Geografia além da sala de aula: UEPG forma geógrafos preparados para a atuação profissional

Compartilhe

O interesse de Luiz Alexandre Gonçalves Cunha pela Geografia surgiu ainda na infância, quando gostava de explorar mapas, identificar capitais e aprender sobre diferentes países. “Lembro que na escola os professores já me chamavam de geógrafo, porque eu gostava muito da disciplina”, recorda Cunha. Aos 18 anos, ele ingressou na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), concluindo a Licenciatura em Geografia em 1979, mesmo ano em que a profissão de geógrafo foi regulamentada. No ano seguinte, concluiu também o Bacharelado.

Cunha é professor na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) desde 1996. Quase três décadas depois de iniciar sua trajetória na instituição, ele considera que o curso de Bacharelado em Geografia “vive o seu melhor momento em termos de recursos, projetos e atuação profissional”. Ele observa uma mudança significativa no perfil da formação oferecida pela UEPG. “A gente está formando um grupo de alunos que entende que pode atuar como profissional, abrir empresas e prestar serviços para o setor público e privado”, lembra o professor.

Segundo ele, muitos cursos de Bacharelado em Geografia no Brasil ainda não se organizaram para formar egressos voltados à atuação profissional. A reformulação da grade curricular, implementada em 2023, foi um passo decisivo nesse processo. “A partir daí, direcionamos a formação para o exercício da profissão. O geógrafo tem um campo de atuação previsto em lei, mas precisa estar preparado para ele”, afirma Cunha.

A prática profissional está no centro da proposta formativa do curso. Disciplinas como Banco de Dados Geográficos, Introdução a Big Data e Empreendedorismo Aplicado à Geografia integram a matriz curricular, algo que atende às novas demandas da área. “O curso não forma professores. Ele forma geógrafos”, ressalta Marcio Ornat, vice-coordenador do Bacharelado em Geografia da UEPG.

Segundo Ornat, o campo de atuação é amplo. “Muitas empresas, para a sua instalação, utilizam estudos geográficos de mercado. É uma área que poucos conhecem, mas tem grande potencial”, exemplifica o professor. Outra demanda crescente surge da exigência legal que obriga os municípios brasileiros a revisarem seus planos diretores a cada 10 anos. “Na maioria desses municípios, não há sequer dados cartográficos mínimos. E como é possível fazer um projeto de uma escola ou de uma UBS assim? Então, a cartografia é um filão enorme de atuação”, aponta.

Extensão universitária

Essa formação prática se concretiza, entre outros espaços, no Laboratório de Planejamento Urbano e Regional da UEPG, que desde 2021 desenvolve projetos de revisão de planos diretores em municípios paranaenses com baixos índices de desenvolvimento humano. “A universidade sai de seus muros e atua como indutora do desenvolvimento regional”, afirma Ornat. Cidades como Cerro Azul, Doutor Ulysses, Adrianópolis e Guaraqueçaba já receberam equipes da UEPG formadas por professores, estudantes e egressos. 

“Esses municípios não teriam condições de contratar empresas privadas, que chegam a cobrar mais de R$ 1 milhão por um plano diretor”, relata Ornat. A atuação é multidisciplinar e engloba áreas como Geografia, Geologia, Direito, Química, Economia e Biologia. O trabalho dos geógrafos envolve, entre outras coisas, levantamento cartográfico, a realização de audiências públicas e escutas comunitárias. “A gente pergunta diretamente à população: quais os problemas, as demandas e as potencialidades da sua região?”, explica. 

Profissão: geógrafo

Judite Bueno de Camargo se formou no Bacharelado em Geografia da UEPG em 2023 e acompanhou de perto a elaboração da nova matriz curricular que aproximou a formação acadêmica do exercício profissional. “Antes, ou você seguia carreira acadêmica ou trabalhava numa empresa, muitas vezes contratado como analista ambiental, e não como geógrafo. Essa desvalorização profissional foi um marco que a mudança curricular veio enfrentar”, afirma.

Marlon Vinicius Kapp Cristóvão encontrou no Bacharelado em Geografia da UEPG um campo profissional que inicialmente desconhecia: a geotecnologia. “Eu nem imaginava que fosse possível trabalhar com levantamento topográfico e ortorretificação de imagens. É uma área que tem ganhado muito destaque e possibilitado uma sensação de pertencimento com a profissão”, relata.

A consolidação da identidade profissional é um dos pilares da formação no Bacharelado em Geografia da UEPG. “Aqui na UEPG a gente consegue fazer com que os alunos se olhem e se sintam como geógrafos”, afirma o professor Marcio Ornat. Segundo ele, esse reconhecimento de si como profissional é fundamental para uma formação capaz de atuar de forma propositiva e técnica. “Antes, muitos egressos seguiam na carreira acadêmica sem se perceber como geógrafos no sentido mais amplo, de alguém que resolve problemas concretos da sociedade”, pontua.

Entre os alunos do quarto ano do bacharelado em Geografia da UEPG, o sentimento é de pertencimento e descoberta de uma área profissional diversa. Para eles, o curso oferece a chance de se inserir em campos de trabalho ainda pouco conhecidos, mas em crescimento.

Vitória Santos de Souza lembra que o gosto pela natureza e pelas ciências foi uma constante desde a infância. Por influência familiar, considerou cursar engenharia civil, mas a afinidade com a geografia e o incentivo de professores e amigos a levaram a mudar de ideia. “Tive facilidade com os conteúdos e vi que era uma opção que combinava comigo. Me encontrei no curso”, afirma.

Kamila Cristina de Oliveira Antunes relembra que a decisão de se tornar geógrafa foi tomada mesmo diante da resistência de professores do ensino médio, que consideravam o bacharelado uma área com pouco futuro. “Eu fui atrás, pesquisei, vi que era diferente e resolvi investir”, relata. No curso, encontrou afinidade com disciplinas de geografia urbana, planejamento regional e geotecnologias. “Me identifiquei bastante com o sensoriamento remoto. É uma área mais moderna que amplia o que o geógrafo pode fazer. Quero atuar nessa linha”.

Texto: João Pizani | Fotos: João Pizani, Domi Gonzalez e Jéssica Natal


Compartilhe

 

Skip to content