UEPG pela Vida: Prae e Progesp realizam ações de Setembro Amarelo
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A Universidade Estadual de Ponta Grossa, por meio da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Prae) e a de Gestão de Pessoas (Progesp), aderiu à campanha nacional de prevenção ao suicídio, na última semana, entre os dias 8 e 12. A programação do evento “Setembro Amarelo: UEPG pela Vida” reuniu estudantes e servidores da Universidade em palestras e ações de conscientização sobre a saúde mental, focadas na promoção, informação, acolhimento e fortalecimento da rede de apoio e cuidado no ambiente universitário.
UEPG pela Vida
A semana de eventos foi pensada para reunir estudantes e servidores da Universidade em torno de um tema que é relevante para toda a comunidade acadêmica: a valorização da vida. A pró-reitora de Assuntos Estudantis, Ione Jovino, lembrou que esse trabalho não se limita ao mês de setembro. Segundo ela, o cuidado com a saúde mental está presente em diferentes ações da Universidade. “O cuidado com a vida é contínuo. A gente faz isso o ano todo, ininterruptamente”, afirmou. Ela destacou que a escuta e o acolhimento são parte do dia a dia da Prae e que muitas atividades são realizadas em conjunto com a Progesp, de forma a incluir também os servidores.
Para a pró-reitora de Gestão de Pessoas, Eliane Rauski, a campanha é um lembrete de que “toda vida importa” e de que cada pessoa carrega uma história que merece ser reconhecida e acolhida. “Sabemos que os problemas que a vida nos apresenta podem ser pesados, e que as dificuldades, muitas vezes, parecem ser bem maiores do que a nossa capacidade de enfrentá-las. Mas é importante lembrar que ninguém está sozinho. Estamos todos juntos de mãos dadas, formando uma rede de apoio, de cuidado e de segurança”, afirmou. Ela afirmou que buscar ajuda é um ato de coragem e que o encontro deve ser um incentivo para que esse diálogo se estenda para além de setembro. “Pedir ajuda não é um sinal de fraqueza, mas sim de coragem. Que este momento seja um convite para que possamos, ao longo de todo o ano, cultivar espaços de diálogo, fortalecer vínculos e valorizar a vida em todas as suas formas”, concluiu.
O reitor da UEPG, Miguel Sanches Neto, destacou que discutir a prevenção ao suicídio é uma necessidade urgente, especialmente após os impactos da pandemia. Para ele, os encontros do Setembro Amarelo devem alcançar o maior número possível de pessoas na instituição, mesmo que nem todos compareçam aos eventos. “Espero que cada pessoa que participe dessas ações seja um multiplicador do que for discutido aqui, para que a gente possa levar as questões abordadas ao maior número de pessoas dentro da nossa universidade, nos cursos de graduação e pós-graduação, e também nas nossas atividades enquanto professores e agentes universitários”, afirmou.
O reitor destaca o esforço da UEPG em criar uma rede de apoio à saúde mental, com a implementação do Ambulatório de Saúde Integrativa (ASI), a contratação de psicólogos e outros profissionais, a criação da Prae e a valorização da Diretoria de Qualidade de Vida no Trabalho. Sanches Neto atribuiu o tema à política de permanência estudantil e ao fortalecimento da comunidade universitária.
“Durante muito tempo tivemos como foco a inclusão por meio dos vestibulares e processos seletivos, mas nos últimos anos temos avançado na busca de um acompanhamento de todos os nossos estudantes e também dos nossos agentes universitários, para que a permanência na universidade seja a mais efetiva possível”, celebra. O reitor também destacou a criação do curso de Psicologia, cuja primeira turma iniciou esse ano. “É uma conquista que fortalece a estrutura acadêmica da UEPG e demonstra nosso compromisso com a própria comunidade que demandava o curso de Psicologia na nossa cidade”, afirmou.
O coordenador do curso de Psicologia da UEPG, Oriomar Skalinski Júnior, ressaltou que o Setembro Amarelo toca em uma questão delicada, muitas vezes silenciada por medo ou desconforto. “Se trata do suicídio, muito claramente. Não falarmos esse nome não vai fazer com que as coisas não aconteçam. É preciso que se fale”, afirmou. Ele lembrou que há uma “epidemia silenciosa” de transtornos mentais relacionados ao trabalho e, portanto, falar sobre essas questões é uma forma de oferecer reconhecimento e apoio. “O ato fatal é muitas vezes antecedido por um não acolhimento. Então, eventualmente, uma palavra ouvida aqui, durante toda a semana de atividades, pode ser importante não só para quem esteja em sofrimento, mas também para que as pessoas consigam identificar e efetivamente acolher essa dor”, concluiu.
A diretora de Ações Afirmativas e Diversidade da Prae, Iomara Favoreto, explicou que, além das palestras, a programação inclui momentos de escuta e acolhimento. “Temos outros eventos para que o aluno venha para ser ouvido, para conversar conosco, dizer quais são as suas demandas, se precisa de algum encaminhamento futuro”, disse. Iomara lembrou que a Prae também aproveita a semana para divulgar os serviços que a Universidade oferece aos estudantes, entre eles o atendimento psicológico e outros apoios de permanência estudantil.
Palestra de abertura
As atividades da semana iniciaram na manhã de segunda-feira (8), no Grande Auditório do Campus Centro, com palestra do psicólogo Maurício Wisniewski e do médico neurologista Marcelo Rezende Young Blood. Wisniewski abordou a urgência de falar sobre o suicídio como questão de saúde pública, e alertou que o problema não pode ser tratado apenas nos espaços médicos ou acadêmicos. “A crise suicida é, hoje, responsável por um número muito grande de mortes todos os anos no Brasil. É um problema de saúde pública e a gente precisa falar disso, não apenas os profissionais da saúde, mas a sociedade como um todo”, apontou.
O psicólogo destacou o lema oficial da campanha Setembro Amarelo, lançado pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), como um chamado direto à ação. “’Se precisar, peça ajuda’. Este é um lema muito incisivo. Se precisar, ligue. Se precisar, fale. Se precisar, olhe”, afirmou. Em sua avaliação, a campanha deve priorizar a valorização da vida, evitando que a discussão se limite apenas ao suicídio. “A estratégia do Setembro Amarelo é não falar apenas do suicídio, mas também sobre valorização da vida”, disse.
Diretor técnico dos Hospitais Universitários da UEPG, Young Blood abordou a relação entre saúde mental e estilo de vida, chamando atenção para o estresse como um dos principais pontos de impacto na vida cotidiana. Ele lembrou que, muitas vezes, essa condição se apresenta como porta de entrada para outros sofrimentos emocionais. “O estresse e a ansiedade estão intimamente relacionados. Estresse em si não é uma doença, mas é uma condição muito comum, frequentemente precedendo a ansiedade”, afirmou. Marcelo destacou que, quando o nível de pressão ultrapassa certos limites, surgem quadros graves como a síndrome de burnout, cada vez mais presentes na rotina de trabalho e no ambiente acadêmico. “É quando o nível de pressão é alto o suficiente para que o indivíduo não consiga funcionar de forma nenhuma, a ponto de não conseguir às vezes nem sair de casa”, explica.
Segundo o médico, é importante reconhecer que o estresse pode ter um papel positivo em determinadas circunstâncias. “Estresse leve e moderado pode auxiliar no desenvolvimento pessoal. No entanto, o estresse intenso e crônico coloca o indivíduo numa experiência inquietante e perturbadora que impacta diretamente na qualidade de vida.” Ele destaca ainda que os últimos anos contribuíram para a intensificação desse quadro. “Esse cenário piorou muito após a pandemia e em decorrência dos desafios que a gente tem na nossa sociedade contemporânea, em relação ao trabalho, às cobranças, o ambiente competitivo e até as questões ambientais e políticas que frequentemente têm se tornado um debate no dia a dia das pessoas”, relatou.
Durante a palestra, o médico usou um exemplo pessoal para explicar o que acontece no corpo quando o estresse aparece. “Basta você ter um pensamento de alguma ameaça que o coração já acelera, as mãos começam a suar, o corpo fica tremendo, como eu estou agora por estar de frente para uma plateia. É natural que a gente tenha uma certa ansiedade, porque eu me sinto de certa forma ameaçado com vocês, é como se fossem leões e ursos na minha frente, ameaçando a minha integridade física”, disse.
Ele explicou que a mudança do tipo de ameaça que enfrentamos ao longo da história influencia diretamente a forma como hoje lidamos com a tensão. “Antigamente, durante o desenvolvimento da nossa espécie, a ameaça era física, ela era real e desencadeava no nosso corpo uma reação de luta ou fuga. Hoje, a ameaça não é física, ela não é real na maioria das vezes. É a mente que se depara com preocupações, antecipando problemas que talvez não venham a acontecer”, disse. Para o médico, isso significa que não é apenas a situação externa que determina o impacto, mas a forma como cada pessoa percebe e enfrenta esse processo.
Marcelo lembrou que, da mesma forma que existe a resposta de estresse, também existe um mecanismo oposto: a resposta de relaxamento. Segundo ele, a dificuldade atual está justamente em ativar essa segunda resposta. “A resposta de estresse é muito rápida, enquanto a resposta de relaxamento é um pouco mais demorada porque o indivíduo precisa se sentir seguro, estar em um local ou com pessoas que nos fazem sentir seguros a ponto de ativar a força de relaxamento. E essa é a grande dificuldade que a gente tem hoje na vida moderna. Demora pelo menos de 10 a 15 minutos para desativar a resposta de estresse, mas existem uma série de atividades que induzem essa resposta de relaxamento”, explicou.
O médico recorreu a uma metáfora para ilustrar essa situação. “Quando você vive pisando no acelerador, você está consumindo combustível, está desgastando o seu corpo. A gente conhece muito bem o pedal do acelerador, mas esquece que existe o pedal do freio. Então, na maioria das vezes, a gente tem muita dificuldade de parar, de contemplar”, disse. Para Marcelo, atividades simples que favorecem o descanso e a calma foram sendo deixadas de lado e, em muitos casos, passam até a ser vistas de forma negativa. “Quando você não está fazendo nada, você se sente inútil, você se sente desconfortável, sente que está perdendo tempo”, disse. O médico também chamou atenção para o peso das redes sociais nesse processo, que, segundo ele, distorcem a percepção que temos de nós mesmos e dos outros: “As redes sociais criam essa imagem equivocada, porque a gente sempre acha que a vida social ou profissional do outro é muito melhor do que a nossa. Parece que está todo mundo bem e só eu que não me sinto igual aos outros. Então isso cria uma distorção da realidade que faz com que a gente esteja sempre pisando no acelerador”.
Marcelo lembra que o ritmo contínuo de aceleração provoca desgaste no corpo e na mente, o que pode causar sintomas físicos como fadiga, dores no corpo, falta de apetite e de energia, além de levar a consequências como uso excessivo de medicamentos ou álcool para tentar aliviar o desconforto.O estresse crônico também está associado ao desenvolvimento de doenças de longo prazo. “Quanto mais doente o seu corpo físico fica, mais isso gera uma limitação, mais isso gera estresse. Então, você entra num ciclo vicioso, difícil de sair”, afirmou. O médico defendeu a necessidade de enfrentar o problema desde a sua origem.
Circuito de Saúde Mental
A programação contou também com o “Circuito da Saúde Mental: Você importa! Viver com sentido na Universidade”, que esteve presente durante a manhã de terça-feira (9) no Campus Centro da UEPG e no Campus Uvaranas, na quarta-feira (10) . O Circuito foi marcado por uma série de atividades oferecidas a estudantes e servidores da Universidade, incluindo jogos e atividades sobre saúde mental, a presença do Ambulatório de Saúde Integrativa (ASI-UEPG) e informações sobre as ações que a Prae oferece a estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica.
A assistente social da Prae, Rebeca Iansen, explicou que a proposta do circuito foi criar um espaço de acolhimento e informação, com diferentes ações pensadas para aproximar os estudantes e servidores dos serviços já disponíveis na Universidade. “A graduação é um período que pode gerar muita ansiedade nos alunos, em que eles podem passar por algumas dificuldades. Então, a gente tem que mostrar que a Universidade está aqui para dar esse suporte”, afirmou. Segundo ela, a proposta é oferecer momentos de cuidado e descontração, para que os alunos se sintam acolhidos e saibam que não estão sozinhos.
O acadêmico de Serviço Social e estagiário da Prae, Henrique Martins, lembrou que a programação é aberta a toda comunidade acadêmica; ele destaca que o trabalho da Prae considera também os fatores sociais que impactam a saúde mental dos estudantes. “A saúde mental vai muito além da questão individual, passa muitas vezes por uma questão social, de alguma vulnerabilidade do aluno. Dentro da Prae a gente acha importante fazer essa vinculação”, disse. O aluno também ressaltou a necessidade da realização de eventos focados em saúde mental. “Por mais que a gente fale que é importante ter essa atenção o ano inteiro, o Setembro Amarelo vem para dar esse reforço”, afirmou.
Outras ações
Além das palestras e circuitos, a equipe da Diretoria de Qualidade de Vida no Trabalho (DQVT) da Progesp realizou também ações para setores específicos da Universidade. Uma das escolhidas foi a Fazenda Escola Capão da Onça (Fescon-UEPG), onde as psicólogas e assistentes sociais criaram uma roda de conversa para refletir sobre autocuidado com a equipe. Ao final, os servidores receberam uma muda, fornecida pelo Viveiro da UEPG, e uma provocação: “que vocês possam cuidar de si, como dessa planta. Pensem no que faz bem para o seu solo e o que faz vocês cultivarem e se desenvolverem”, refletiu a psicóloga Islane Maiara de Queiroz.
Na sexta-feira (12), último dia da programação da semana, as ações foram realizadas na Biblioteca Central Prof. Faris Michaele, com palestra da psicóloga Bruna Catapan sobre cuidados com a saúde mental. A atividade contou ainda com uma mesa-redonda com a assistente social Andreia Doll e o psicólogo Willian Rosa, além da participação da comunidade acadêmica. Durante o encontro, os profissionais discutiram estratégias de cuidado, destacando o papel da Prae e reforçando os canais de ajuda disponíveis, como o Centro de Valorização da Vida (CVV), no telefone 188.
Texto: João Pizani, com apoio de André Packer, Gabriel Ribeiro e Mariana Real | Fotos: André Packer, Gabriel Ribeiro, João Pizani e Mariana Real