundo o coordenador do Departamento de Educação Física, Gonçalo Cassins Moreira do Carmo, o espaço garante segurança no atendimento. “O paciente que se recuperou da Covid acabava precisando voltar ao Hospital para reabilitação, o que nesse momento é bastante inseguro”.

O curso de Educação Física desenvolve atividades por meio do Programa de Residência do HU, em parceria com o setor de fisioterapia, na parte da reabilitação motora. “Com a vinda desse espaço de reabilitação, a ideia é poder incluir também os alunos de graduação e os egressos, com a possibilidade de estágio. Associado a isso, abrem as possibilidades de projetos de pesquisa e extensão e trabalho conjunto diversos com cursos”, explica Gonçalo.

Para o coordenador do curso de Bacharelado em Educação Física, Nilo Massaru Okuno, após a alta hospitalar, a independência funcional do indivíduo ainda está debilitada. O paciente pode apresentar dificuldades de ficar em pé, caminhar, manusear objetos de peso um pouco maior, além de precisar usar cadeira de rodas. “O trabalho inicial acontece por meio do fortalecimento neuromuscular, alongamentos e trabalhos de equilíbrio, para depois iniciarmos as atividades que exigem mais da independência funcional, como caminhar em uma esteira ergométrica”, informa.

Nilo ainda explica que o acompanhamento do profissional de Educação Física minimiza o risco para a saúde do paciente, evitando uma prática de exercícios físicos inadequados. “A reabilitação feita pelo profissional de Educação Física diminui o tempo necessário para o retorno às atividades do cotidiano e minimiza o comprometimento cardiorrespiratório agravado pela doença”, completa.

A fisioterapeuta e coordenadora do Programa de Residência em Reabilitação, Thaiza Acosta Rebonato, relembra que o serviço de fisioterapia do HU-UEPG realizava atendimentos em vários ambulatórios antes do início da pandemia, mas com as restrições das medidas de segurança, os atendimentos foram cessados e a reabilitação se voltou aos pacientes internados. “Avaliando o grau de funcionalidade que muitos pacientes apresentavam no momento da alta hospitalar, ficou nítida a necessidade da continuidade dos atendimentos na reabilitação dos pacientes pós-Covid, tanto no quadro respiratório, quanto na função motora, o que juntos comprometem significativamente a qualidade de vida”. Com a infraestrutura disponibilizada no Ambulatório, Thaiza conta que a intenção é retomar as atividades em todos os ambulatórios que já funcionavam antes da pandemia, como pulmonar, cardiovascular, dor crônica, neurologia e ortopedia.

Residentes no atendimento pós-Covid

A equipe multiprofissional do Programa de Residência em Reabilitação do HU-UEPG inicia o trabalho de recuperação de pacientes Covid ainda no ambiente hospitalar. Durante o atendimento, os pacientes passam por uma avaliação e caso se enquadrem nos critérios, a equipe inicia o processo de reabilitação. Para a admissão no tratamento, são levados em conta critérios, como: internamentos prolongados ou que necessitaram de terapia intensiva; quem apresenta comorbidades associadas, como diabetes mellitus, asma e cardiopatas; e quem demonstra alterações significativas nos testes físicos. O protocolo de atendimento tem duração de até 12 semanas, com realização de 2 a 3 sessões semanais.

Rafael Sochodolak, parte da equipe de residência, conta os profissionais da educação física iniciam a sessão com exercícios de aquecimento. Após a primeira etapa, os pacientes fazem exercícios de fortalecimento global para os principais grupos musculares, com duração média de 20 minutos, e exercícios aeróbios de baixa/moderada intensidade de 10 minutos. Ao final, a equipe passa exercícios de alongamento geral, de 5 minutos. “Desse modo, os pacientes terão maior segurança, visto que nosso hospital é referência para casos de Covid-19”, explica.

A fisioterapia também promove a melhora da condição física dos pacientes, com exercícios que são realizados de maneira individual. De acordo com Elaine Becher Santos, residente fisioterapeuta, o principal objetivo do trabalho é restaurar a funcionalidade do paciente. Os exercícios são voltados para atividades diárias, como sentar, ficar em pé e caminhar. “Temos à nossa disposição laser de baixa potência e aparelho de eletroestimulação. Os recursos como luz e corrente elétrica auxiliam durante o processo de reabilitação”, explica.

Além da parte física, a equipe também busca reabilitação na área de fonoaudiologia. Pacientes com disfagia – que é uma alteração no processo de engolir alimentos – passam pela reabilitação com exercícios miofuncionais, vocais e manobras de deglutição. “Ainda não temos dados das sequelas após a alta hospitalar, porém acreditamos que a demanda para atendimento desses pacientes é grande, já que muitos têm sequelas de deglutição, como também na voz e memória”, explica a residente e fonoaudióloga Cintia Conceição Costa. A equipe de fonoaudiologia também reabilita o olfato e paladar dos pacientes, por meio de diferentes recursos terapêuticos.

Texto: Jéssica Natal       Fotos: Aline Jasper

 


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