



“O Museu Campos Gerais é o mais antigo do interior do Estado e o museu universitário mais antigo do Paraná. Nós chegamos aos 75 anos como um museu dinâmico, que integra ensino, pesquisa, extensão, inovação tecnológica e atividades culturais”, comemora o diretor do MCG, professor Niltonci Batista Chaves. O historiador destaca como fatores essenciais para o sucesso atual da instituição, que a credenciam como o principal museu do interior do Paraná: a estrutura, a integração com o Programa de Pós-Graduação em História (PPGH), a criação do Laboratório Multiusuário de Humanidades Digitais e Inovação (Lamuhdi) e a articulação com outros museus e centros de documentação, por meio de redes.
O reitor, professor Miguel Sanches Neto, reforça que o MCG está alinhado à vocação da UEPG de valorizar e integrar diferentes áreas do conhecimento. “Dentro de sua missão de agregar as principais iniciativas da área de ensino, cultura, comunicação e esporte, a UEPG incorporou o Museu Campos Gerais à sua estrutura e hoje, totalmente ressignificado, ele se tornou um centro cultural e de pós-graduação e pesquisa, ampliando sua abrangência. Assim, de forma agregadora, estamos construindo a mais sólida instituição pública dos Campos Gerais”.


O Museu Campos Gerais recebeu, ainda, duas moções de aplauso na última quinta-feira (11) na Câmara de Vereadores de Ponta Grossa: a primeira, dirigida ao diretor do MCG e extensiva a todos os professores, acadêmicos, servidores e colaboradores da instituição pelos 75 anos; e a segunda reconhece a conquista de prêmio nacional no 8º Fórum Permanente de Museus Universitários (Edson Armando Silva, Renê Wagner Ramos, Claudia Rejane Schavarinski Almeida Santos, Jacira Aparecida de Campos Ramos, Leandro Batista de Almeida, Luis Augusto Koenig Veiga , Alex Soria Medina, Niltonci Batista Chaves, Robson Laverdi, Marcella Scoczynski Ribeiro Martins, Cloter Migliorini Filho e Julia Graciela Machado).


Era 1948 e um grupo de homens da elite ponta-grossense se organizava no Centro Cultural Euclides da Cunha (CCEC) para discutir a necessidade de preservar a cultura e a identidade regional, bem como debater conceitos em voga na época, como o nacionalismo, indianismo e liberalismo. Eram professores, juristas, artistas, músicos, comerciantes, jornalistas, etnógrafos, engenheiros, médicos, radialistas, historiadores, escritores, geógrafos, políticos, padres e militares. O objetivo era criar uma faculdade – que foi autorizada alguns anos depois, mas eles iniciaram com a criação de um museu, espaço que era visto como local de disseminação da ciência, conhecimento histórico, cultura e erudição. Os acervos começaram a ser organizados em 1948 e o Museu Campos Gerais iniciou oficialmente as atividades em 15 de setembro de 1950 – data simbólica escolhida por ser aniversário da cidade de Ponta Grossa.
O MCG nasce como um espaço científico: já no anúncio de sua inauguração no jornal literário Tapejara, do CCEC, em 3 de setembro de 1950, há uma descrição de seus primeiros departamentos. “O Centro Cultural ‘Euclides da Cunha’, como é do conhecimento de todos, inaugurará, dentro de poucos dias, o Museu dos Campos Gerais, que é uma das dependências da preciosa entidade. Constará o mesmo de três departamentos, antropológicos, geológico e entomológico, respectivamente dirigidos pelos senhores Dr Faris Antonio S. Michaele, Frederico Waldemar Lange e Felippe Justus”. A primeira concepção do museu é justamente essa, voltada à história natural e à pesquisa científica.
“Foi o primeiro museu privado, o primeiro museu público, o primeiro museu municipal, o primeiro museu estadual e o primeiro museu universitário da cidade”, conta o historiador Giuvane de Souza Klüppel, que pesquisou a trajetória do Museu Campos Gerais. Entre 1957 e 1965, a instituição esteve sob administração do governo municipal. Em 1965, o museu passa a ser administrado pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (Fafi), uma das faculdades precursoras da UEPG. Quando um decreto estadual cria a Universidade Estadual de Ponta Grossa, em 1969, o Museu Campos Gerais chega à gestão em que permaneceu pelas mais de cinco décadas restantes.
Uma sede para chamar de nossa




Em 2024, o Museu volta à sua sede, depois da maior obra de restauro da história de Ponta Grossa. Ela também contemplou adequações de acessibilidade e a construção de um novo e moderno prédio aos fundos do Fórum, onde estão a reserva técnica, áreas administrativas e laboratório de conservação. Além disso, o MCG segue ocupando a sede do Banestado, com os acervos documentais disponíveis para consulta dos pesquisadores, o Laboratório Multiusuário de Humanidades Digitais e Inovação (Lamuhdi) e o PPGH.


“Muitas vezes olhávamos para os museus como casas que refletiam somente o passado pelo passado. Na verdade, o museu é uma porta para o futuro”, resume o historiador Renê Wagner Ramos, coordenador da Rede Estadual de Museus, Centros de Memórias, Documentação e Acervos Universitários do Paraná (Remup) e articulador do Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação (Napi) Conectando Memória e Inovação. “Nós não fazemos museus para o passado, fazemos pensando nos netos, nos bisnetos, para que eles tenham a mesma possibilidade de observar e aprender algo novo com aquele objeto que está no acervo”.
O Lahmudi, laboratório multiusuário situado no MCG, é o ponto central do Napi Conectando Memória e Inovação, uma parceria que reúne 15 museus universitários em nove universidades do Paraná, para viabilizar a digitalização de acervos e a construção de espaços virtuais de memória. “Nós acreditamos profundamente que os museus são capazes de serem inovadores, produtores de conhecimento tecnológico, como está acontecendo hoje”, aponta Renê. “Estamos mostrando que é possível, nos museus universitários do Paraná, criar tecnologias e inovações que vão permitir o surgimento de novas pesquisas e novos conhecimentos que vão ajudar a sociedade”.


É como espaço de reflexão sobre o impacto da digitalização na produção do conhecimento histórico e, também, como um espaço de desenvolvimento de tecnologias para preservar e disponibilizar acervos, que surge o Laboratório Multiusuário de Humanidades Digitais e Inovação. “O Lamuhdi faz parte de um movimento da UEPG de assumir protagonismo científico, deixando de ser um espaço periférico para ocupar o centro da produção”, posiciona o professor Edson. A partir de um robusto investimento da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti) e da criação da Remup e do Napi, se articulou uma rede de compartilhamento de conhecimento que tem como base a tecnologia produzida ali, nos salões da sede Banestado do MCG.
Com equipamentos de ponta e, principalmente, a pesquisa do uso de inteligência artificial na gestão dos acervos digitalizados, o Lahmudi tem despontado como um dos laboratórios mais inovadores do país na área. “O que nós fazemos é acompanhar as consequências da informatização e da inteligência artificial e oferecer essas tecnologias para museus e acervos do Paraná, que muitas vezes carecem de recursos”, complementa o coordenador. “Não se trata de tecnologia pela tecnologia, mas de dar visibilidade a documentos e fontes históricas que estariam perdidas se não fossem disponibilizadas”.
Museu-escola
“O Museu e a Universidade estão conectados por nascimento”, resumiu o professor Edson. O mesmo grupo de pessoas que se organizou para criar o centro de memória também fundou a Universidade. Por isso, o MCG nasce com uma concepção científica. Hoje, com a integração com o Programa de Pós-graduação em História, ele segue como um espaço de produção de ciência.


É uma relação mutuamente positiva, para o MCG e para o programa de pós-graduação. “Essa parceria garante que o museu sempre terá uma orientação crítica, inclusiva, voltada à comunidade, não apenas um espaço expositivo”, avalia Cerri. Além disso, a integração fortalece ainda a formação dos pós-graduandos, que saem com outro olhar, não apenas acadêmico, mas conectado com a sociedade. “A integração programa–museu permite construir esse caminho, em que ciência e história ajudam a pensar a cidade, a região e o país de forma crítica e projetual”.
“O Museu Campos Gerais é também um museu-escola, porque forma pessoas”, destaca o diretor-geral, Niltonci Batista Chaves. Com mais de duas dezenas de estudantes e recém-formados atuando no cotidiano das exposições, pesquisas, acervos, laboratório e projetos, o espaço cumpre ainda mais um papel de formação prática – e ao mesmo tempo, crítica.


As grandes caixas de madeira abrigam borboletas, besouros, mariposas, gafanhotos, aranhas, libélulas… Mais de três mil insetos e animais variados de todo o mundo. É impossível não se encantar com a diversidade de formatos, tamanhos, espécies, e com o cuidado do colecionador Felipe Justus, um entomólogo autodidata que reuniu uma coleção que impressiona gerações. Junto com objetos de cultura material indígena (doada por Faris Michaele) e artefatos líticos (reunidos por Frederico Lange), os insetários fizeram parte das primeiras exposições do Museu Campos Gerais.
“Se você retira o insetário da exposição, a primeira pergunta dos visitantes que vêm aqui é: ‘Cadê o insetário? Por que que vocês tiraram?’ E a gente traz ele de volta”, ri o diretor de Ações Educativas do MCG, Ilton Cesar Martins. “Não dá para expor tudo ao mesmo tempo. Se escolhemos 20 ou 30 objetos, conseguimos trabalhar cada um com profundidade, criar narrativa e renovar o interesse do público. Quando mudamos a exposição, incentivamos o visitante a voltar e a trazer familiares ou amigos”.


Há 75 anos, as caixas de insetos preservadas com eficácia e ciência encantam e educam muitas pessoas. Mas poucas tinham o olhar emocionado de orgulho que Adriane dedicou ao legado de seu antepassado. “Com certeza Felipe Justus foi um homem à frente do seu tempo e sinto orgulho do patrimônio deixado por ele. Fico muito feliz e grata ao saber que o Museu Campos Gerais conservou com tanta responsabilidade e carinho o trabalho realizado por ele”.


Todo esse acervo, além de parcerias com outras instituições, permite renovar as exposições para mantê-las em constante atualização. “O Museu é plural: pode abrigar, por exemplo, uma exposição sobre meninas negras e também sobre maçonaria. O que não pode é ser de uma nota só”, destaca Niltonci.
O processo para criar uma exposição é criterioso e passa por pesquisas cuidadosas e a adaptação da narrativa para diferentes públicos, sejam estes crianças, adolescentes, adultos interessados no assunto ou visitantes curiosos, como explica o professor Ilton. “O dinamismo do museu passa por esse entendimento: ao mesmo tempo que dispõe segundo suas próprias convenções e pelas próprias concepções de museu que a gente tem, ele também precisa expor de acordo com os grandes debates sociais que estão postos e, ao mesmo tempo, pensando nos diferentes públicos”.
Desde a reabertura do prédio histórico do MCG ao público, em junho de 2024, as exposições vêm batendo recordes de visitação. Hoje, são mais de mil visitantes por mês. Estão em exposição “Cotidiano e vida militar em Roma”, “Mostra Insetário Felipe Justus”, “Africanidades em Máscaras”, “2ª Micro mostra da Reserva Técnica” e “Era uma vez… Brinquedos” e “Desnuda”, uma exposição inédita com obras de Adalice Araújo, com curadoria de Orlando de Azevedo.
As visitações individuais dispensam agendamento. Para visitas de grupos e com mediação, a atividade deve ser combinada pelo e-mail museucamposgerais@uepg.br. O horário de atendimento é de terça-feira a sábado, das 9h às 11h45 e das 13h30 às 17h.
Texto: Aline Jasper | Fotos: Aline Jasper, Arquivo Museu Campos Gerais, Gabriel Miguel, Jessica Natal.




































