Uma experiência de ensino internacional na pós-graduação: a parceria entre a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e a Universidade del Valle, de Cali, na Colômbia, rendeu uma atividade em formato Coil (collaborative online international learning) durante a disciplina de Desenvolvimento Rural e Agroindustrial do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais Aplicadas da UEPG (PPGCSA) e do PPG em Economia da Univalle.
De acordo com a professora Mirna de Lima Medeiros, responsável pela disciplina no PPGCSA, o Coil foi desenvolvido em conjunto com a professora Nadja Simone Menezes Nery, da Univalle. “Nós tínhamos alunos de mestrado e doutorado aqui do Brasil e alunos de pós-graduação e graduação de lá, totalizando mais de 30 alunos”, explicou. Segundo ela, o formato trouxe desafios e aprendizados. “Foi desafiador por várias razões, entre as quais destaco a língua, a diferença de calendário e acontecimentos institucionais, e também o fuso horário. Por outro lado, foi muito bacana ver os alunos interagindo e se adaptando para superar as dificuldades, construir trabalho e aprender um sobre o outro e sobre os países envolvidos. Tivemos alunos do Brasil, da Colômbia e também de Guiné-Bissau”, contou.
A professora destacou ainda o engajamento dos participantes. “Os alunos foram super participativos e interessados, e isso deixou as discussões muito ricas. Por algumas vezes acabamos inclusive passando do horário”, relatou. Ela acrescentou que o Coil integra um convênio firmado com apoio do Escritório de Relações Internacionais (ERI) da UEPG. “Inicialmente foi feito para desenvolver uma pesquisa e entendemos que poderíamos ampliar as ações. Esperamos desenvolver algumas publicações conjuntas e temos outro projeto de pesquisa em andamento com financiamento da Fundação Araucária. Estamos planejando um evento lá e possivelmente haverá uma nova edição do Coil em 2027”.
Para Mirna, a internacionalização promovida pela iniciativa amplia horizontes. “A internacionalização, nesse caso sul-sul, permite ver problemas semelhantes e soluções diversas; abre os olhos dos envolvidos e enriquece sua atuação profissional, pessoal e de pesquisas”. A professora agradeceu o apoio dos programas de pós-graduação e escritórios de internacionalização das duas universidades, e também da professora Jacy Sousa, do curso de enfermagem da UEPG, que compartilhou suas experiências com o Coil.
Para a professora Nadja Simone Menezes Nery, da Universidad del Valle, a experiência também foi inédita e marcante. “Foi uma atividade bastante importante, sobretudo pela questão da internacionalização. Apesar de já haver uma iniciativa muito recente com respeito a esse Coil, foi a primeira vez que uma disciplina se levou nesse formato. Então foi uma experiência muito valiosa”, avaliou. Nadja observou que o idioma foi um dos principais desafios. “Os alunos ficaram um pouco receosos, principalmente com a questão da linguagem, de ser outro idioma. Eles tinham muito receio no começo. Apesar de a gente falar devagar e pedir para os colegas do Brasil falarem mais pausado, mais bem pronunciado, eu também servia como interlocutora. Em algumas situações eu traduzia para eles, e como a professora Mirna também domina o espanhol, ela também tinha esse cuidado”.
A docente ressaltou que o aprendizado foi não apenas acadêmico, mas também cultural. “Organizamos a disciplina com um espaço para que os alunos se apresentassem, falassem de seus hobbies. Também relacionamos a disciplina com aspectos culturais: por exemplo, falei de alguma lenda que existe no campo, no Brasil e na Colômbia”. A integração entre os grupos foi um dos pontos altos, com atividades em grupos formados por estudantes de ambos os países. “No final, eles gostaram da dinâmica e aprenderam bastante, puderam perceber também as realidades distintas que a gente tem no campo colombiano e no campo brasileiro, além das semelhanças como países latino-americanos”, explicou.
Nadja também destacou a presença de convidados internacionais. “Nesse Coil, trouxemos professores que eram especialistas no tema para conversar com eles”, lembra. “Contamos com a presença do professor Gasola, da UTFPR, referência na questão da agricultura familiar, e do professor Paulo Mourão, da Universidade do Minho, em Portugal, chefe do Departamento de Economia e referência nessa área”.
Entre os alunos participantes, a doutoranda em Ciências Aplicadas pela UEPG Gabriela Covalchuk destacou o impacto positivo da experiência. “A participação na disciplina em parceria com a Universidad del Valle foi uma experiência profundamente enriquecedora, tanto no campo acadêmico quanto pessoal. Descobri novas formas de compreender a pesquisa e as práticas sociais, observando como diferentes contextos culturais e institucionais moldam o modo de pensar e agir sobre o desenvolvimento”, relatou. Para ela, o diálogo com colegas de outros países ampliou a visão sobre o tema. “Ao lado dos estudantes colombianos, refinei minha percepção sobre o que ainda precisa ser ajustado entre as nossas realidades, fortalecendo esse processo de retroalimentação do conhecimento que torna as ações mais eficazes e contextualizadas”.
“Enquanto dialogava, daqui do Brasil, sobre pesquisa e prática, fui positivamente surpreendida pela profundidade das discussões e pela generosidade intelectual das pessoas que conheci, especialmente das professoras, que me inspiraram a repensar as práticas do desenvolvimento rural e agroindustrial no país”. Encerrando o doutorado, a estudante destacou a transformação que o Coil proporcionou em sua trajetória. “Foram muitos aprendizados que, pouco a pouco, vêm se incorporando não apenas ao meu trabalho de doutorado, mas também à minha forma de perceber o mundo acadêmico e social, uma perspectiva mais sensorial, que busca ver as coisas em movimento, sentir os processos e compreender suas dinâmicas concretas. Sigo entusiasmada e curiosa pelas perspectivas que ainda serão construídas e aprofundadas ao longo da pós-graduação”.
Texto: Aline Jasper | Foto: Gabriel Miguel