Imigrante, pesquisador, pai: conheça a história do Geslin

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A história de Geslin Mars, doutorando em Agronomia na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), é uma dessas que conectam mundos. Vindo do Haiti, ele encontrou no Brasil uma segunda casa, um campo fértil para sua pesquisa e o lugar onde viveria a experiência mais transformadora de todas: a de ser pai. Sua trajetória é marcada pelo desafio da imigração, mas também pela construção de uma carreira na ciência e pelos aprendizados da vida em família.

Geslin chegou ao Brasil, mais especificamente a Minas Gerais, em 2008, para cursar graduação em Agronomia. Acabou ficando também para o Mestrado e, em seguida, retornou ao Haiti para trabalhar. No entanto, pouco mais de quatro anos depois, organizou o retorno ao país que o acolheu. “Vi que estava complicado no Haiti, por conta da situação sociopolítica, e eu comecei a pensar ‘acho que eu vou voltar no Brasil’. Como eu me formei aqui, cheguei aqui tão jovem, então eu sentia que o Brasil era como a minha segunda casa”.

Inicialmente, a ideia era procurar um emprego, mas surgiu a oportunidade de cursar o Doutorado. Na hora de escolher a instituição, a UEPG entrou no radar. Até aquele momento, Geslin não tinha nem mesmo estado no Paraná. “Foi a primeira vez que eu vi Ponta Grossa na lista de escolha. Entrei, fiz pesquisa sobre a universidade, vi que a agronomia aqui era boa e conversei com meu ex-orientador da Graduação, que me disse que a região era muito interessante”, lembra Geslin. E assim, ele ingressou no programa de pós-graduação em Agronomia, atuando no Laboratório de Nutrição de Plantas, sob orientação do professor doutor Adriel Ferreira da Fonseca.

Sua pesquisa – cuja tese será defendida ainda neste ano – estuda fontes alternativas de potássio, um nutriente essencial para a agricultura. Inadvertidamente, o tema acabou por ganhar um contorno de urgência e relevância global. “Foi nessa mesma época do início do meu trabalho que começou a guerra Rússia-Ucrânia. E aí afetou o suprimento de fertilizantes potássicos no mercado. Então isso acabou por justificar a importância de estudar sobre isso”, conta.

PATERNIDADE E DOUTORADO

A jornada para o doutorado, no entanto, não foi solitária. Geslin chegou a Ponta Grossa com sua esposa, Erline, que estava grávida do primeiro filho do casal, Caleb. “Era muito difícil no início. Primeiro, porque eu estava na fase de adaptação, depois de quatro anos e meio fora da parte científica, então tinha que entrar no ritmo. E segundo, estava me adaptando à região, porque eu estava mais acostumado com Minas Gerais e aqui é bem diferente. E ao mesmo tempo, minha esposa estava grávida. Era a primeira vez dela no Brasil, e ainda não falava o idioma”, recorda.

Nessa fase, longe da rede de apoio familiar, o casal precisou contar um com o outro para tudo. Geslin precisou conciliar as tarefas do doutorado com as consultas médicas da esposa, que ainda não dominava o português. Então, no dia 15 de maio de 2022, Caleb veio ao mundo no Hospital Universitário Materno Infantil (HUMAI), ganhando, como diz o pai, “um selo da UEPG em seu documento”.

A chegada do filho trouxe uma nova dinâmica. Geslin conta que conciliar a concentração exigida pela pesquisa com as demandas de um bebê foi, e ainda é, um exercício diário de paciência e amor. “Tinha período que ele acordava às três, quatro horas da madrugada e não queria dormir, queria brincar. E ele é muito apegado a mim, então, quando ele acorda assim à noite, quase não quer ficar com a mãe, quer ficar comigo”.

UM FUTURO ENTRE DUAS CULTURAS

Geslin e a esposa buscam passar para Caleb os valores e a língua de suas origens. Embora a criança esteja frequentando a escola e aprendendo o português, em casa, o crioulo haitiano é o idioma principal. “Ele entende crioulo, mas todas as palavras que ele está tentando falar, fala tudo em português. Muitas vezes perguntamos algo em crioulo e ele responde em português”, explica.

Enquanto finaliza o doutorado, Geslin planeja o futuro. A instabilidade em seu país de origem faz com que a permanência no Brasil seja o plano mais concreto para garantir um ambiente seguro para o filho. Permanecem, no entanto, a saudade e a ligação com a terra natal. “No momento, estou torcendo para ter uma estabilidade no Haiti e depois, no futuro, a gente verá se consegue retornar”, afirma, ressaltando que o pequeno Caleb, hoje com 3 anos, ainda não visitou o país de onde vieram seus pais.

Para outros imigrantes que vivem a experiência da paternidade longe de casa, Geslin deixa uma mensagem de encorajamento. “É um ensinamento muito grande, que dá maturidade”, afirma. “E uma das coisas mais importantes é saber aproveitar os momentos. Porque, apesar da obrigação com o estudo, da obrigação com publicação de artigos, com a defesa… a gente precisa lembrar que cada momento que a gente tem com o nosso filho é valioso. Todo momento com a família é valioso. Então, temos que tentar equilibrar isso para a criança não se sentir ausente do seu pai, mesmo vivendo na mesma casa. Não é fácil, mas é possível”, completa.

Texto: Gabriel Spenassatto | Fotos: Geslin Mars/Arquivo pessoal e Aline Jasper/CCOM-UEPG


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