

O projeto de extensão Pulmões em Alerta, do curso de Medicina da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), tem realizado uma série de visitas a colégios públicos e privados de Ponta Grossa para conscientizar estudantes do ensino médio sobre os riscos do uso de cigarros eletrônicos, também conhecidos como vapes ou pods. A iniciativa é coordenada pelos professores Ricardo Zanetti e Camila Marinelli Martins e envolve acadêmicos do primeiro ano do curso.
Segundo o professor Ricardo Zanetti, o projeto integra o tripé universitário de ensino, pesquisa e extensão. “O cigarro eletrônico é um dos tópicos que estão sendo discutidos dentro da UEPG. Nessas ações, os alunos coletam dados para tentar responder: por que o jovem decide usar o cigarro eletrônico? Depois de tudo o que já se sabe sobre o cigarro tradicional, ele busca outra coisa, mesmo sabendo que é prejudicial”, explica. Antes de irem às escolas, os estudantes realizaram uma pesquisa interna sobre o uso de cigarro eletrônico entre os próprios colegas da Medicina. “Quase caímos de costas quando descobrimos que 45% dos alunos faziam uso. Essa pesquisa foi publicada na Revista Conexão”, relata Zanetti. O resultado surpreendeu os acadêmicos e despertou o interesse em levar o tema para além da Universidade.
“Nos últimos 20 anos, o Brasil reduziu drasticamente a população tabagista, por meio de campanhas de conscientização e políticas públicas. Somos uma referência no mundo. O cigarro eletrônico surge como uma resposta ao sucesso dessa política antitabagismo”, afirma o professor. Segundo ele, os jovens se tornam vulneráveis a isso porque a transgressão é uma característica dessa faixa etária. Zanetti explica que os níveis de nicotina presentes nos dispositivos são elevados e podem causar dependência química em pouco tempo. Ele cita ainda casos graves de doenças pulmonares associadas ao uso. “Os alunos ficaram muito impactados quando conheceram, durante uma aula no Hospital Universitário, uma paciente de 13 anos internada na UTI com uma doença chamada EVALI, causada pelo cigarro eletrônico. Ela precisou de um transplante de pulmão para sobreviver”, conta. Outro fator preocupante é o uso de saborizantes, chamados popularmente de “gostinho de fruta”. “Esses compostos não foram feitos para serem queimados. Quando entram em combustão, liberam substâncias altamente cancerígenas”, explica o docente.
Visitas às escolas
As visitas aos colégios também são uma oportunidade de diálogo entre os adolescentes e os futuros médicos. “Quando a gente que é mais novo chega para falar com eles com uma linguagem mais acessível, eles se sentem mais confortáveis. Alguns acabam se abrindo e contando que usam pod, pedindo orientações sobre como parar”, relata Lucas D. Peres, aluno do primeiro ano de Medicina. Ele destaca que a experiência ajuda na formação pessoal e profissional. “A gente aprende a lidar com o público e a devolver para a sociedade aquilo que ela investe na nossa formação.”
O projeto também tem caráter investigativo, e deve servir como base para um artigo científico. “Aplicamos um questionário com 42 questões em colégios estaduais e privados para entender o uso e o conhecimento dos estudantes sobre o cigarro eletrônico”, conta Lucas, que explica que o trabalho surgiu a partir da Disciplina Integradora I. Segundo ele, após a aplicação do questionário, os acadêmicos realizam uma proposta de intervenção. “Mostramos um caso real de um paciente de 15 anos que usava pod e apresentamos exames, como raio-x e espirometria. Depois, aplicamos novamente o questionário para medir o impacto dessa ação”, descreve.
Para a acadêmica Daphiny Carvalho, participar do Pulmões em Alerta reforça o compromisso social do curso. “É algo muito importante, porque vemos muitos alunos utilizando o cigarro eletrônico. Como sabemos que faz mal e causa dependência, é essencial agir agora, na idade escolar, para que entendam a gravidade disso”, destaca.
No Colégio Agrícola Estadual Augusto Ribas, da UEPG, a atividade de extensão foi recebida como um reforço às ações já desenvolvidas pela instituição. O diretor do colégio, Alcebíades Baretta, destaca que a escola realiza constantemente campanhas de prevenção sobre temas ligados à saúde e ao comportamento. “Já realizamos outras ações sobre o cigarro eletrônico e outros assuntos que nos preocupam, como racismo, bullying e uso de drogas. Mas ter acadêmicos do curso de Medicina trazendo conhecimento técnico e exemplos reais é muito importante para reforçar o que já trabalhamos com os alunos”, afirma. Para o diretor, a presença dos universitários contribui para aproximar o tema da realidade dos estudantes. “Esperamos que essa ação ajude os alunos a repensar o que estão fazendo, porque sabemos que, mesmo proibido por lei, alguns ainda usam o cigarro eletrônico escondido”, comenta. Baretta também ressalta a satisfação de ver ex-alunos do colégio hoje cursando Medicina na UEPG. “É gratificante ver que ex-alunos nossos estão agora na Universidade e retornam à escola para contribuir com ações como essa. Isso mostra o degrau de crescimento que eles alcançaram”, celebra.
A pedagoga do Colégio Agrícola, Gislaine Blazelis, reforça a importância da parceria com o curso de Medicina da UEPG. “É fundamental promover reflexões e conscientização sobre isso, e ninguém melhor do que os profissionais e estudantes da área da saúde para trabalhar esse tema com os jovens”, avalia. Segundo Gislaine, a escola também busca abordar a questão de forma ampla. “A questão da conscientização envolve tanto a parte social como psicológica dos adolescentes. Por isso, contamos com uma rede de proteção e utilizamos textos, pesquisas e notícias para embasar o debate”, explica.
As ações do Pulmões em Alerta também chegaram ao Colégio Marista Pio XII. O coordenador do ensino médio, Ramon Ronchi, destaca que o problema do cigarro eletrônico vai além dos muros escolares. “Essa não é apenas uma preocupação do colégio, é uma preocupação social. A quantidade de adolescentes que utilizam o cigarro eletrônico vem crescendo, e isso afeta também as instituições de ensino”, afirma. De acordo com o coordenador, a escola já havia promovido uma palestra com representantes da Delegacia do Adolescente, abordando as implicações legais do uso e do fornecimento de cigarros eletrônicos. “Agora, com o pessoal da universidade, tratamos dos impactos à saúde”, completa.

Percepção dos alunos
Os estudantes do Colégio Agrícola da UEPG reconheceram o impacto das ações de conscientização sobre o uso de cigarro eletrônico. Para André Vitor Ribeiro Kloster, a discussão é essencial no ambiente escolar. “É algo muito importante de ser comentado, principalmente entre os adolescentes, porque isso está se tornando comum. Muita gente acaba fumando sem saber o verdadeiro risco. Por isso, é bom que profissionais da saúde venham às escolas e conversem sobre o tema, porque faz muito mal à saúde”, afirmou.
A aluna Etyenne França de Jesus ressaltou que o cigarro eletrônico traz os mesmos riscos do cigarro comum, mas é ainda mais perigoso pela facilidade de uso. “Ele se torna um vício muito fácil. Isso é muito prejudicial, porque aos poucos vai afetando a saúde e de forma até mais rápida que um cigarro normal. Acho muito importante essas palestras, porque ajudam a colocar na cabeça das pessoas que isso só faz mal e diminui o tempo de vida”, comentou.
Já Kiara Vitória Okida Ror observou que o cigarro eletrônico é mais discreto e, por isso, acaba enganando muitos jovens. “É mais fácil de esconder do que o cigarro normal, não deixa cheiro e, por ter essência com gosto de fruta, parece inofensivo, mas acaba sendo pior. Lembro que, em outra palestra, alguns colegas decidiram parar de fumar depois de ver imagens e casos reais. Trazer essas histórias ajuda muito a conscientizar o pessoal”, contou. Ela também destacou a necessidade de fiscalização: “Ainda há muitos locais que vendem, mesmo sendo ilegal”.
Texto e fotos: João Pizani























































