Caic-UEPG celebra 30 anos de amor pelas crianças e a educação

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Sonhos. Através da cerca, Bianca Teleska sonhava com o futuro: ser aluna do Centro de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente (Caic). O ano era 1993, e a menina, com então 5 anos, testemunhou cada tijolo ser colocado. Em meses, o planejamento se realizou – a inauguração da primeira escola universitária do Paraná. Nesta sexta-feira (23), faz 30 anos que o Caic é a materialização de um sonho de professores, pedagogos, gestores e crianças. Assim como Bianca, muitos alunos são a prova de que o trabalho, no fim das contas, foi só um: o amor pelas crianças e pela educação.

Bianca morou com os pais na casa onde hoje fica o módulo da Polícia Militar, ao lado do portal do Campus Uvaranas. “O Caic é um local que vi ser construído e inaugurado ao lado de casa. A cada evolução que acompanhava da construção, aumentava as expectativas e a vontade de estudar neste lugar”, relembra. A menina, que fez da UEPG seu quintal de brincadeiras, iniciou logo em 1993 seus estudos no Caic. “Fui até a oitava série [nono ano], mas a vontade era ficar mais se pudesse, pois o Caic foi uma base para quem sou hoje”.

Atualmente servidora da instituição, Bianca lembra de uma apresentação na Feira de Ciências da escola, que foi sobre o Sistema Solar. “Como amei, as professoras capricharam na montagem do nosso estande, a pessoa entrava em um cantinho do ginásio que estava todo coberto de preto com a exposição dos plantas, nós ficávamos lá dentro na expectativa para começar as explicações, eu fiquei muito empolgada com tudo aquilo”. Apesar da mudança de casa, a UEPG permanece sendo um lar para Bianca, desde a infância até a vida adulta. “Todos os ensinamentos que tive no Caic fazem parte do que sou hoje, trabalhar da Reitoria, do ladinho do Caic, aquece o coração e toda vez que passo por aqui as lembranças da infância vêm à tona”.

Debaixo da castanheira, perto do escorregador e balanço, vivia um mago. Érico Ribas cresceu rodeado por histórias mágicas, enquanto estudou no Caic, na década de 90. As aventuras hoje são lembranças alegres. “Atrás do anfiteatro, a gente brincava de Cavaleiros do Zodíaco e na Biblioteca eu sempre lia as histórias da bruxa Onilda”, sorri. Entrar no lugar em que passou todo o ensino fundamental faz bater forte o coração do hoje professor do Departamento de Educação da UEPG. “Aqui é um lugar muito vivo e ter como exemplo o Caic me fez querer trabalhar com uma perspectiva mais humana também”.

Érico lembra das aulas de música, pintura, culinária e línguas, dos Jogos Internos do Caic (Joca) e das Feiras de Ciências. “O Caic tem um processo de educação escolar que é muito mais do que a sala de aula, e mesmo dentro de sala a gente tem algo diferente, sempre com o cuidado do nosso aspecto humano”.  Depois de se formar em Pedagogia pela UEPG e retornar, em 2014, para ser professor, Érico leva o Caic no coração a cada aula o pesquisa que realiza. “Levo sempre do Caic quando vou desenvolver meus estudos, na perspectiva da pedagogia social, que é entender que o ensino acontece em todos os espaços. Passam os professores, mas fica o sentimento muito forte de pensar na parte integral do aluno, e é isso que eu sentia aqui”.

Comemorações

O aniversário foi celebrado com evento e mostra cultural, que iniciaram nesta quinta-feira (21). Durante as comemorações, a programação envolveu palestras na parte da manhã e noite, sob o tema “Refletindo sobre os espaços para realização de pesquisas acadêmicas na graduação e pós-graduação”, no Grande Auditório da UEPG Central. Durante a tarde, alunos organizaram mostras sobre gastronomia, literatura, saúde, artes plásticas e música. Enquanto os pais visitavam as exposições, os estudantes ficavam responsáveis pela apresentação.

Luana Sutil vive a experiência de ser aluna egressa e mãe de dois alunos. Davi, de 09 anos, e Isabela, de 12, participaram das comemorações do Caic, com a visita da mãe. “Eu gosto muito de saber que eles terão boas experiências como eu tive, as minhas professoras são as mesmas professoras deles, os dois gostam muito de estudar aqui. Não tem como não gostar de estudar no Caic”, conta.

A egressa fez parte das primeiras turmas do Caic, em 1993, e leva os valores aprendidos até hoje. “Carrego o respeito pelos professores e pela escola. Aqui eles valorizam muito você como pessoa, a pedagoga sabe o teu nome, sabem quem são seus pais, eles têm um cuidado muito grande com todas as crianças, é um padrão da escola isso”, descreve. Os sorrisos de Luana enquanto via seu filho na apresentação do Coral não escondiam os sentimentos de nostalgia e orgulho. “Eu lembro de cada experiência que vivi nos lugares aqui, em cada pedaço, então quando entro aqui para buscar meus filhos me dá uma emoção no coração. Até quando eu envelhecer vou lembrar do Caic”.

Para quem trabalha, amor

Como escreveu Paulo Freire, “é impossível existir sem sonhos”. Rosiane Silva sabe o que é existir e sonhar. Ela foi uma das pedagogas que ajudou a construir o Caic. Atualmente como diretora geral, ela não esquece daquele primeiro dia de trabalho. “Nós carregávamos os bancos, as mesas, os mobiliários, máquinas de datilografar e os pais entenderam a nossa proposta pedagógica, porque viram nosso propósito”, conta.

O Caic trabalha com base na pedagogia Freinet, que vê a escola por uma dimensão social, centrada na criança, que é vista não como um indivíduo isolado, mas que faz parte de uma comunidade. A base da filosofia de trabalho do Colégio vai para além da sala de aula e busca estimular a sociabilidade, autonomia, expressão, criatividade e comunicação do aluno. Tudo em um modelo de escola de tempo integral, com atividades pela manhã e à tarde. Rosiane pôde viver as dimensões do Caic pessoal e profissionalmente. “Tive o privilégio de participar como mãe de aluno do Caic e, profissionalmente, toda a minha trajetória de estudos é voltada a colégios de aplicação, então mistura muito as minhas questões pessoais, profissionais e afetivas aqui”, explica.

São três décadas de história. Olhar para trás é um misto de sentimentos, para Rosiane. “São muitas lembranças e gratidão por aqueles que nos antecederam, que persistiram com os sonhos. Mesmo com as dificuldades, é um trabalho de muitas mãos”. O trabalho do Caic não vai parar, com o mesmo propósito da sua criação: formar pessoas protagonistas da sua própria história. “Isso se deve a um legado que recebemos e que nós fazemos com muita responsabilidade, estamos na função por causa daqueles que vieram antes”.

Muitas situações se tornam marcantes na vida profissional quando se trabalha com o que ama. Para o professor dos anos iniciais, Marcelo de Jesus Meira, o que marca é observar a evolução dos alunos, a descoberta da leitura e da alfabetização. A sala em que trabalha é rodeada por crianças. Todas com olhares atentos ao quadro, ávidas por aprender novas palavras e números. “O Caic se diferencia das demais escolas pelo fato de propor um projeto pedagógico voltado ao fomento do interesse do aluno, com um desenvolvimento mais amplo nos aspectos afetivos, cognitivos, psicológicos, físicos e sociais”, explica.

Como um professor, uma das atividades é formar. E quando essa obrigação vai para o pessoal? “O momento mais marcante que tive foi a oportunidade de participar, como professor, da solenidade de formatura do meu filho, foi uma sensação incrível, que só é possível para quem confia e acredita no trabalho que a escola realiza”. Para Marcelo, esse é o motivo que move o trabalho: estar em uma escola comprometida com os alunos. “Eu me sinto muito gratificado por fazer parte dessa história, na certeza de que estou contribuindo para o desenvolvimento de nossos alunos, muitos deles retornam para agradecer, após terem conquistado uma vaga no curso desejado, isso nos motiva a continuarmos na luta por um projeto de escola cada vez melhor”.

São 27 anos que Simone Aparecida Schwab da Silva trabalha no Caic como professora de Educação Física. Ela lembra quando chegou no Colégio, entrou pelo portão da frente e desceu a rampa para encontrar as professoras. “Perguntei para alguns estagiários que estavam no pátio, lotado de crianças, pois era o horário de almoço, que me indicaram o caminho. Com tantas lembranças, tenho uma relação afetiva imensa com a instituição”, relata. Para Simone, é um privilégio trabalhar com crianças dos anos iniciais até os adolescentes, ao lado dos colegas da educação. “Olho para trás e percebo que construí grande parte de minha vida nesse espaço escolar, tanto pessoal como profissional. As experiências aqui vivenciadas são reflexos diretos na minha construção pessoal. Sou parte da história dessa escola e essa escola é parte da minha história”.

Por que um colégio de aplicação?

Muito do que existe do Caic hoje se deve ao que começou em 17 de abril de 1960, com a criação do Ginásio Estadual de Aplicação, anexo à Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Ponta Grossa, onde atualmente é o Bloco B do Campus Central da UEPG. O local foi espaço de pesquisas e prática dos alunos de licenciatura até janeiro de 1976, quando o Ginásio foi incorporado ao Instituto de Educação Professor César Pietro Martinez. Com a mudança, os alunos da graduação perderam o campo de estágio.

Apesar da derrota inicial, a vontade de refazer um espaço de aplicação continuou no coração dos pedagogos que viram o Ginásio existir. Lucília Ester Tramontin era uma delas. Após visitas a espaços de práticas pedagógica e muito estudo, ela acompanhou um grupo para reunião com o reitor da UEPG João Lubczyk (gestão 1987 a 1991). “Em agosto de 1987, entregamos ao reitor o Plano Básico para criação de uma escola experimental. A Reitoria então designou que o projeto de construção seria desenvolvido pelo Departamento de Engenharia da UEPG. Tarefa difícil, pois pedagogos, engenheiros e arquitetos pensam muito diferente uns dos outros”, relembra.

Com aprovação do Conselho Universitário, de 01 de setembro de 1987, o espaço físico onde seria construído o Centro Educacional estava designado: no Campus de Uvaranas, em área de 5.698 m² . “O grupo de trabalho pensava num espaço amplo, bonito, arejado, funcional, onde os alunos, professores e funcionários se sentissem bem, em um local agradável de convivência e não apenas nas salas de aulas de uma escola tradicional”, conta Lucília. O grupo definiu que seriam blocos de dois andares – na parte térrea ficariam do berçário até as 4ª série, além das oficinas pedagógicas, laboratórios, refeitório cozinha e espaço de vivência. Na parte superior, seriam as salas de aula da quinta até oitava série e salas administrativas. O projeto foi elaborado pelo arquiteto Roque Sponholz e aprovado pelo Conselho de Administração da UEPG em 27 de dezembro de 1988.

Com o projeto do prédio pronto, o plano pedagógico estava a todo vapor. Foram muitas reuniões para que o Caic existisse como é hoje. “De todas as reuniões das quais participei ao longo de minha carreira profissional, uma ficou marcada em minha memória e me levou a um trabalho do qual muito me orgulho, a do Grupo de trabalho para criação de uma escola para a UEPG”, relembra Lucília.

Três anos depois, o tão sonhado Centro Educacional se tornaria o Caic, conforme conta Mariná Holzmann Ribas. “Para essa transformação, passamos por um processo com fases diferenciadas, umas mais tranquilas e outras mais difíceis, em áreas do saber e na formação do cidadão em todas as dimensões possíveis”, relembra. Com o passar do tempo, o projeto pedagógico ficou mais robusto, especialmente na área da formação e atuação do professor. “Entendemos que é um processo muito mais abrangente e, assim como a aprendizagem de vida, nunca está concluído”, ressalta.

Memórias

“Eu me lembro dos detalhes da cerimônia de inauguração, da presença de diversas autoridades dispostas no pavimento superior do prédio, da faixa comemorativa fixada no mezanino e da movimentação de professores e alunos que aguardavam o início da cerimônia no pátio da escola”, conta a pedagoga Audrey Pietrobelli. Como alguém que acompanhou desde o início, Audrey ainda foi diretora geral do Caic por oito anos. “Isso me transformou profissionalmente, possibilitando a ampliação das minhas concepções de mundo, de sociedade e educação. Foram momentos únicos, significativos e inesquecíveis de uma atuação profissional em uma escola também única”. Para ela, não é exagero afirmar que a história do Caic está entrelaçada à trajetória pessoal e profissional de muitos da UEPG. “É o comprometimento dos profissionais que atuam no Caic, somado aos esforços da reitoria em buscar recursos e melhores condições de trabalho, que possibilita que a UEPG mantenha um projeto educacional dessa envergadura, cumprindo seu papel social”, completa.

João Carlos Gomes, reitor da UEPG por três gestões e atual professor do Departamento de Odontologia, lembra quando foi até Brasília para viabilizar o Centro Educacional da UEPG. Era 1991 e o prédio ainda não estava finalizado. Na oportunidade, foi recebido pelo ministro da saúde, Alceni Guerra. “Ele me perguntou qual o motivo de minha audiência, marcada para aquela tarde. Eu respondi que precisava de uma ajuda dele, para interceder junto ao Ministro da Educação o recursos financeiros para a implantação do Centro Educacional na UEPG”.

Para que o pedido fosse concedido, foram muitas viagens para a capital federal. O motivo era nobre: a UEPG era a única Universidade que participava do Projeto Federal de construir dentro do seu Campus uma escola de tempo integral. “Foi muito gratificante ver o prédio se iniciando, ser construído, equipado e concluído. Uma das minhas maiores realizações como reitor da UEPG foi por ter dado, quem sabe uma pequena, mas com muito orgulho, contribuição para este grandioso projeto e para a educação das crianças ponta-grossenses”, finaliza.

Um livro de memórias, com relatos e fotos dos que fizeram e fazem parte da história do Caic, será publicado pela Editora UEPG, em parceria com a Coordenadoria de Comunicação Social (Ccom), que deve ser lançado no segundo semestre de 2023.

Texto: Jéssica Natal | Fotos: Arquivo do Caic e Jéssica Natal

 


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