Riso curativo: Doutores Palhaços iniciam trabalho voluntário no HU-UEPG

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O dia era para se ver apenas parede e janelas. Mas uma mão bateu à porta e, junto com ela, um convite ao sorriso. O Hospital da Universidade Estadual de Ponta Grossa (HU-UEPG) recebeu, na última quinta-feira (14), a visita de Tiburcia e Esparadrapo, do grupo SOS Alegria Doutores Palhaços. É o início das atividades voluntárias para pacientes adultos dos Hospitais. O objetivo do trabalho é o mesmo independentemente da idade – ajudar na cura através do riso.

Quando Micheli Vaz (Tiburcia) e Bruno Madalozo (Esparadrapo) fizeram a primeira palestra com profissionais no fim de junho, para apresentar o trabalho do grupo, um dos pontos foi a diferença de abordagens para pacientes adultos e crianças. Micheli citou que, diferentemente de crianças, o maior medo dos adultos em ambiente hospitalar é o da morte. “A criança, quando está no hospital, tem medo da dor, da injeção e de tudo que pode acontecer neste ambiente”. Com adultos, a história muda, segundo ela. “Ele não tem medo de sentir a dor, mas o medo dele é da brevidade da vida.

O medo do fim da vida bateu na porta de Roseli, paciente que estava completamente deitada na cama, de barriga para cima. As cortinas fechadas e a luz apagada complementavam o silêncio que ela e a colega de quarto faziam, quando um som diferente chegou. “Eita, será que tem alguém aqui? Dona Roseli?”, disse Tiburcia. O encontro dos palhaços com a paciente rendeu lágrimas. Roseli só conseguia chorar depois de ouvir as primeiras palavras da dupla. “Essa é a primeira vez que sorrio depois do AVC”, conta.

Enquanto as lágrimas ainda caíam, a palhaça consolou Roseli. “Tá tudo bem chorar. Às vezes tudo o que a gente precisa é chorar. Se não chorarmos, as pessoas nunca vão saber do nosso limite”. As palavras de consolo vieram acompanhadas de uma caixinha de música que tocava ‘somewhere over the rainbow‘, ao fundo. “Se eu pudesse, te dava um abraço bem apertado agora. Olha nos meus olhos e prometa que você vai se cuidar, igual faria ao amor da sua vida”. O agradecimento de Roseli pelas palavras veio com um sorriso, ainda em meio às lágrimas.

Marli estava com o marido Alceu, ao lado da cama. O cuidado do esposo com a mulher internada era nítido. Quando os doutores palhaços chegaram, ambos ficaram atentos com a visita. “Alceu, filma pra mostrar pra família a música que ela vai cantar pra mim”, dizia. O toque do ukulele de Tiburcia rendeu uma música e olhos atentos do casal para a apresentação. “Aqui a gente fixa tão quieto, sem fazer nada e um barulho nos alegra, nos tira desse lugar um pouquinho”, disse Marli.

Início do trabalho

A visita semanal dos artistas é um recomeço, depois de uma pandemia no meio do caminho. Apesar de ser o início no HU, o trabalho já acontece no Humai há um mês. A chefe da seção de serviço técnico assistencial, Inês Chuy Lopes, relembra que as negociações para trazer os doutores palhaços começaram antes da pandemia. “Aí veio a Covid-19 e nós tivemos que paralisar, mas é com grande alegria que agora iniciamos essa parceria e trazer o trabalho para o HU e Humai é muito positivo”, destaca. O ambiente hospitalar pode ser carregado de emoções não muito boas. “Trazer esse riso, que é curativo, com essa energia de felicidade e a leveza, que o trabalho deles traz, quebra um pouco essa rotina, traz um olhar diferenciado para o nosso dia a dia e contribui para que este seja um ambiente mais saudável e alegre”.

O planejamento é fazer intervenções semanalmente, às quintas-feiras. “É bem diferente da nossa rotina pela quantidade de paciente que tem, pelo movimento e pelo fluxo de pessoas, mas está sendo muito legal, porque estamos sendo muito bem recebidos pela equipe, os pacientes nos receberam de uma maneia muito bacana, o acolhimento do Hospital está sendo muito bom. A gente está no lugar certo, para poder levar leveza para o ambiente”, comemora a doutora palhaça, Micheli. Como o Hospital é grande, as intervenções acontecerão em parcelas em cada setor.

O diretor geral do Hospital Universitário, Sinvaldo Baglie, ressalta a importância de parcerias entre o HU com organizações e empresas. “Este retorno de atividades mais lúdicas são muito importantes e, ao mesmo tempo, demonstram que a instituição está preocupada em fortalecer parcerias e proporcionar um atendimento humano e de qualidade, com um olhar sensível a todos”. Sinvaldo explica que as intervenções ocorrerão com todos os cuidados exigidos em um ambiente hospitalar.   “Parcerias voluntárias como a com a SOS Alegria proporcionam momentos de cura, tanto para os pacientes e acompanhantes, como também para equipes que trabalham incansavelmente no Hospital”.

Em todos os cantos

Música, piadas e uma conversa olho no olho. No Ambulatório Materno-Infantil, enquanto mães e crianças aguardavam a consulta, uma canção invadia os corredores. Os olhares da sala de espera, que estavam atentos aos exames, pelos adultos, e brinquedos, pelas crianças, se voltaram para a dupla. “Quem quer cantar uma música?”, perguntava Tiburcia. A resposta vinha de mães, crianças e até funcionários, que também aproveitaram a visita. “Que bom que vocês estão aqui! Posso tirar uma foto com vocês?”. A pergunta era recorrente entre os profissionais que, entre os trabalhos, também aproveitaram a leveza do sorriso.

A música também faz parte da conversa com os adultos. Nos leitos de UTI, Dona Maria estava internada por conta de uma pneumonia de causa desconhecida. Apesar de estar dormindo, a dupla não deixou de visitar o leito. “Dona Maria, a gente deseja que a senhora se recupere logo e que agora esteja tendo um sonho muito feliz e tranquilo”. Lá no fundo, Marli parecia entender o que era dito. Enquanto os palhaços descreviam para ela como o dia estava ensolarado lá fora e o quanto ela parecia bonita, Marli respirada mais fundo. Como se a paz estivesse se instalado, Marli voltou a respirar com calma, enquanto os palhaços partiram para o próximo leito. Com um sorriso no rosto, o doutor palhaço olhava a cada porta de leito antes de entrar nos quartos. “É muito bom saber que a gente está fazendo a diferença, mínima que seja, para a vida das pessoas, foi muito divertido estar aqui hoje. A gente espera que o nosso trabalho contribua para amenizar a rotina dentro do Hospital”, finaliza Bruno Madalozo.

Texto e fotos: Jéssica Natal


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