



O reconhecimento veio na categoria 1 ‘The most significant cave discovery/exploration’ (Descoberta/exploração de caverna mais significativa, em português). O trabalho apresentado no evento contou os principais resultados da expedição realizada em 2023, na província de San Juan, no noroeste argentino – atividade de onde veio a descoberta. “Receber o prêmio foi uma surpresa absoluta, já que é uma espécie de Nobel da Espeleologia. Pensar que a UIS considerou que o nosso trabalho resultou na descoberta/expedição mais significativa dos últimos quatro anos em todo o mundo, é de arrepiar!”, conta a dupla.
O local do mapeamento
As cavernas são formadas por tubos (piping), ricos em argila, limonitas e arenitos, formados no período Neógeno, da Era Cenozóica (entre 23 a 2,5 milhões de anos atrás). “A formação desses depósitos se relaciona com o processo de soerguimento [elevação de superfície] dos Andes e na sua posterior erosão, mas também com atividades tectônicas que seguem operando na região, com diferentes níveis de intensidade”, explica Heder. Todo o local ainda tem abalos sísmicos recorrentes, com clima desértico quente – altas temperaturas no verão e baixas no inverno. “Em outubro de 2023, foi de 40ºC na área próxima a uma das cavernas, com a umidade relativa do ar em 3,4%, e havia alertas pela possibilidade de ocorrer o vento ‘zonda’, que é um vento quente e seco, típico dos andes, e que carrega muita poeira já que desce a cordilheira no sentido L”, acrescenta.
O legado da UEPG
Para Daniella, a formação em 2011 no curso de Bacharelado em Ciências Biológicas a auxiliou a entender a relação das cavernas e o seu entorno, “seja do ponto de vista ecológico, de interesse zoológico ou ainda, no contexto da biodiversidade e geodiversidade da região”, conta. Desde os primeiros anos de curso, ambos já integravam projetos de iniciação científica, e destacam a forte influência dos professores Mario Cesar Lopes e Gilson Burigo Guimarães, pelo interesse no mundo das cavernas – Gilson orientou o TCC de Heder e auxiliou no estágio de doutorado de Daniella.
“A espeleologia é um saber e uma ciência transdisciplinar, e o curso de Bacharelado em Geografia [concluído em 2010] proporcionou na minha formação as ferramentas metodológicas e conceituais que hoje acabo por sintetizar no trabalho como espeleólogo”, sintetiza Heder, sobre o curso. O egresso ainda realizou o Mestrado em Gestão do Território pela UEPG, em 2013.
Próximas atividades
Em novembro deste ano, a equipe planeja uma nova expedição, agora de 15 dias, para continuar a exploração de cavidades na área, além de buscar outras áreas que apresentaram grande potencial para a ocorrência de cavidades. “Essa análise foi feita inicialmente em imagens de satélite, agora precisamos verificar em campo esses pontos de interesse, só que o acesso é bem mais complicado pois estão em áreas de montanha, onde algumas superam os 3.000 metros, e cujo acesso se dá unicamente com mulas”.
Texto: Jéssica Natal | Fotos: Mariana Mendiri, Guillermo Mendy e Arquivo Pessoal