

“A matemática não é um bicho de sete cabeças. É uma ciência que qualquer um é capaz de aprender”. Para Luiz Henrique Bahls, estudante do curso de Licenciatura em Matemática da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), os livros de Malba Tahan são um exemplo de como tornar a matemática mais acessível e divertida, de maneira lúdica e através de histórias. Neste 06 de maio, data em que se comemora o Dia Nacional da Matemática, a UEPG conta um pouco mais sobre os cursos de Licenciatura e Bacharelado em Matemática.
Malba Tahan é o pseudônimo do escritor e educador brasileiro Júlio César de Mello e Souza. Em sua homenagem, foi instituído o Dia Nacional da Matemática, celebrado em 6 de maio, data que reconhece sua contribuição ao ensino da disciplina no Brasil. No clássico “O Homem que Calculava”, o autor narra as aventuras de Beremiz Samir, um viajante persa do século XIII que utiliza suas habilidades matemáticas para ajudar pessoas e resolver problemas aparentemente sem solução. Publicado pela primeira vez em 1938, o livro já vendeu mais de 2 milhões de exemplares em todo o mundo e ajudou a tornar a matemática mais atrativa para leitores de todas as idades.
Bahls conta que sempre teve afinidade com a disciplina, mas foi a participação na Olimpíada Pontagrossense de Matemática (OPMat), competição organizada pela UEPG, que fez com que ele se apaixonasse ainda mais pelo assunto e decidisse ingressar no curso de licenciatura. “É muito bom estar em sala de aula, perceber que você consegue ensinar e que as crianças podem gostar de matemática”, relata Bahls, que atualmente realiza estágio supervisionado e já participou do Pibid, programa de iniciação à docência.
Aluno da licenciatura em Matemática da UEPG, Ruan Eneias Ferreira também viu seu interesse pela disciplina crescer após participar da OPMat. No momento de escolher um curso para o vestibular, já sabia que seguiria na área. A dúvida era entre as duas formações oferecidas pela UEPG: bacharelado ou licenciatura. No fim, a escolha foi motivada pelo gosto de compartilhar conhecimento: “ajudar uma pessoa a entender alguma coisa é muito gratificante.”
Porta de entrada para muitos alunos da UEPG no universo das exatas, a OPMat é realizada anualmente pelo Departamento de Matemática e Estatística (DEMAT) da Universidade. A competição reúne estudantes de escolas públicas e privadas de Ponta Grossa, do 2º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio, além de alunos que concluíram o colégio há menos de um ano e ainda não ingressaram no ensino superior.
Criado em 2013, o projeto surgiu com o objetivo de estimular o estudo da matemática, detectar jovens talentos e incentivar a participação em competições como a OBMEP (Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas) e a OBM (Olimpíada Brasileira de Matemática). “A participação de Ponta Grossa nas olimpíadas nacionais era muito baixa. Então criamos uma olimpíada local para mobilizar as escolas e despertar o gosto pela matemática”, explica a professora Elisangela dos Santos Meza, coordenadora da OPMat.
A iniciativa tem sido bem-sucedida, reunindo cerca de 2 mil participantes todos os anos. Elisangela destaca que a aplicação das provas depende do trabalho voluntário de estudantes da própria UEPG. Ela também reforça a importância de iniciativas como essa para quebrar o estigma negativo em torno da disciplina. “A Olimpíada exige raciocínio lógico para resolver os problemas, não depende só de fórmulas. Quando ganham uma medalha, muitos alunos percebem que são capazes, o que os estimula a continuar estudando”, afirma.
Mercado de trabalho
Segundo o coordenador do curso de Licenciatura em Matemática da UEPG, professor Marcos Teixeira Alves, o mercado de trabalho para os egressos da licenciatura é promissor. “Recentemente abriu um edital para professor colaborador no estado. Nós temos falta de professores formados”, aponta. A escassez é tanta que, segundo ele, alunos do segundo ano do curso já atuam como docentes na educação básica. “Naturalmente isso não é o ideal, já que eles ainda não têm a formação completa, mas é uma necessidade.” Alves aponta que outras áreas têm se aberto aos licenciados em matemática, como a editoração e o ensino a distância.
Marceli Behm Goulart, professora do Departamento de Matemática e Estatística da UEPG, afirma que a baixa procura pelos cursos de licenciatura é uma preocupação crescente, o que tem levado a criação de iniciativas como o Programa Pé-de-Meia Licenciaturas, que buscam atrair novos docentes por meio de bolsas e incentivos. Para estudantes que consideram seguir carreira na docência, Goulart reforça que a matemática é uma área estratégica para o país. “O poder público já prevê um apagão de professores de matemática até 2040”, aponta.
A professora considera que a matemática é essencial para a vida cotidiana e para a formação integral dos estudantes da educação básica, mas lamenta que a disciplina ainda sofre com estigmas. “Por um lado é supervalorizada e, por outro, tão malquista. A matemática está na vida de todos nós. Das coisas mais simples, como a medida do tempo e as transações financeiras, até as mais complexas. O desafio é transpor o pouco entusiasmo da população, em geral, pela área”, afirma.
Texto: João Pizani | Fotos: Aline Jasper