

Alunos e alunas da Universidade Aberta da Terceira Idade (Uati) da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) visitaram, nesta segunda-feira (11), a exposição Memória em Movimento, realizada no Campus Uvaranas. O grupo participou de uma atividade de “Jogo da Memória” e circulou pela sala de aula adaptada para a mostra, que busca resgatar e compartilhar lembranças por meio de objetos pessoais e obras autorais das alunas do quarto ano de Licenciatura em Artes Visuais, com a colaboração de professores do curso.
Segundo Milena Barreto, aluna de Artes Visuais e uma das responsáveis pela atividade, a proposta era colocar os idosos como parte da própria exposição. “Não queremos falar só da gente, mas valorizar também a história deles, fazer com que eles lembrem das coisas boas do passado e que fazem parte do que eles são hoje”, explica. A visita começou com o Jogo da Memória adaptado para valorizar as histórias pessoais dos participantes. Cada pessoa deveria escolher primeiro um objeto que remetesse à infância e, depois, um objeto ou atividade que representasse a fase atual da vida. “Teve gente que mencionou a bolinha de gude, um jogo que é pouco praticado hoje em dia, mas que foi resgatado durante essa atividade. Muita gente compartilhou que gosta de cozinhar. São atividades que acabam unindo porque eles descobrem que têm muito em comum”, relata Milena.
Entre os visitantes estava Alba Silva, que se emocionou ao encontrar peças que remetem à sua história familiar, como trabalhos em crochê, algo que ela aprendeu com a mãe e que mantém como hábito até os dias de hoje. “Achei uma experiência maravilhosa. Tem coisas lindas que fazem a gente relembrar o passado, as boas memórias, das nossas mães, das nossas avós”. Ela ainda confessa que também tem o costume de guardar objetos antigos que carregam histórias. “Às vezes eu penso que sou tão apegada porque guardo muitas coisas, mas eu acredito que um dia alguém possa fazer um bom uso”, disse.
Alba conta que participa de diferentes atividades oferecidas pela Uati. “Eu faço aula de fotografia, faço prosas e versos, faço aula de dança. Essa oportunidade de fazer a Uati foi maravilhosa”, relata. Atualmente no último semestre, ela já se prepara para participar da formatura e do baile de debutantes da terceira idade, evento tradicional da Uati. Hoje aposentada, Alba lembra que chegou a iniciar o curso de Pedagogia, mas não conseguiu concluir, devido ao trabalho. Mesmo assim, nunca deixou de buscar conhecimento, uma forma de inspirar também as filhas, hoje formadas. “No ano que vem eu vou continuar na Uati, mesmo depois de ter concluído este ano. Quero fazer algum curso diferente”, adiantou. E completou, com um sorriso: “nós não somos pessoas de idade, nós somos da melhor idade”.
Para Júlia Lisboa dos Santos, a visita à exposição trouxe de volta memórias guardadas. “Ver coisas antigas é uma experiência maravilhosa, é relembrar o passado e trazer isso de volta para nós”, disse. Ela comenta que algumas lembranças permanecem guardadas por anos, mas não se perdem. “Às vezes, está num lugar que a gente nem lembra onde, mas não esquece e sempre dá pra recuperar”. Sobre sua participação na Uati, Júlia conta que a experiência tem ampliado seu círculo de amizades. “Surgiu essa oportunidade e eu entrei. Tô gostando, eu amo fazer isso. Aumenta nossas amizades, e é isso que nós precisamos. Nós continuamos ativas, não ficamos paradas”, afirma. Segundo ela, muitas pessoas deixam de realizar atividades à medida que envelhecem, mas ela acredita que é importante seguir ativa e buscar conhecimento. “Enquanto nós estamos vivos, temos oportunidade de aprender, e mesmo assim não vamos aprender tudo”.
Outra aluna, Maria Aparecida Polinski, interpreta que a exposição “Memória em Movimento” é um convite para desacelerar. Ela considera que, na correria do dia a dia, muitas vezes não se dá valor a esses momentos. “Nesse mundo imediatista parece que tudo é descartável, até os relacionamentos. E a gente acaba vivendo nessa aceleração. A atividade de hoje parece que veio puxar a nossa orelha para valorizar algumas coisas, por mais simples que sejam”, disse. Para ela, guardar certos objetos que têm significado é uma forma de preservar histórias. “Claro que a gente não pode guardar tudo, não tem como, mas algumas coisas que são afetivas e você puder guardar, guarde”. Maria Aparecida também destaca a importância da participação na Uati para manter a vida ativa. “Chega numa idade que os filhos se casam, os netos também, e você fica só, ou apenas com teu marido ou esposa. Então a Uati te dá uma oportunidade de ver que a vida não parou. Sempre vai ter coisas pra fazer e viver, não dá pra ficar parado”.
Formação para pessoas idosas
Rafael Oesterreich, professor da Universidade Aberta da Terceira Idade (Uati) e graduado em Artes Visuais pela UEPG, explica que a Uati é um programa da Universidade que já existe há 32 anos, sendo a mais antiga do Paraná em funcionamento contínuo. A iniciativa oferece oportunidades de formação, integração e desenvolvimento pessoal para pessoas idosas, promovendo o envelhecimento ativo e a valorização da experiência de vida. “A Uati da UEPG começou com quatro disciplinas, hoje tem quase 30. A formação tem duração de um ano e meio, e no final eles recebem um diploma, tem formatura e tudo mais”, detalha Rafael.
No segundo ano como professor da Uati, Rafael avalia que a experiência tem sido transformadora e muito diferente do que ele vivenciou durante sua graduação, quando tinha pouco contato com pessoas idosas. “Por mais que tenha essa diferença de idade, a troca é muito grande. Eles aprendem com a gente e eu sinto que também aprendo muito com eles”, conta. Rafael leciona fotografia para a turma e destaca o carinho que recebe dos alunos, que criam momentos de convivência informal, como preparar café juntos e conversar. “É muito bom conhecer eles, porque a princípio são meio tímidos, mas logo conseguem se abrir. Eles também têm muita carência de ter alguém para conversar e para ouvir a história deles. Assim, eles se sentem acolhidos, e a gente se sente mais acolhido ainda por ser amigo deles”, relata.
A coordenadora do curso de Artes Visuais, Adriana Rodrigues Suarez, destaca que o tema da exposição dialoga diretamente com a vivência dos idosos. “A melhor maneira de lidar com memórias é através de pessoas que têm uma trajetória de vida maior. Elas se alimentam de memórias, e a ideia era incentivar que elas revisitem isso”, disse. Para ela, trazer o grupo para o espaço foi uma forma de promover esse reencontro com lembranças pessoais. A professora Adriana também contribuiu para a exposição com objetos pessoais que guardam momentos importantes de sua vida. “Tem um porta-retrato do meu casamento, porque eu sou viúva, e também fotografias dos meus filhos, coisas que fazem parte das minhas memórias e da construção da minha vida enquanto mulher e enquanto mãe”, conta.
A exposição surgiu durante a disciplina de Estágio Supervisionado II. Segundo a professora Ana Luiza Ruschel, que ministra a disciplina ao lado do professor Diego Divardim, a proposta inicial era de que as alunas investigassem as trilhas da sua identidade, o que incluía o resgate de histórias do passado e um diálogo com pessoas da famílias. “Às vezes os alunos podem pensar: ‘ah, a professora Ana Luiza tem 74 anos, já está velha, ultrapassada. E a minha avó então, o que é que eu vou conversar com ela?’. Quando, na verdade, também somos contemporâneas, temos nossas histórias de vida e a vida presente”, afirma a professora.
Para saber mais detalhes sobre “Memória em Movimento”, leia a reportagem que inclui o relato dos artistas – alunas e professores – que contribuíram com obras para a exposição.
Texto e Fotos: João Pizani