

Com 4 anos, Melissa Andres Freitas dava seus primeiros passos na atividade que nunca mais abandonaria: o artesanato. A arte do trabalho manual aparece em sua vida por influência da mãe, que a apresentou ao crochê. Pouco tempo depois, sua tia percebeu a curiosidade de Melissa e a iniciou nas pinturas com lápis de cor. Também na infância, a avó mostrou o ponto cruz. Na série “UEPG Extraordinária”, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), conheça o trabalho fora da sala de aula da professora Melissa.
Os primeiros trabalhos tinham imperfeições naturais, devido à idade e ao início de aprendizado, mas a avó já exibia orgulhosa os panos de prato com uma arte produzida pela neta. Quando Melissa começou, não imaginava que o artesanato continuaria a acompanhando na vida adulta e com tamanha importância. Afinal, a atividade serviu para se acalmar, exercitar a criatividade e caminhou junto em sua atuação como professora. “O processo de artesanato limpa minha mente. Faz com que eu encontre uma solução para alguma coisa que estou vivendo no trabalho. Enquanto estou costurando, eu crio uma nova estratégia para ensinar uma situação de sala de aula”, explica Melissa.
Para ela, hobby e profissão andam juntos. Se por um lado, o artesanato começa em sua casa por influência da família, por outro, os primeiros passos para a carreira profissional começam no curso de Letras Português/Espanhol da UEPG. E a relação de Melissa com a Universidade já dura mais de 25 anos. Ela inicia sua graduação em 1997, cola grau em fevereiro de 2002 e em maio do mesmo ano já assume como professora do Departamento de Letras, após ser aprovada em concurso público.
“O espanhol foi um pouco da ocasião. Na época, o Mercosul começava a ser cogitado e eu tive essa visão de que o mercado expandiria muito”, conta. Para ela, a língua fluiu com naturalidade. A paixão por gramática e literatura foram aliadas na construção desse saber e a memória afetiva ajudou a entender sua facilidade. “Muito tempo depois, eu lembrei do meu pai escutando Julio Iglesias em casa e comecei a entender minha relação com a língua”, fala Melissa.
Desde seu início na UEPG, a professora passou por várias disciplinas: língua espanhola, literatura espanhola, literatura hispano-americana, manifestações culturais da América Latina e conversação em espanhol. Além do Departamento de Letras, ela já lecionou também para o curso de Comércio Exterior e a Universidade Aberta da Terceira Idade (Uati).
Quem ensina a professora?
Desde a infância, Melissa nunca abandonou o artesanato. Por alguns períodos, ela diminuía o ritmo, mas sempre produziu e buscou novas formas de se expressar. O crochê, ponto cruz e bordado foram os primeiros passos. Ainda criança, todos seus ursinhos de pelúcia ganhavam toucas de tricô. No seu processo de desenvolvimento como artista, realizou bordado em pedraria e em fita, fez artesanato em madeira e MD
Tudo isso levanta uma pergunta: como ela aprendeu? As fontes de Melissa foram variadas. Nos primeiros anos como artesã, as mulheres da sua família foram suas professoras. Conforme se desenvolveu, usou revistas para aprender e copiar técnicas, comprou cursos, utilizou a internet e, em boa parte, conseguiu ser autodidata. Além disso, foram muitas horas investidas em cada um dos processos. “Eu tenho esse problema de obsessão. Então, às vezes, eu começo em uma atividade e passo 16 horas fazendo a mesma coisa”, conta a artista.
As horas repetitivas realizando o mesmo movimento causaram uma lesão na mão de Melissa. “Precisei diminuir meu tempo fazendo algumas atividades e diversificar o tipo de arte que eu faço para poder contornar esse problema”, explica a professora.
Artesanato e ensino de mãos dadas
Para Melissa, hobby e trabalho caminham juntos. A professora fez os dois campos da sua vida dialogarem para que um beneficie o outro. Bonecos da Frida Kahlo, Chiquinha e Chaves são algumas das formas de mostrar isso. Ela utilizou figuras de língua espanhola para unir sua atividade profissional e seu lazer. Além disso, constrói jogos feitos à mão para utilizar com os alunos em sala de aula. Todo o processo de colagem, recorte e produção dos materiais é feito manualmente.
“O artesanato me ajudou a assimilar muita coisa do trabalho. Quando estou fazendo uma boneca, também penso numa história que pode ser contada por ela para ensinar alguma coisa”, conta. Além da UEPG, Melissa também já trabalhou com as crianças do Bando da Leitura, com contação de histórias para crianças.
“O meu trabalho sempre é a prioridade. Então, o artesanato entra nos finais de semana e nos feriados. Eu passo feriados inteiros costurando”, afirma. A professora vende seus trabalhos e atende encomendas. De acordo com ela, além de ser um hobby caro, é uma forma de mostrar respeito a quem vive do artesanato. “Uma das coisas que eu primo é não desvalorizar o trabalho dos outros. Para mim, não é prioridade, mas para outras pessoas é. Eu não admito cobrar um valor menor do que o mercado, porque vou desvalorizar outra profissional que trabalha e precisa daquilo”, explica Melissa.
Ela aproveita para traçar linhas entre o hobby e o cuidado com a saúde mental. “Hoje se fala muito que o artesanato é a terapia da pessoa. Ele pode ajudar a lidar com várias coisas, mas terapia é terapia. Hobby é um escape, uma distração, mas a pessoa que precisa de um acompanhamento, deve realmente procurar a terapia”, defende a professora.
O auge como artista
A confecção de bonecas é o símbolo da artista que Melissa se tornou. Afinal, trata-se de um processo que reúne uma variedade de técnicas. A construção do corpo das bonecas, a pintura do rosto e a produção das roupas são processos unidos para um único produto. Para as roupas, Melissa chega a aplicar três técnicas em uma mesma boneca: tricô, crochê e bordado. Em algumas ocasiões, ela vai além e adiciona articulações nas bonecas. Todo esse conhecimento começou em 2014, após fazer um curso com uma amiga.
“Quando eu comecei, não existia a mesma variedade de hoje. Eu queria uma boneca para as crianças brincarem e dormirem abraçadas”, conta a artista. Outro fator que Melissa percebeu foi a ausência de bonecas negras. “Você não encontrava de jeito nenhum boneca negra e isso era uma decepção. A boneca negra sempre era estigmatiza e estereotipada”, explica Melissa. Hoje, o estoque de Melissa está sem bonecas negras. Todas que ela produz são vendidas rapidamente.
Trabalho e foco do momento
Melissa participa desde a primeira edição da Feira de Natal da UEPG expondo seu trabalho. Além disso, as suas artes podem ser vistas nas redes sociais:
Atualmente, Melissa está em licença para concluir seu Doutorado em Letras na Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro). Mesmo com o pouco tempo disponível, ela ainda aproveita os raros momentos disponíveis para produzir seu artesanato.
UEPG Extraordinária
Esta reportagem faz parte de uma série que conta o que servidores – professores e agentes universitários – fazem de notável ou excepcional em seu tempo livre – hobbies, esportes, atividades culturais, habilidades, voluntariados… Para sugerir pautas e histórias para a série “UEPG Extraordinária”, é só entrar em contato pelo e-mail ccom@uepg.br.
Texto: André Packer | Fotos: André Packer e arquivo pessoal