

Ao lado do Museu de Ciências Naturais da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), estandes ocupados por estudantes do ensino fundamental e médio exibiam projetos sobre temas como nanotecnologia, videogames, cultivo indoor de microverdes e até calçadas inteligentes que geram energia. Eram os trabalhos da 1ª Feira de Clubes de Ciências de Ponta Grossa e região, realizada no último dia 27, no Centro de Convivência do Campus Uvaranas. O evento reuniu clubes de 14 escolas, com 33 trabalhos aprovados.
A Feira é uma iniciativa do Departamento de Química (Dequim), em parceria com escolas da região que fazem parte do Programa Paraná Faz Ciência, uma rede que mantém quase 300 clubes em atividade em todo o Estado, além de incluir três clubes selecionados por editais nacionais do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A professora Leila Freire, do Dequim, contou que o evento foi idealizado para possibilitar que todos os estudantes que integram os clubes tenham a oportunidade de participar de uma feira de ciências, diferentemente de outros eventos em que apenas representantes conseguem comparecer. “Nas grandes feiras, como em Curitiba ou Foz do Iguaçu, a gente não consegue levar todos os alunos. Então a ideia da nossa Feira surgiu para tornar possível que todos pudessem ter a experiência de apresentar seus trabalhos em um espaço próximo, diante de outros estudantes e avaliadores”, disse. Os clubes reúnem alunos no contraturno escolar e permitem que eles desenvolvam projetos com temas relevantes para a comunidade. “Os estudantes vão semanalmente para a escola para realizar atividades de pesquisa e produção de conhecimento”, acrescenta Leila.
A professora Marilei Casturina Mendes Sandri, também do Dequim, atua junto com a professora Leila como articuladora da rede de clubes no núcleo de Ponta Grossa e União da Vitória, sob responsabilidade da UEPG. “Nós tivemos a adesão de todas as escolas que fazem parte do programa. Estão aqui praticamente todos os alunos que integram os clubes”, relata. Marilei também destacou que os estudantes tiveram contato com projetos de colegas de diferentes instituições e puderam visitar o Museu de Ciências Naturais e o Planetário da UEPG. “Eu acho que foi uma experiência muito boa para todos eles”, completou.
O pesquisador Renan Sota Guimarães, pós-doutorando em Química na UEPG, ressaltou a importância do evento para quem está ainda na educação básica. “A maioria dos alunos está no ensino fundamental ou médio, e aqui têm contato direto com a Universidade. É um momento de integração entre os clubes e também de divulgação científica, porque os estudantes podem compartilhar o que estão produzindo”, aponta.
Clubes de Ciências
Segundo o professor, essa foi a primeira vez que os Exploradores da Ciência apresentaram trabalhos fora da escola, e ele destaca a importância do aprendizado para os alunos. “É um trabalho voluntário, eles não estão recebendo nota por isso. Mas já entendem a importância para o currículo e aprendem, por exemplo, como escrever um texto científico, fazer citação e referência. São noções que, normalmente, só teriam na faculdade”, disse. Ele lembra que antes da Feira os alunos já tinham realizado exposições internas na escola, como uma sobre fermentação, em que explicaram o processo químico por trás da produção de pães e bolos. “Eles apresentaram a receita, deixaram os colegas degustarem e mostraram a função de cada ingrediente. Isso junto com o Departamento de Engenharia de Alimentos aqui da UEPG. Foi muito bom”, afirmou. Além de atuar na educação básica, Elias também é professor no Departamento de Química da UEPG, e destaca a parceria da Universidade com os Exploradores da Ciência. “Eu gosto de fazer essa ponte. Para os alunos do Regente a UEPG é uma casa, porque a gente vem várias vezes e meus alunos do ensino superior também acabam participando do clube. Nós temos vários parceiros aqui”, conta.
A estudante Ana Luiza Almeida Pupo, do 3º ano do ensino médio, teve a experiência de participar pela primeira vez de uma feira, como integrante do Clube Exploradores da Ciência. Para ela, o objetivo é que as crianças e adolescentes que visitam os estandes despertem interesse pela ciência. “A ideia é mostrar algo prático, dar uma explicação e incentivar outros alunos a buscar conhecimento”, afirma. Ana Luiza relata que os encontros têm envolvido a parceria com os cursos de Química e Engenharia de Alimentos da UEPG. “A gente fez alguns protótipos de biopolímeros, que são plásticos que não poluem, com apoio da UEPG, e também tivemos saídas de campo”, lembra. Na Feira, ela participou com um projeto sobre bioluminescência, tema escolhido junto com um colega. A aluna destaca que o clube tem sido uma oportunidade de aproximação com a pesquisa e com a universidade. O interesse pela ciência, conta, vem de família: “Minha tia foi professora de Biologia na UEPG e também fez Enfermagem, então a minha família sempre me incentivou a fazer uma faculdade e gostar de ciência. Também vejo bastante conteúdo científico na internet”. Sobre o futuro, ela já planeja ingressar em uma graduação da UEPG: “Estou pensando em fazer Química ou Farmácia”.
O estudante Pedro Kremer, do Colégio Estadual Agrícola Olegário de Macedo, de Castro, falou sobre a experiência no Clube Ecoindoor. Ele e os colegas construíram uma estufa para cultivo de microverdes. “Cada um fez uma parte, desde a iluminação até o substrato orgânico. Conseguimos aplicar o que aprendemos no colégio agrícola e também buscamos pesquisar e aplicar novas técnicas”, relata o aluno, que está no terceiro ano e pretendo cursar Agronomia no ano que vem.
Segundo Bruno, a análise feita pelo clube utilizou alunos do sexto ano como objeto de estudo, observando aspectos como resposta motora, coordenação e tempo de reação. “O comportamento deles tem sido afetado bastante. Os estudantes que têm contato com videogames e ações gamificadas se sentem mais tranquilos, mais leves em sala de aula. Eles citaram inclusive que reduziu o número de brigas e pequenas discussões”, relata. O professor destacou ainda que a rede estadual já incorporou plataformas digitais nas disciplinas regulares e até criou uma competição específica para jogos eletrônicos, nos moldes dos Jogos Escolares do Paraná. “A rede criou uma subseção dentro dela para modalidade de jogos eletrônicos. As crianças vão lá, competem na dança, no futebol, na luta, em vários gêneros de games. O resultado é muito positivo”, disse.
Texto e fotos: João Pizani