MCG inaugura projeto de história oral pública e exposição sobre a primeira médica do PR

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Escutar. Para além de ouvir, dedicar um tempo para acolher, compreender, registrar e valorizar. Essa é a essência do projeto Museu Escuta, do Museu Campos Gerais da Universidade Estadual de Ponta Grossa (MCG-UEPG), que tem realizado sessões abertas de história oral pública e oficinas sobre esta metodologia.

“O Museu Escuta surgiu dessa vontade de abrir as portas não apenas para que as pessoas entrem e vejam, mas para que venham e falem, e principalmente, para que a gente aprenda a escutar. Porque escutar, essa palavra que escolhemos com tanto cuidado, é diferente de simplesmente ouvir”, explica o diretor de Acervos do MCG, professor de História e pesquisador de história oral Robson Laverdi. “Vivemos num mundo de sons contínuos, de notificações, de vozes que se sobrepõem sem que a gente realmente preste atenção. Escutar é parar. É criar um silêncio interno para que a voz do outro ressoe. É reconhecer que aquela pessoa à nossa frente carrega uma história que merece tempo, respeito, presença”.

O Museu Escuta nasce de uma inquietação profunda sobre o que guardamos e o que deixamos escapar quando falamos de memória, destaca o professor Robson. “Quando convidamos alguém para uma entrevista pública, para uma roda de memória, estamos dizendo: sua vida importa, sua memória tem valor, o que você viveu, sentiu, aprendeu merece estar aqui, neste espaço que é de todos nós”.

De casa

Na primeira sessão, um convidado mais que especial, que é “prata da casa”: o servidor Renoaldo Kaczmarech, responsável pela reserva técnica do MCG. Na entrevista guiada pelos professores Robson Laverdi e Ilton Cesar Martins e pelo acadêmico de Licenciatura em História Gabriel Oliveira Sota dos Santos, Renoaldo falou sobre a infância, a trajetória escolar e acadêmica, a formação profissional e a escolha pela Biologia, os caminhos que o levaram até a UEPG, o Museu Campos Gerais e à construção de um rico acervo pessoal de itens da história romana.

Renoaldo é servidor da UEPG há mais de três décadas, além de egresso do curso de Ciências Biológicas. Logo após sua formação, atuou no Herbário da UEPG, onde trabalhou com preservação, catalogação e conservação de coleções. Depois, foi para o MCG, onde zela pela reserva técnica com o mesmo cuidado e organização que dedicava às plantas. Além de organizar as coleções materiais do museu, Renoaldo auxilia na montagem de exposições e atividades do MCG.

“Há mais de trinta anos ele trabalha na reserva técnica do museu, cuidando do acervo, organizando objetos, preservando histórias materiais. Ele conhece cada peça, sabe de onde veio, como chegou ali, o que significa”, conta Laverdi. “Trouxemos ele para o centro do palco, para a luz pública, não apenas para registrar o que ele sabe, embora isso seja importante, especialmente pensando em sua futura aposentadoria, mas principalmente para honrar uma trajetória, para dizer à Universidade, aos estudantes, à comunidade: este homem importa, seu trabalho tem dignidade, sua vida construiu parte do que somos”.

Na segunda sessão, o Museu escutou Anderson Pedroso, embaixador do carnaval de Ponta Grossa. “Ele carrega nas memórias décadas de folia, de alegria popular, de resistência cultural. O carnaval que ele viveu e ajudou a construir não está nos livros didáticos, mas está vivo nas ruas, nos corpos que dançam, nas músicas que ainda ecoam”, relata o professor Robson. “Trazer o Anderson para o museu é dizer que a cultura popular merece o mesmo respeito, o mesmo espaço institucional que qualquer outra forma de conhecimento”. Essa sessão foi mediada por Merylin Ricieli dos Santos, Robson Laverdi, Gabriel Oliveira Sota dos Santos, Maria Luiza Assunção Corrêa e Nick Chleski e abordou o samba, o Carnaval e as formas de resistência negra na cidade.

Memórias da medicina no Paraná

A terceira sessão marcou o início de uma parceria especial com a Associação Médica de Ponta Grossa. O MCG recebeu os médicos Irving Justus, Marli Techy, Elizabeth Bacila e César Busato para falar sobre suas trajetórias, memórias, pertencimento e relações. A mediação ficou a cargo do diretor do MCG, Niltonci Batista Chaves, e do médico Antônio Klug, da AMPG.

“É uma instituição quase secular em Ponta Grossa, e que representa um segmento muito expressivo, não só na vida profissional, mas também na vida acadêmica e política de Ponta Grossa”, conta o professor Niltonci, sobre a Associação. “Foi um evento extremamente marcante pela sensibilidade, pelas histórias que foram contadas, que nos remetem às situações que todos vivemos, quando procuramos um médico, procuramos um hospital, enfim”.

“Essa aproximação entre a Associação Médica e o Museu Campos Gerais da UEPG é, sem dúvida, um marco estratégico e histórico para Ponta Grossa. Ela materializa o entendimento de que a medicina vai muito além da técnica; ela é feita de memória, de humanidade e de serviço”, comemora o médico e professor Mário Rodrigues Montemor Netto, presidente da AMPG. Segundo ele, a roda de conversa foi um sucesso absoluto justamente porque reuniu memórias desse lado humano da medicina. “Poder ouvir os pioneiros – doutores Cesar, Irving, Marli e Elizabeth – não foi apenas um resgate nostálgico, mas uma verdadeira aula sobre a ética e a ‘alma’ da prática médica local. Aquele momento de escuta revelou o lado humano por trás do jaleco, as lutas e a construção coletiva que moldaram a saúde da nossa cidade e que, muitas vezes, passam despercebidas”.

A parceria não para por aí. Uma exposição sobre a primeira médica do Paraná, Maria Falce de Macedo, e conversas sobre a digitalização dos acervos da AMPG assinalam possibilidades de mais atividades em conjunto. “Agora, essa parceria ganha ainda mais corpo. Com a chegada da exposição sobre Maria Falce e a iniciativa fundamental de digitalização dos acervos, estamos garantindo que essa história não fique guardada em gavetas, mas que esteja acessível e viva. Ao cuidarmos da nossa memória com tanto carinho, fortalecemos a identidade da nossa classe e inspiramos as novas gerações. É, de fato, o passado servindo de alicerce sólido para o nosso futuro”, garante Montemor.

Pioneira Maria Falce

A noite de conversas sobre a medicina em Ponta Grossa também foi marcada pela abertura da exposição “Maria Falce (de Macedo): pioneira e protagonista”, do Museu da Medicina do Paraná. Além de médicas e médicos da região, reitoria da UEPG e comunidade, a abertura contou com a presença do bisneto de Maria Falce, Diogo Falce de Macedo. É a primeira itinerância da mostra, que tem como curadora a professora Camila Silveira, da Universidade Federal do Paraná. No MCG, a montagem ficou a cargo da equipe do museu, em parceria com alunos do Bacharelado em História da UEPG.

Falce foi a primeira mulher formada em Medicina no Paraná, em 1920, e a primeira mulher a alcançar o cargo de professora catedrática no país, ministrando a disciplina de Química Orgânica para os cursos de Medicina e Farmácia da UFPR. Apesar de atuar principalmente em Curitiba durante sua carreira, teve uma passagem breve pela Santa Casa de Ponta Grossa na década de 1930.

A curadora Camila Silveira explica que a exposição nasceu de um incômodo e da relação com o projeto “Meninas e Mulheres nas Ciências”. “Eu fui ficando de certa maneira incomodada com o fato da gente ter uma mulher tão pioneira, tão importante, tão protagonista, e não ter um grande destaque a ela. A partir daí, em 2022, teve início um processo de pesquisa histórica que levantou documentos, materiais, informações, entrevistas com familiares… “A gente procurou criar uma narrativa sobre Maria Falce que pudesse nos sinalizar como ela tinha sido em termos de personalidade profissional, uma personalidade pública, no campo da família e das relações mais íntimas, e também ter uma narrativa que pudesse estar alicerçada numa perspectiva do pioneirismo e do seu protagonismo no campo da medicina, da educação, da educação superior, ela como empreendedora, ela como cientista”, explica.

No Museu da História da Medicina da Santa Casa, a exposição ficou em cartaz por três anos, e agora segue para uma itinerância que inicia em Ponta Grossa. A parceria com o Museu Campos Gerais permite expandir o alcance da narrativa de Maria Falce. Camila conta que “a gente já vinha há algum tempo costurando a ideia de levar a exposição para Ponta Grossa, e isso é muito importante porque inicia um processo de interiorização”. Para ela, ampliar o acesso ao legado da cientista é fundamental. “Queremos que mais pessoas tenham a oportunidade de conhecer a Maria Falce, uma liderança feminina muito importante no estado do Paraná”.

“A exposição conta com todo o material original: as carteiras profissionais da Maria Falce, suas teses, documentos, relatórios, convites de homenagens e fotografias”, detalha a curadora. Esse acervo cobre décadas de atuação pioneira. “É um acervo bastante rico, com documentos dos anos 1910, 1920 e 1930, que revelam seu trabalho como professora, médica, cientista e chefe de laboratório”, acrescenta. “A população de Ponta Grossa e as demais pessoas visitantes do Museu Campos Gerais terão a oportunidade de conhecer e assim se tornarem mais próximas dessa grande mulher, dessa grande pioneira e protagonista que foi a Maria Falce”.

3ª Micromostra da Reserva Técnica

O MCG inaugurou ainda a 3ª Micromostra da Reserva Técnica, que traz à tona objetos do acervo do museu relacionados a três eixos temáticos: “München Fest: Identidade, Memória e Cultura”, “A Música em Ponta Grossa: o papel da Banda Lyra dos Campos” e “Entre Fios e Fé: a Imigração Ucraniana e a Preservação da Identidade”.

A exposição foi organizada por acadêmicos de História da UEPG, sob a coordenação dos professores Ilton Cesar Martins, que também é diretor de Ações Educativas do Museu, e José Adil. A atividade, que faz parte das disciplinas de Práticas Extensionistas, envolve a concepção, escolha de objetos, pesquisa, expografia e narrativa – tudo fruto do trabalho dos estudantes dos três primeiros anos do curso.

Texto: Aline Jasper | Fotos da sessão com Renoaldo e das exposições: Aline Jasper | Fotos da sessão com a Associação Médica: Bianca Ferreira de Paiva

Leia na íntegra a entrevista com o professor Robson Laverdi, diretor de Acervos do Museu Campos Gerais e referência em história oral, sobre o Museu Escuta:

O que é o Museu Escuta e de onde surgiu essa ideia?

O Museu Escuta nasce de uma inquietação profunda sobre o que guardamos e o que deixamos escapar quando falamos de memória. Depois de três décadas percorrendo a o Brasil inteiro e outros países, conversando com pessoas, registrando histórias orais, comecei a perceber algo que me incomodava: os museus guardam objetos, documentos, coisas que já foram escritas, catalogadas, reconhecidas. Mas e as vozes? E as histórias que nunca chegaram ao papel, que vivem apenas na lembrança de quem as viveu?

Quando assumi a direção de acervos do Museu Campos Gerais, vi uma oportunidade de transformar esse espaço em algo diferente. O museu é um lugar simbólico, carregado de significado para a cidade, para a região. E eu pensava: por que não fazer desse lugar um ponto de encontro entre o que foi e o que está sendo? Entre a memória institucional e as memórias vivas que circulam pelas ruas, pelos bairros, pelas comunidades?

O Museu Escuta surgiu dessa vontade de abrir as portas não apenas para que as pessoas entrem e vejam, mas para que venham e falem, e principalmente, para que a gente aprenda a escutar. Porque escutar, essa palavra que escolhemos com tanto cuidado, é diferente de simplesmente ouvir. Vivemos num mundo de sons contínuos, de notificações, de vozes que se sobrepõem sem que a gente realmente preste atenção. Escutar é parar. É criar um silêncio interno para que a voz do outro ressoe. É reconhecer que aquela pessoa à nossa frente carrega uma história que merece tempo, respeito, presença.

A escuta é um gesto ético, quase um ritual. Quando convidamos alguém para uma entrevista pública, para uma roda de memória, estamos dizendo: sua vida importa, sua memória tem valor, o que você viveu, sentiu, aprendeu merece estar aqui, neste espaço que é de todos nós. É sobre tirar do scroll infinito das redes sociais, desse tempo acelerado e fragmentado, e criar um momento de encontro real, de presença, onde as gerações possam se olhar nos olhos e compartilhar o que sabem.

Como funciona o projeto e quem participa?

As histórias que o Museu Escuta busca são aquelas que vivem nas bordas, nas margens do que costumamos chamar de história oficial. São as memórias de quem dedicou a vida a um trabalho silencioso, de quem construiu cultura popular longe dos holofotes, de quem manteve vivas tradições que nenhum documento registrou.

Pense no Renoaldo Kaczmarech, por exemplo. Há mais de trinta anos ele trabalha na reserva técnica do museu, cuidando do acervo, organizando objetos, preservando histórias materiais. Ele conhece cada peça, sabe de onde veio, como chegou ali, o que significa. Mas quem conhece o Renoaldo? Quem ouviu sua história? Trouxemos ele para o centro do palco, para a luz pública, não apenas para registrar o que ele sabe, embora isso seja importante, especialmente pensando em sua futura aposentadoria, mas principalmente para honrar uma trajetória, para dizer à universidade, aos estudantes, à comunidade: este homem importa, seu trabalho tem dignidade, sua vida construiu parte do que somos.

Ou pense no Anderson Pedroso, embaixador do carnaval de Ponta Grossa. Ele carrega nas memórias décadas de folia, de alegria popular, de resistência cultural. O carnaval que ele viveu e ajudou a construir não está nos livros didáticos, mas está vivo nas ruas, nos corpos que dançam, nas músicas que ainda ecoam. Trazer o Anderson para o museu é dizer que a cultura popular merece o mesmo respeito, o mesmo espaço institucional que qualquer outra forma de conhecimento.

Essas entrevistas públicas, essas rodas de memória são encontros. Não são apenas coletas de dados, não são extrações de informação. São momentos em que algo se cria no espaço entre quem fala e quem escuta. Os estudantes que participam, alguns ainda no primeiro ano da graduação, aprendem algo que nenhum livro ensina: aprendem a estar diante de outra pessoa com humildade, com curiosidade genuína, com respeito. Aprendem que fazer uma boa pergunta às vezes é mais importante que ter uma resposta pronta. Aprendem a lidar com silêncios, com emoções, com memórias que doem.

E tem algo mais sutil acontecendo: estamos dizendo que o museu não é um mausoléu, não é um depósito de coisas mortas. O museu é, ou deveria ser, um organismo vivo, que respira com a cidade, que pulsa com as memórias de quem o habita. Quando o público vem assistir essas entrevistas, quando participa das rodas de memória, o museu deixa de ser aquele lugar solene e distante e se torna um ponto de encontro, um espaço onde a memória está sendo tecida agora, no presente, com todos nós.

Não estamos impondo narrativas. Estamos construindo junto. A universidade não dita mais a história de cima para baixo. Ela se senta à mesa com a comunidade e pergunta: o que você tem para nos contar? O que nós não sabemos e precisamos aprender? Isso é coprodução de conhecimento. É reconhecer que o saber não mora apenas nos diplomas e nos livros, mas também na experiência vivida, na memória guardada, na sabedoria que vem de ter atravessado o tempo.

Por que isso é importante e qual o futuro do projeto?

Há uma injustiça antiga na forma como contamos a história. Algumas vozes sempre tiveram microfone, amplificação, registro. Outras foram sistematicamente silenciadas, apagadas, esquecidas. Quando a gente olha para os arquivos tradicionais, para as coleções dos museus, percebe rapidamente quem está lá e quem não está. Percebe que classe social, raça, gênero, orientação sexual, profissão determinaram durante séculos quem merecia ser lembrado e quem podia ser esquecido.

O Museu Escuta é uma tentativa modesta, mas sincera, de começar a corrigir isso. É dizer: nós vamos registrar, vamos preservar, vamos dar espaço institucional para vozes que historicamente foram marginalizadas. E vamos fazer isso não como um favor, não como caridade, mas como reconhecimento de uma dívida histórica e como afirmação de que essas histórias sempre foram importantes. Só não estavam sendo ouvidas.

Isso se conecta com um movimento maior que está acontecendo no Brasil e no mundo, que chamamos de história pública. A ideia é simples, mas revolucionária: a história não é propriedade dos historiadores. A história pertence a todo mundo. E as instituições públicas, os museus, as universidades, os arquivos, têm a responsabilidade de democratizar não apenas o acesso ao conhecimento, mas a própria produção desse conhecimento. É sobre construir pontes, não muros. É sobre descer da torre de marfim e caminhar lado a lado com a comunidade.

Um museu público só faz sentido se for efetivamente público. Não apenas no sentido de que qualquer um pode entrar, mas no sentido de que qualquer um pode participar, pode contribuir, pode se reconhecer ali. Quando uma pessoa comum entra no museu e vê alguém como ela sendo entrevistado, sendo ouvido, sendo valorizado, algo muda. Essa pessoa passa a se ver como parte da história, não apenas como espectadora passiva.

O projeto continua em 2026, e vai continuar porque esse trabalho não tem fim. Memória não é algo que você coleta uma vez e pronto, está preservado para sempre. Memória é viva, é processo, é construção que nunca termina. A cada mês teremos novas entrevistas, novas rodas de memória, novos encontros. Porque sempre haverá mais histórias para ouvir, sempre haverá pessoas cujas vidas merecem ser testemunhadas, reconhecidas, celebradas.

No fundo, o Museu Escuta é sobre algo muito simples e ao mesmo tempo muito profundo: é sobre parar. Parar o ritmo frenético da vida contemporânea, parar o scroll infinito, parar a pressa, e criar um espaço onde possamos genuinamente nos encontrar. É sobre reaprender uma coisa que estamos perdendo: a capacidade de estar presente para o outro, de reconhecer que cada pessoa que passa por nós carrega um universo de experiências, de dores, de alegrias, de sabedoria.

É sobre honrar quem veio antes. É sobre aprender com as gerações que nos precederam. É sobre construir uma memória coletiva mais justa, mais plural, mais humana. E é sobre fazer tudo isso num espaço público, porque acreditamos que a memória, assim como a história, não pode ser privatizada. Ela é um bem comum, um patrimônio que pertence a todos nós e que só tem sentido quando é compartilhado.

O Museu Escuta é, no final das contas, um convite. Um convite para parar e escutar. Para reconhecer o valor de cada história. Para construir juntos uma memória que nos inclua a todos. Para fazer do museu não um templo de coisas antigas, mas uma casa viva, onde o passado e o presente se encontram, conversam, e juntos imaginam futuros possíveis.


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