

Um retorno para onde tudo começou. O Festival Universitário da Canção (FUC), da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), resgatou a memória e manteve a tradição de revelar talentos da música popular brasileira, na noite do último sábado, 14 de junho, no Grande Auditório do Campus Centro da UEPG.
As estrelas: doze músicos e grupos competidores, vindos de todo o Paraná, para conquistar a plateia e os jurados. E com a diversidade, o palco foi tomado por uma variedade de estilos musicais. Os artistas disputavam os troféus de primeiro, segundo e terceiro lugar, nos valores de seis, quatro e três mil reais, respectivamente; melhor letra e melhor interpretação, ambas valendo dois mil reais. Os mais de 380 espectadores do Festival também puderam eleger seu favorito na categoria Júri Popular, com prêmio no valor de dois mil reais.
Do início ao fim, a 37ª edição do FUC foi marcada pelo resgate da memória do Festival e da música popular brasileira em toda a sua diversidade. O público foi recebido com cores e sons na entrada da Universidade, com uma exposição de fuscas e canções tocadas pelos músicos do projeto Nossa Canção, com um repertório de clássicos da MPB. A vencedora do 36º FUC, Lorinezz, abriu o evento ao cantar a canção que deu à sua mãe, Cecília Terezinha Ribeiro, o prêmio de melhor intérprete em 1983: ‘Ontem, hoje, amanhã’, composta por José Ruiter Cordeiro. O encerramento ficou a cargo do grupo Viola Quebrada, de Curitiba.
Com o Grande Auditório decorado e a plateia cheia, o Festival trouxe a festa para dentro da Universidade. “Com certeza é uma alegria muito grande voltar a este palco tão importante para a história da UEPG, que viveu momentos muitos importantes para cultura e a política. Foi feito um trabalho muito cuidadoso para resgatar a história do FUC com uma nova roupagem”, celebra o reitor em exercício da UEPG, professor Ivo Mottin Demiate, que destaca o trabalho dos diferentes órgãos da instituição para o funcionamento do FUC: “uma grande noite para um grande festival!”.
O retorno às origens do FUC não se resume ao retorno ao seu primeiro palco, mas sim ao resgate de uma essência que permeia o evento desde 1980, quando foi criado pelo movimento estudantil da UEPG, em meio à censura da ditadura militar. O diretor de Assuntos Culturais da UEPG, professor Nelson Silva Júnior, ressalta que o 37º FUC homenageia a própria história, música brasileira e a cultura de Ponta Grossa. “O FUC segue se reinventando a cada edição, o que é muito importante para um festival que está próximo de completar quatro décadas de atuação”, comemora.
Com apresentação dos jornalistas Ana Cláudia Gambasi e Victor “Guajiro” Salmazo e embalados nas batidas de DJ Johnny Freitas, os doze competidores subiram ao palco: Ultraleve, com “Recomeçar; Chave de Mandril, com “Du Pará ao Paraná”; Talcide e Juliano, com “Dói demais”; Crazy Sunshine, com “Em cada palco um renascer”; Eulimo, com “Nas esquinas”; Duda Vaz, com “Uma linda mulher”; Stanley e banda Rugas, com “Renascer”; Lorinezz, com “A dor que eu carrego”; Claudio Farias, com “Rancho da Espera”; Silvana Innami, com “Gargalhei, gargalhei”; Ugo, com “Ar condicionado”; e Mauro Cury, com “Amores Líquidos”.
Após a apresentação das doze canções competidoras e enquanto os jurados escolhiam as vencedoras, a banda curitibana Viola Quebrada trouxe um Brasil rural ao palco, com a apresentação de um repertório composto por canções do imaginário popular e que homenageiam a cultura caipira. O grupo, com mais de duas décadas de trajetória, é formado por Margareth Makiolke e Oswaldo Rios, Rogério Gulin, Rubens Pires, Sandro Guaraná e Marcão Saldanha. “É sempre interessante participar de um evento como o FUC porque temos contato com novos artistas e trabalhos, bem criativos, por sinal, da cena musical paranaense. E para nós é importante trazer nosso trabalho a uma plateia diferente, difundindo canções antigas e uma forma diferente de fazer música”, destaca Oswaldo, vocalista do grupo.
Conhecendo os campeões
Ao final do show, veio o anúncio com os vencedores dos seis prêmios do FUC. Neste ano, quem se destacou foram os veteranos do Festival, naturais de Ponta Grossa e de diferentes cidades do Estado. Embalado pela brasilidade da banda Chave de Mandril, o público elegeu a mistura de ritmos do Sul e do Norte da canção “Du Pará ao Paraná”- composição de Rômulo André e Rafael Gadeia, na categoria Júri Popular. Eleita com os votos de um quarto da plateia, Chave de Mandril levou para casa o prêmio de dois mil reais.
Uma declaração de amor composta há 40 anos foi a vencedora do terceiro lugar no Festival- “Rancho da Espera”, de Cláudio Farias. “O FUC é um marco na minha trajetória de compositor, é o festival que mais participei nesses anos. A premiação marca um período de recomeço e me traz um sentimento de paz. Voltar ao FUC e retomar meus projetos musicais é, com certeza, a maior e mais importante conquista”, celebra o cantor de Foz do Iguaçu, que dedicou a composição à sua esposa.
“De lavar a alma”, define emocionado o rapper Stanley, intérprete e compositor da canção “Renascer”. Com uma apresentação que homenageia a contribuição do movimento hip-hop para a a cultura, Stanley e Banda Rugas conquistaram os prêmios de segundo lugar e Melhor Letra, “uma verdadeira revolução”, nas palavras do artistas. “Estou muito emocionado, não apenas por mim, mas por toda essa galera que fez o trabalho acontecer e deu apoio na caminhada”.
O grande prêmio da noite foi para a composição que denuncia o sofrimento e a violência contra a comunidade trans e a sua luta pela sobrevivência. Com uma apresentação emocionante, Eulimo se consagrou como o grande vencedor do 37º FUC, com a canção “Nas Esquinas”; o campeão também levou, pelo segundo ano consecutivo, o prêmio de melhor intérprete. “Eu escrevi a canção pensando no FUC, com base nas vivências de amigos e amigas trans, que vivem à margem da sociedade. Eu desci do palco com o sentimento de dever cumprido”. Após anos se apresentando no Festival, o artista, natural de Telêmaco Borba, celebra a vitória, conquistada com muito esforço e perseverança.
O corpo de jurados foi composto por Rogéria Holtz, Luís Fernando Diog e Julia Dádiva Klüber, que utilizaram seu amplo conhecimento em produção musical e experiência na participação em festivais para tomar o veredito e e definir os grandes vencedores da noite. “É uma missão muito séria, pois trabalhamos com a obra e os sonhos desses artistas, lembrando da capacidade de cada um”, explica Luís Fernando. Para Julia Klüber, o papel de jurado é de aprendizado e conhecimento sobre o que é produzido na cidade. “Apesar da complexidade da missão, em um momento complexo para o mundo, é muito prazeroso ajudar a difundir a arte”, exalta Rogéria Holtz.
Um festival além do palco
Para tornar o 37º FUC possível, foram mobilizados vários servidores da UEPG e membros da comunidade local, para tornar mais rica a experiência do evento. A Coordenadoria de Comunicação da UEPG (Ccom) propôs uma identidade visual integrada para a cenografia, os troféus e a divulgação, levando em conta a temática da economia criativa gerada a partir do trabalho de artesãs locais do projeto Palha de Ponta, da Casa do Artesão de Ponta Grossa. A estética dos prêmios e da decoração é inspirada no artesanato em palha de milho, patrimônio imaterial de Ponta Grossa.
As artesãs do projeto confeccionaram os troféus, com base no projeto da artista Adriana Suarez, professora do Departamento de Artes Visuais da UEPG. Seguindo por essa linha, a cenografia do palco foi planejada pela chefe de Cultura e Arte da Proex- UEPG, Patrícia Camera, também professora de Artes Visuais, e confeccionada pelos estudantes do curso. A exposição de fuscas que enfeitou a fachada da UEPG foi planejada por Cezar Vavá de Castro e Rafael de Quadros, pelos servidores da UEPG e “fusqueiros” apaixonados.
A organização do 37º também buscou promover a educação musical, tanto para artistas profissionais quanto para jovens talentos. Na oficina “Compondo Oralidades”, a artista Janine Mathias apresentou sua trajetória por diferentes estilos, em um passeio pela história da MPB. “Foi um bom momento para a troca de experiências e pelo exercício de ser compositora. Este é meu quarto ano participando do FUC e sempre saio daqui revigorada, sabendo que temos artistas tão potentes em nossa cidade e nosso estado”, exalta Mathias. No segundo semestre, a professora Suelen Galdino, ministrará oficina musical para trinta alunos do Colégio Estadual Becker e Silva.
O 37º Festival Universitário da Canção teve patrocínio do Sicredi e Belgotex do Brasil por meio da Lei de Incentivo a Eventos Geradores de Fluxo Turístico, da Secretaria Municipal de Turismo – Prefeitura de Ponta Grossa. O evento é realizado pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), por meio da Pró-reitoria de Extensão e Assuntos Culturais (Proex); e Núcleo de Cultura da FAUEPG, com incentivo do Ministério da Cultura, por meio da Política Nacional Aldir Blanc – Cultura Viva. Produção: Estratégia Projetos Criativos. Promoção: RPC.
Texto: Gabriel Miguel, com apoio de Vitor Carvalho (TVE UEPG) | Fotos: Fábio Ansolin, Gabriel Miguel e João Pimentel