

A primeira parada foi na Quinta do Girassol, onde Rosângela Blum produz cogumelos para venda regional. “O orgulho de ser produtor rural é saber que você está produzindo alimentos que vão parar na mesa das pessoas, ainda mais o cogumelo, que eu sei que fará bem para as pessoas”, explica Rosângela, que aconselhou os alunos a “buscarem conhecimento, porque o conhecimento ninguém tira”.
Na parte da tarde, a fazenda da família Fankhauser recebeu os cursistas, para apresentar um modelo de produção circular que alia o suinocultura, bovinocultura, agricultura e produção de hortifrutigranjeiros para consumo próprio. A turma foi recebida pelo casal Pedro e Marizete, que explicaram que nem sempre a situação financeira da família foi tão estável. No começo, eles moravam em Santa Catarina e, ao se transferirem para Ipiranga, se dispuseram a trabalhar com produção rural para se manter, migrando depois para a produção de fumo. A renda era complementada pela venda de queijos na cidade, pois tinham trazido três vacas do estado de origem. Com o tempo, o rebanho foi aumentando, mas a renda não seria suficiente para dividir com os três filhos que logo sairiam de casa e que sempre trabalharam junto deles.
Com os filhos já adultos, a solução encontrada para mantê-los perto do casal foi diversificar a produção. A plantação de lavoura foi ampliada, as vacas que, no início, eram algumas dezenas, foram aumentadas para 150, o fumo saiu de cena e deu lugar à produção de porcos para cria e recria para frigoríficos, e as hortas e pomares não foram deixadas de lado. “Foi uma alternativa para a família continuar junta e não ir para a cidade, onde a gente sabe que não é fácil também”, explica Marizete.
Porém, veio a pandemia justamente quando os negócios estavam sendo expandidos e, ainda mais grave, Marizete foi diagnosticada com câncer. “Foi uma época sofrida, que testou os nervos da família”, lembra o filho Lucas. “A gente foi indo para frente, não dava para desistir. Atualmente está bom. Até fizemos essa obra aqui [um galpão de leiteria], com um pouco de medo de novo, mas hoje a gente se arrepende de não termos feito antes”, conta Lucas, feliz pela superação e resiliência dos Fankhauser.
Pedagogicamente correto
O diretor do Colégio Claudino, Fernando Colodel, elogiou a proposta do projeto e explicou que do ponto de vista pedagógico, a iniciativa traz a interação entre a teoria e a prática, contribuindo ainda para a ampliação de conhecimentos. “Abre um leque do que mais eles podem buscar, e assim, permanecerem naquelas atividades às quais as suas famílias e seus antepassados já desempenham”, assegura. Fernando lembrou ainda que são 740 alunos do Colégio, dos quais 500 moram na zona rural.
O professor João Emanoel de Souza, coordenador do curso técnico em Agronegócio, também classifica a parceria com a UEPG como produtiva. Ele defende que as oficinas e visitas são importantes e que o trabalho de fala e escuta promovido dentro na extensão têm grande valia. “Ajuda a trazer novos saberes para o campo e também é uma forma de valorizar o que eles fazem por aqui”, declarou.
Leonardo Correia Valentim, aluno do curso, aprova e gosta muito de participar no projeto, principalmente das visitas. “Em sala de aula, só com a parte teórica do conteúdo, você tem o conhecimento, mas, não tão alto como quando você sai em uma visita técnica e vê a realidade do campo, o trabalho das pessoas. O aprendizado se torna mais amplo, fazendo com que você se inspire no que a pessoa produz, para quando ao sair do colégio ou da faculdade, já saber mais ou menos o que quer fazer”, comenta o terceiranista.
Aprendizado mútuo
A chefe do departamento de Zootecnia, Verônica de Oliveira Vianna, que acompanhou os alunos nas visitas, explicou que vem trabalhando com os estudantes questões como o manejo de dejetos e principalmente produção sustentável. “Cada vez mais os profissionais têm que estar prontos para esse grande desafio do século XXI, em que produzir alimentos tem que estar consonante com o ambiente e também trazer justiça social. E esse é um viés que a gente tem trabalhado aqui”, afirma a professora.
A professora Patrícia Correia de Paula Marcoccia, do Departamento de Pedagogia e do Programa de Pós-graduação em Educação, que coordena o projeto, ressalta que, além de uma formação técnica, os alunos são incentivados a seguirem conceitos humanizados e de organização. “É importante para pensar essas formas coletivas de trabalho, seja por associações, seja por lideranças ou por cooperativas. Então, temos propiciado essas discussões. Não significa que a curto prazo a gente consiga isso, mas só de fomentar essas discussões em espaços onde isso não está sendo propiciado, já é um grande avanço”, explica.
Sobre o projeto
A iniciativa tem como objetivo promover a formação integral dos estudantes que moram na zona rural de Ipiranga, capacitando-os para enfrentar desafios contemporâneos como sustentabilidade, desigualdades de gênero, preservação ambiental, questões pertinentes às juventudes do campo e gestão tecnológica de propriedades rurais.
Os recursos do projeto da UEPG provêm do Fundo Paraná, por meio do Programa Universidade Sem Fronteiras, vinculado à Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti). Este programa visa auxiliar e incentivar a extensão universitária, priorizando ações executadas em municípios com baixo Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM). No ranking de IDHM, Ipiranga ocupa a 314ª posição entre os 399 municípios paranaenses.
Texto e fotos: Helton Costa