

Em ucraniano, Rodyna (ou pодина, em cirílico) significa família. Com a Guerra iniciada em fevereiro de 2022, a vida de milhares de pessoas se transformou. A partir da criação do Programa de Acolhida a Cientistas Ucranianos, por meio do Governo do Estado, pesquisadores puderam ter a chance de um recomeço no Paraná. O filme, com cerca de 60 minutos, traz depoimentos, conta da rotina na universidade, a adaptação ao Brasil e a ligação cultural entre Brasil e Ucrânia.
Durante a exibição do filme, foi impossível conter as lágrimas. Katherina Hodick, pesquisadora ucraniana vinculada à Universidade Estadual de Londrina (UEL), esteve presente no evento e ressalta a emoção de participar das gravações. Ela veio sozinha ao Paraná, em 2023. “Foi um momento difícil, pois tive que deixar toda a minha família na Ucrânia, incluindo meu pai, que faleceu ano passado, e também é difícil falar da Guerra, mas aqui no Brasil eu pude recomeçar e me sinto bem e estou feliz que várias pessoas vão assistir a esse material”. Katherina trabalha com literatura e poesia ucraniana e diz estar bem adaptada ao Brasil. “Sonho em ficar aqui para sempre”, sorri. “Eu recebi uma família, com meus alunos, amigos e minha família que formei aqui”.
A vinda de pesquisadores ucranianos ao Paraná foi um ganho na perspectiva de ciência e de internacionalização, para o reitor da UEPG e coordenador do projeto, professor Miguel Sanches Neto. “É uma reafirmação do caráter internacional das universidades e do Estado do Paraná. A vinda dos imigrantes ao Paraná tornou um Brasil diferente, de tal forma que, quando chegaram os pesquisadores, todos encontraram uma pátria ucraniana no Brasil”, afirma.
Para Aldo Nelson Bona, Secretário da Seti, o trabalho em conjunto do Governo do Estado, representações ucranianas no Paraná e instituições de ensino superior fizeram a diferença para a acolhida das famílias. “São pesquisadores que produzem uma ciência de destaque no mundo e que, perante o cenário de Guerra, se encontravam numa situação de interrupção dos seus trabalhos acadêmicos, e o programa veio nesse sentido, de oferecer uma acolhida”. A iniciativa foi um sucesso, segundo ele. “Com isso, alinhamos a produção do documentário, junto com a UEPG, que brilhantemente acompanhou a rotina desses pesquisadores”.
O presidente da Fundação Araucária, Ramiro Wahrhaftig, destaca a importância do início das atividades do documentário já em 2022, o que propiciou que o registro de momentos importantes, como a chegada no Brasil, a vida deles em diversas cidades do interior do Paraná e a educação dos filhos. “O documentário é fundamental para nós termos essa memória que vai ser fundamental no futuro”, enaltece.
Equipe
No lançamento desta quarta-feira, a equipe do documentário esteve presente, juntamente com parte dos 22 pesquisadores, que foram registrados no filme. Os três anos de trabalho resultaram em cerca de 200 horas de gravação e mais de 150h de produção e edição. A equipe do Rodyna, coordenada pela jornalista Luciane Navarro e formada pelos profissionais Fabio Ansolin, William Clarindo, Jéssica Natal, Henry Milléo, Julio César Prado, Mirna Bazzi e Cristina Gresele, percorreu mais de 10 cidades e realizou captações na Seti, Fundação Araucária, Universidades Estaduais de Londrina (UEL); Maringá (UEL); Ponta Grossa (UEPG); Centro Oeste (Unicentro); Oeste do Paraná (Unioeste); e Norte do Paraná (Uenp); Universidade Federal Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR); Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila); Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR); e Instituto Federal do Paraná. As locações incluíram também o Parque Estadual do Iguaçu, Memorial Ucraniano, Museu Campos Gerais, em Ponta Grossa, Sociedade Ucraniana do Brasil, em Curitiba, e Museu do Milênio, em Prudentópolis.
Com um trabalho que durou mais de três anos, a equipe ficou mais próxima dos pesquisadores. “A gente passou por muita coisa juntos. Estávamos no aeroporto quando os primeiros começaram a chegar, estivemos em alguns momentos muito tristes, por exemplo, quando a casa da Família Slinko foi bombardeada na Ucrânia”, relembra Fabio Ansolin, um dos cinegrafistas do projeto. “Foram altos e baixos que acompanhamos na vida deles, e eu acho que isso se traduz no resultado do documentário”.
O roteiro foi pensado para trazer as histórias das famílias ucranianas no Paraná, de acordo com Jéssica Natal, uma das roteiristas do filme. “Trabalhamos a Guerra, mas buscamos, principalmente, mostrar a adaptação deles por aqui, entendendo que a cultura ucraniana no Estado é presente, e que o trabalho de acolhida nas instituições de ensino foi bem atuante”, explica.
O processo de edição levou cerca de oito meses. A captação também rendeu microvídeos, que estão disponíveis nas redes sociais do projeto (Instagram e TikTok). De acordo com William Clarindo, um dos editores, o grande desafio foi construir uma história coesa, diante da diversidade de imagens e entrevistas. “Foi uma história que contamos através de grafismos, de mapas, de imagens da Guerra que conseguimos com pessoas que estão próximas do Conflito, e que não traz somente a Guerra, mas também conta a história da influência ucraniana aqui no Paraná”.
Ligação forte com a Ucrânia
Juntamente com o professor da PUC-PR, Paulo Nogas, o grupo entrou em contato com a Fundação Araucária. “E foi de onde surgiu esse belo programa, inédito e de grande valia. Ele e ao mesmo tempo e expressa uma solidariedade e enriquece do ponto de vista cultural e científico. Eu acho que todos saímos ganhando, ganhando o coração, ganhando a alma, ganhando a solidariedade, ganhando a ciência”, completa. Agora, além do filme, também estarão presentes no Museu da Imigração Ucraniana, camisetas e botton, como parte do acervo da instituição.
O Cônsul Honorário da Ucrânia do Brasil, Mariano Czaikowski, parabenizou a iniciativa de acolhida e de registro das ações aos pesquisadores ucranianos no Paraná. “Cabe-me agradecer em nome do Governo e do povo ucraniano por esse maravilhoso e importante programa, que significa, além de solidariedade, também intercâmbio e cooperação mútua e enriquecimento científico e tecnológico entre Ucrânia e o Paraná”.
“Pode ter certeza de que comunicarei ao Itamaraty essa belíssima iniciativa e comunicarei também à nossa embaixada em Kiev”, iniciou a fala durante a solenidade, a embaixadora do Governo Brasileiro, Lígia Maria Scherer. “Quero parabenizar a todos os ucranianos que estão aqui; que vimos no documentário; cumprimentá-los pela bravura, pela capacidade de superar e de conviver com com com tanta dor, com tanta tristeza, mas também com tanta esperança, de que em algum momento esperamos um fim desse conflito”.
Rodyna fará parte do acervo da Cinemateca de Curitiba, como enfatiza Marino Galvão Júnior, presidente da Fundação Cultural de Curitiba (FCC), instituição gestora do espaço. “Este momento é muito importante e simbólico. Aqui é uma casa de acervo, e poucas vezes vimos um momento tão emocionante, nos sentimos honrados em ter colaborado para a conclusão e lançamento deste projeto tão importante”.
Texto: Jéssica Natal | Fotos: Aline Jasper, Jéssica Natal, Fabio Ansolin