



A professora Lucia Cortes da Costa lembra bem dos primeiros passos do PPGCSA. Era 2000 e havia a necessidade de pós-graduação stricto sensu na instituição na área de ciências sociais. “Tínhamos que qualificar pesquisadores, não haviam muitos programas de Mestrado na região, na área, éramos nós e o PPG em Educação da UEPG”. Ambos receberam o reconhecimento pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) em 2001, com aulas de Mestrado que aconteciam no prédio do Centro Interdisciplinar de Pesquisa e Pós-Graduação (Cipp). “À época, existia uma grande discussão sobre a importância da multidisciplinaridade, de unir discussões de várias áreas de conhecimento”. Esta tendência caiu como uma luva para o Programa: “não tínhamos um corpo docente suficientemente titulado em apenas uma área de conhecimento e a procura era grande, especialmente dos formados em Direito e Serviço Social”. Com isso, a criação do PPGCSA nasceu dentro do setor de Ciências Sociais Aplicadas, com a primeira coordenadora a professor Divanir Munhoz, docente de Serviço Social.
Lucia havia acabado de terminar o Doutorado. “E fui imediatamente dar aula na Pós, porque essa era uma maneira de apoiar o crescimento do Programa”, recorda. As primeiras turmas tinham professores de áreas distintas de conhecimento: jurídicas, educação, serviço social e economia. Logo em seguida, vieram saúde, jornalismo e turismo. E assim continua até os dias de hoje. E a lembrança das primeiras turmas? A primeira imagem que vem à mente de Lucia eram as filas que se formaram na parte externa do prédio. “Numa manhã que saiu um edital, eu cheguei e havia um tumulto ali no Cipp, porque as pessoas passaram a noite numa fila para chegar a tempo e se matricular”. Quando a secretaria do PPG abriu, em poucos minutos as vagas eram preenchidas. “Tínhamos aberto umas 15 vagas, que se esgotaram rapidamente, era uma demanda muito grande, algumas pessoas até entravam com ação judicial para ter direito a uma vaga”.
E existência do PPGCSA passou a suprir necessidades de professores qualificados em outras instituições de ensino da região, além de contribuir para uma mudança de cultura na docência do ensino superior. “A criação dos Programas de Pós-Graduação na UEPG tirou a ideia de que o professor universitário era só para dar aula. Com o PPGCSA, implantamos a cultura da formação de alunos e professores pesquisadores, além da forte influência da extensão, para que os trabalhos também tivessem um diálogo com a realidade local”, completa Lucia.
Uma dessas pesquisadoras formadas pelo PPG foi Kelly Prudêncio. Ela foi a primeira a defender uma dissertação de Mestrado pelo Programa, com o tema ‘A produção de informação nas ONGs ambientalistas: estratégias de visibilidade’, orientada pelo professor Dimas Floriani. “Observei como algumas ONGs discutiam suas pautas em seus materiais informativos. O contexto era o fechamento de uma rádio comunitária em Florianópolis (objeto original), mantida por uma dessas ONGs”. Kelly conta que na região havia um intenso debate sobre a saúde ambiental da cidade e os grupos se esforçavam para combater o avanço da especulação imobiliária, a ausência de regulamentação ambiental e a ameaça às formas de vida nativas na ilha. “Sem a rádio, a pesquisa se voltou para a atuação das ONGs, suas formas de discurso no espaço público da cidade”.
Para além da pesquisa, as lembranças das aulas e dos colegas permanecem na mente de Kelly. “Havia uma diversidade de objetos de pesquisa, abordagens metodológicas e perfis acadêmicos, o que era esperado para um programa interdisciplinar. Ali fiz grandes amigas, num grupo até hoje mantido e chamado “A Diretoria”. Nossas aulas eram vibrantes, com muitos questionamentos”. Hoje docente da Universidade Federal do Paraná, Kelly ressalta o papel do PPGCSA na sua formação como pesquisadora. “Já trabalhava como professora substituta na UEPG. Meu orientador, Dimas Floriani, foi muito importante para me mostrar que a pesquisa era um campo difícil, mas muito recompensador. Ali me encontrei no papel de pesquisadora e entendi que não era possível separar a docência da pesquisa. É um baita legado”, salienta.
Com as defesas do Mestrado, veio o desejo por parte da equipe do Programa de formar a primeira turma do Doutorado. O sonho se realizou em 2014 e neste grupo seleto de doutorandos estava o professor Gonçalo Cassins Moreira do Carmo, hoje docente efetivo da UEPG, lotado no Departamento de Educação Física. “Eu já trabalhava como professor colaborador da UEPG e também dava aula em universidade particular, então decidi fazer minha seleção por aqui”, recorda. Conciliar trabalho e a vida acadêmica foi um desafio cumprido com excelência por ele, que foi o primeiro aluno a defender a tese de Doutorado, com o trabalho ‘It’s show time: violência e emoções no Mixed Martial Arts (MMA 1995 – 2016)’, sob orientação de Solange Barbosa Barros. “Eu conheci a minha orientadora no dia da banca de seleção. Ela acreditou no projeto e me deu essa possibilidade”. Gonçalo defendeu o trabalho em tempo recorde – o que geralmente leva quatro anos, no caso dele levou 2 anos e 8 meses. “Eu precisava dessa formação, então eu trabalhei intensamente durante esse período, para que eu pudesse fazer a defesa e também ter melhorias salariais, além de ter a possibilidade de participar de uma série de editais que só o Doutorado permite”.
Antes doutorando e hoje docente do PPGCSA, Gonçalo olha para o Programa com orgulho e gratidão. “O Programa de Ciências Sociais é fundamental para a região, porque ele surge durante um momento de interiorização de pós-graduações. Ele deu a possibilidade de várias pessoas que queriam dar continuidade em sua formação, além de se consolidar como um programa interdisciplinar, que agrega várias áreas de formação, que discute temas de relevância social e que faz com que os pesquisadores comecem a olhar os seus objetos de pesquisa de uma forma mais ampla”.
Olhar para o futuro


Com cerca de 30 professores, dentre colaboradores e efetivos, média de 200 alunos, entre especiais e regulares, o PPG ainda tem 35 bolsistas de diversas fontes de fomento. “Nosso grande diferencial é justamente a construção de conhecimento a partir de diferentes áreas, de uma maneira que todos aprendem juntos, porque é o aprendizado contínuo”, destaca Coradassi. Para a professora Lislei, a produção científica consolidada do Programa tem alto impacto e alcance social. “E agora temos um cuidado muito maior com relação às ações afirmativas, o que indica um processo de amadurecimento do Programa”. O último edital de seleção, publicado em novembro, trouxe vagas afirmativas voltadas a candidatos pretos ou pardos, indígenas, pessoas com deficiência e pessoas transgêneras, transsexuais e travestis. O resultado já está disponível no site do PPG. O fato da possibilidade de dialogar com diferentes áreas do conhecimento faz com que os pesquisadores saiam da sua zona de conforto, segundo Lislei. “Temos aqui várias áreas que fazem parte do nosso Programa, que é receptivo com vertentes diferentes, e isso é a nossa jóia rara, nosso grande diferencial”, completa. 

A dupla Lislei e Coradassi assumiu a coordenação do PPG em abril de 2024, trazendo consigo uma nova fase, com aulas no Litec e a readaptação às aulas presenciais, após o período de encontros de forma remota, devido à pandemia de Covid-19. O professor João Irineu Miranda, coordenador anterior, acompanhou todo o processo de mudança de espaço para aulas e o período de disciplinas ministradas remotamente. “Durante a Covid, apesar de estarmos separados fisicamente, as turmas ganharam um senso muito grande de comunidade, o que fez com que nós precisássemos de um espaço físico para convivermos”, relembra. A mudança do curso para o Litec permitiu um enraizamento do Programa, segundo João Irineu. “Isso fez reacender nossa diversidade, que é o nosso grande diferencial, então eu vejo esses 25 anos como um um desenvolvimento contínuo do Programa, em que ele foi vencendo desafios de acordo com cada período histórico que ele vivenciou”.


Egressos notáveis
Dentre os muitos egressos com histórias de sucesso, estão Ana Flávia Braun Vieira e Adriano Smolarek. Ela fez Mestrado e Doutorado no PPG e atualmente cursa o pós-doutorado pelo mesmo Programa. Ele também fez Mestrado e Doutorado e hoje é professor adjunto na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Eu sou absolutamente grata ao Programa, acho que uma das grandes felicidades que a gente tem ali é a preocupação teórico-metodológica, e eu acho que isso faz muita diferença nas pesquisas. Eu me formei como pesquisadora, de fato, dentro do Programa de Ciências Sociais Aplicadas. Ter conhecido pessoas e convivido com vários pesquisadores me abriu as portas da universidade para que eu pudesse trabalhar na área”, conta Ana.
Para Adriano, os professores foram um verdadeiro espelho para a atuação como docente atualmente. “Eu estudei no PPG entre 2014 e 2025. Vivenciei um período turbulento no que tange à percepção institucional do papel imprescindível da Universidade na sociedade, mas nenhuma delas foi o bastante para paralisar o Programa. Isso só ocorreu devido ao extremo comprometimento dos professores com a continuidade e com o patrimônio social que a Universidade fornece através da pesquisa”. A trajetória acadêmica de Adriano está profundamente vinculada ao PPGCSA. “Ainda hoje emprego leituras e conceitos, dinâmicas, metodologias diversas que foram abordados em sala de aula. Hoje, a cada dia, levo um pouco do que aprendi no PPGCSA para os alunos e alunas da UFMG”.
Texto: Jéssica Natal | Fotos: Jéssica Natal, Domi Gonzalez, João Pizani, Aline Jasper, Gabriel Miguel e arquivo UEPG.




























