Nos bastidores: Vavá, o servidor que há 30 anos ilumina o Fenata

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O Festival Nacional de Teatro da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) encerra a 53ª edição nesta quinta-feira (13). O Fenata, realizado desde 1973, é palco de grandes peças e já contou com a presença de nomes consagrados ao longo da história. Enquanto os artistas recebem os aplausos, existem profissionais que seguem discretos, mas indispensáveis, para o espetáculo acontecer. Por trás das cortinas, entre cabos, refletores e controles de som, um desses nomes é o servidor público Cézar Vavá de Castro, figura conhecida nos bastidores do Festival.

Nascido em Ponta Grossa, Vavá morou a vida toda na cidade e já dedicou 36 anos de atuação profissional à UEPG. Ele ingressou como servente de pedreiro em 1989 e acompanhou o crescimento da Universidade, tendo participado da construção dos blocos M e L do Campus Uvaranas. Com o tempo, foi assumindo novas funções: trabalhou como jardineiro, oficial de manutenção e técnico em serviços gerais. “Consertava a parte hidráulica, elétrica, tanto do Centro quanto de Uvaranas, de vários órgãos da UEPG”, conta.

Antes mesmo de chegar à Universidade, Vavá havia experimentado o mundo da operação técnica de eventos. “Antigamente, eu já era amigo de um pessoal que lidava com som e iluminação em alguns clubes de Ponta Grossa, como a Magic e o Sírio Libanês. Sempre trabalhava com eles. Na época era luz para discoteca”, lembra. Essa experiência foi determinante para que, em 1995, ele entrasse de vez no universo da iluminação cênica, quando passou a ser lotado na Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Culturais (Proex), setor responsável pela produção de eventos culturais da UEPG, como o Fenata e o Festival Universitário da Canção (FUC).

Nos bastidores, Vavá testemunhou a evolução do teatro local. “Está crescendo. Hoje temos vários grupos atuando em Ponta Grossa, como o GTU, o Grupo de Teatro Universitário, que tem professores, alunos e pessoas da comunidade participando”, exemplifica. Com mais de três décadas de participação em eventos, ele acumula histórias e aprendizados. “Eu já trabalhei com Lima Duarte, com Elizabeth Savalla. As pessoas mais antigas do teatro querem a luz original, que é o refletor 1000 watts. Essa é a verdadeira luz cênica para teatro”, explica, diferenciando-a dos atuais refletores de LED, que, segundo ele, têm um efeito de “show”. “É um ramo de trabalho que eu gosto muito, amo o que eu faço”, afirma ele. 

Para Vavá, trabalhar com teatro é também aprender a improvisar. “A parte técnica funciona assim: você trabalha com o que tem, e o que não tem, você improvisa. O improviso faz parte da técnica”, afirma. Ele comenta que, em alguns eventos, problemas inesperados podem surgir e resolvê-los faz parte do seu trabalho. “Pode acontecer de um carro bater em um poste e faltar luz de repente, e o evento estar em andamento. Não dá pra esperar duas ou três horas pra voltar a energia”, explica. Nessas situações, o espetáculo precisa continuar. “Às vezes a gente acende uma vela, um lampião, uma lanterna. A própria luz normal, incandescente ou fluorescente, pode dar conta do recado e acabar ganhando o evento. Isso é uma coisa que você tem que sacar na hora, tirar algo do chapéu e fazer acontecer”, relata. “Dez minutos para o público que está esperando é muito tempo, mas para o técnico passa num piscar de olhos”.

Ao longo dos anos, Vavá também se tornou referência para quem buscava aprender a parte técnica do teatro. “Muitos alunos queriam não somente atuar, mas também aprender a mexer com som e luz. Eu não gosto de dizer que ensinei. A gente é técnico, não é professor, mas sempre mostrei para eles como funcionava”. Essa troca, segundo ele, é o que mais o motiva. “Hoje eu posso dizer que conheço muitos alunos da Universidade e de fora que hoje são grandes profissionais da parte cênica, alguns atuando em Curitiba, Rio de Janeiro, São Paulo. Dei uma mãozinha ali no começo. Pra mim isso é muito gratificante”, diz. “O ator é importante, claro. Mas tem que ter alguém que queira ser iluminador, técnico de som”.

Na última década, Vavá também investiu na formação acadêmica, incentivado por colegas da Universidade. “Com um curso superior, você tem uma melhoria salarial e de carreira. Aí eu falei: “Sabe o que? Vamos encarar”. E acabei gostando”, conta. Ele se formou em Gestão Ambiental e fez uma pós-graduação na área, pensando em trabalhar com isso depois da aposentadoria. “Uma formação agrega em bastante coisas. Não só no financeiro, também na parte humana e de conhecimento. É muito importante”, comenta. O interesse pela área vem da preocupação com o futuro. “Principalmente na preservação, seja da flora, dos animais. A minha ideia é sempre tentar proteger o que tem, os recursos naturais, que estão acabando. Estamos num momento crítico, e está cada vez pior. Talvez a gente não vai ver muita coisa, mas as gerações futuras vão sofrer com isso”, reflete.

Com 36 anos de dedicação à UEPG, ele vê a instituição como parte de sua própria história. “A Universidade foi muito importante para mim, e ainda está sendo. Sempre serei grato à UEPG, porque através dela eu adquiri muito conhecimento e muita amizade. A partir dela eu também criei meus filhos, minha família. Meu sustento é daqui”, comenta. Como servidor público, Vavá mantém o princípio de tratar a todos com igualdade. “Se alguém me falar “eu quero dez microfones”, e eu tiver, eu vou colocar. Eu nunca separo se é um evento maior ou menor. Eu trato todos iguais. Se eu posso fazer uma coisa bem feita para um, eu tenho que fazer para todos, eu não posso discriminar”, afirma.

Na 53ª edição do Fenata, Vavá segue onde sempre esteve: atrás do palco, garantindo que tudo funcione para que o espetáculo aconteça. Em entrevista concedida às vésperas do Festival, ele manifestou a alegria de compartilhar sua história de vida e de profissão. “É uma história que está gravada aí, mas também está gravada na cabeça e no coração da gente. A hora que der meu tempo de trabalho, eu quero deixar meu lugar para outra pessoa e curtir a família, meus filhos, meus netos”, relata. “Ninguém é eterno. Um dia a gente vai se aposentar, um dia a gente vai sair, um dia vai morrer. Por isso, tem que passar o teu conhecimento para o próximo”.

Texto: João Pizani | Fotos: Aline Jasper e Jéssica Natal


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